1984 ou Admirável Mundo Novo - Blog A CRÍTICA

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sábado, 4 de fevereiro de 2017

1984 ou Admirável Mundo Novo

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Mantenhamos o nosso olhar sobre 1984Quando o ano chegou e a profecia não se cumpriu, americanos pensantes cantavam suavemente em louvor a si mesmos. As raízes da democracia liberal tinham se sustentado. Onde quer que o terror tivesse acontecido, nós, pelo menos, não havíamos sido visitados por pesadelos orwellianos.
Mas nós tínhamos esquecido que, ao lado da visão sombria de Orwell, houve outra, um pouco mais velha, um pouco menos conhecida, igualmente arrepiante: de Aldous Huxley Admirável Mundo NovoContrariamente à crença comum, mesmo entre os educados, Huxley e Orwell não profetizaram a mesma coisa. Orwell adverte que seremos superados por uma opressão imposta externamente. Mas na visão de Huxley, nenhum Grande Irmão é obrigado a privar as pessoas de sua autonomia, maturidade e história. Como ele viu, as pessoas vão vir a amar a sua opressão, para adorar as tecnologias que desfazem suas capacidades de pensar.
O que Orwell temia eram aqueles que iriam proibir livros. O que Huxley temia era que não haveria motivo para proibir um livro, pois não haveria ninguém que quisesse ler um. Orwell temia aqueles que nos privariam de informações. Huxley temia aqueles que nos dariam tanto que seríamos reduzidos à passividade e ao egoísmo. Orwell temia que a verdade estivesse escondida de nós. Huxley temia que a verdade fosse afogada num mar de irrelevância. Orwell temia que nos tornássemos uma cultura cativa. Huxley temia que nos tornássemos uma cultura trivial, preocupada com algum equivalente dos feelies, da orgia porgy e do bumblepuppy centrífugo. Como observou Huxley em Admirável mundo novo revisitado, os defensores das liberdades civis e racionalistas que estão sempre em estado de alerta para se opor a tirania "não levaram em conta o apetite quase infinito do homem por distrações." Em 1984, acrescenta Huxley, as pessoas são controladas infligindo-se dor. Em Admirável Mundo Novo, elas são controladas infligindo-lhes prazer. Em resumo, Orwell temia que o que odiamos nos arruinaria.
Huxley temeu que o que amamos nos arruinaria. Este livro trata da possibilidade de Huxley, e não Orwell, ter razão.
Este é um trecho de Neil Postman Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in the Age of Show Business.

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