Favela: o único problema do Brasil - Blog A CRÍTICA

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sábado, 18 de fevereiro de 2017

Favela: o único problema do Brasil

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O alto da Favela - Naquele ponto este morro lendário é um vale. Subindo-se tem-se a impressão imprevista de se chegar numa baixada. Parece que se desceu. Toda a fadiga da ascensão difícil se volve em penoso desapontamento ao viajor exausto. Constringe-se o olhar repelido por toda a sorte de acidentes. Ao contrário de uma linha de cumeadas, depara-se, no prolongamento do caminho do Rosário, um talvegue, um sulco extenso, espécie de calha desmedida trancada, transcorridos trezentos metros, pela barragem de um cerro. Atingindo este, vêem-se-lhe aos lados, esbotenando-lhes os flancos e corroendo-os, fundos rasgões de enxurros que drainam a montanha. Por um deles, o da direita, se enfia, entalando-se em passagem estreita de rampas vivas e altas, quase verticais, lembrando restos de antigos túneis, aquele caminho, descendo, em desnivelamentos fortes. À esquerda outra depressão, terminando na encosta suave de um morro, o do Mário, se dilata na extensão maior de norte a sul, fechando-se, naquele primeiro rumo, ante outro cerro, que oculta o povoado e tomba, de chofre, pelo outro, em boqueirão profundo até ao leito do Umburanas. À frente, em nível inferior, a fazenda Velha. O pequeno Serrote dos Pelados cai logo, em seguida, em declive, até o Vaza-Barris, embaixo. E para todos os quadrantes — para leste, buscando o vale do Macambira, aquém das cumeadas do Cocorobó e a estrada de Jeremoabo que o atravessa; para o norte, derivando para a vasta planície ondeada; para o ocidente, procurando os leitos dos pequenos rios, o Umburanas e o Mucuim perto do extremo da estrada do Cambaio; para todos os lados, o terreno descamba com o mesmo facies que lhe imprimem sucessivos cômoros empolando-se numa confusão de topos e talhados. Tem-se a imagem real de uma montanha que desmorona, avergoada pelas tormentas, escancelando-se em gargantas, que as chuvas torrenciais de ano a ano reprofundam, sem o abrigo de vegetação que lhe amorteça a crestadura dos estios e as erosões das torrentes. Porque o morro da Favela, como os demais daquele trato dos sertões, não tem nem mesmo o revestimento bárbaro da caatinga. E desnudo e áspero. Raros arbúsculos, esmirrados e sem folhas, raríssimos cereus ou bromélias esparsas, despontam-lhe no cimo sobre o chão duro, entre as junturas das placas xistosas justapostas em planos estratigráficos, nitidamente visíveis, expondo, sem o disfarce da mais tênue camada superficial, a estrutura interior do solo. Entretanto, embora desabrigado, quem o alcança pelo sul não vê logo o arraial, ao norte. Tem que descer, como vimos, em suave declive, a larga plicatura em que se arqueia, em diedro, a montanha, numa selada entre lombas paralelas.                                            
 (Euclides da Cunha - Os Sertões)


No Alto da Favela diante do Arraial de Canudos as tropas do exército brasileiro acamparam, as barracas armadas teriam servido para denominar-se os espaços de moradias precárias em voltas das cidades. Em suas palestras Ariano Suassuna exibia a cápsula de uma munição encontrada nas terras do arraial e afirmava: - "quem não entender Canudos não entende o Brasil". A Favela unifica o problema brasileiro: miséria absoluta, munição para o tráfico e a criminalidade. Canudos foi um tipo de sublevação contra a ordem instituída pela República. Tradicionalistas, saudosos da monarquia, mas os miseráveis da terra. Ausência total de bibliografia de direita sobre o tema. Monopólio da esquerda: tese da exclusão social, formações políticas de cima pra baixo, ausência da camada de baixo. Esquerda atualmente tenta exaltar a favela: multiculturalismo, politicamente correto, manifestações "artísticas". Ausência de qualquer possibilidade de solução? Administrar é urbanizar favelas? O viver no esgoto. Ausência de latrinas em São Paulo e fogo. Metralhadora na mão. 

Na Venezuela, como no Brasil, a ausência de moradias e de urbanização, é um problema gravíssimo, dois dos países mais homicidas do mundo. América Latina é a região mais homicida do planeta (8% dos homicídios da terra), favelização intensa. Do alto da favela miseráveis atingem outros miseráveis. A favela não deve ser exaltada, mas sim maneiras de extingui-las? Defesa de possíveis preconceitos, figura do favelado, ou de um espaço para negativizar a sociedade (dilema da esquerda). O Brasil só deixará de ser violento se deixar de ter favelas. Pobreza não diretamente ligada à violência. Problema moral? Pobreza historicamente mais intensa no Brasil rural, país menos violento. Pobres educados mas não instruídos, no passado; hoje nem instruídos nem educados. Mas uma parcela diminuta dos pobres são criminosos, a maioria dos favelados gostariam de deixar a favela? Em 2014 o programa Fantástico da Rede Globo fez reportagem contrária: 94% dos moradores de favela são felizes (pesquisa Data Popular). Paradigma do favelado, preconceito. Induz empecilhos. As políticas habitacionais fizeram o sucesso do regime chavista, deslizamentos de terra em 1999. Líder do MTST quer moradia ou seguidores. Moradia sem urbanização não serve.

Capoeira, vem de terrenos em volta das cidades. No Nordeste terras sem uso produtivo. A dança vem dessas regiões, precursoras das favelas. Ex-combatentes negros da guerra do Paraguai, ex-escravos pós-Lei Áurea. Nas favelas brasileiras, segundo o IBGE (2011) vivem 11.425.644 pessoas, 6% da população brasileira. Para a esquerda favela resulta de exclusão social, mas não assume seu fim, e sim uma preservação ideológica. Direita se omite, Roberto Campos falava em bolsões de miséria, aumento da renda e regularização fundiária. Estado extintor de favelas ou o mercado: os dois. As cidades crescem com renda baixíssima e falta a moradia adequada. O poder público corrompido, não democrático, interesse da maioria, não produz infraestrutura urbana. Pouca cidade pra muita gente. Favelização do interior e pequenos municípios.A facção criminosa impõe ordem para manutenção do comércio ilícito. Comércio e ordem, tranquilidade social. A doutrina nefasta do poder assassino e à bala. Culto infantil por armas, os meninos entre os últimos prisioneiros de Canudos.

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