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quinta-feira, 13 de abril de 2017

Rússia-EUA – Do mal, o menos

Depois de uma semana de acusações e ameaças - veladas e nem tanto - de parte a parte, Rússia e Estados Unidos parecem ter concordado numa plataforma mínima de entendimento para não deixar deteriorar mais ainda as relações, hoje ao seu nível mais baixo desde a Guerra Fria.

por Carlos Fino

Depois de uma semana de acusações e ameaças - veladas e nem tanto - de parte a parte, Rússia e Estados Unidos parecem ter concordado numa plataforma mínima de entendimento para não deixar deteriorar mais ainda as relações, hoje ao seu nível mais baixo desde a Guerra Fria.

São muitos os pontos de conflito que permanecem. Enquanto os EUA se arrogam o direito de intervir e usar a força sempre que necessário, mesmo à margem das Nações Unidas, a Rússia insiste numa visão mais tradicional do direito internacional, em que os Estados permanecem os núcleos centrais da soberania, só ultrapassáveis por decisão conjunta aprovada no quadro da ONU.

A essa luz, Moscou teria legitimidade para estar militarmente na Síria por ter sido chamada pelo governo estabelecido, enquanto a presença americana seria destituída de legitimidade.

Uma visão que os americanos naturalmente contestam, invocando para isso a moralidade e os altos princípios que os moveriam – a defesa da democracia e dos direitos humanos, ambos violados pelo governo de Damasco.

Esta é uma diferença fundamental que não vai certamente desaparecer a curto prazo.

Também no terreno mais concreto dos objetivos imediatos, Rússia e Estados Unidos continuam com prioridades diferentes.

Enquanto para os russos o fundamental é combater o Estado Islâmico, sendo por isso realista apoiar o governo de Assad, talvez a principal força – juntamente com os curdos – que se opõe no terreno aos fundamentalistas islâmicos, para os americanos o ideal seria combater os dois.

Nesta questão, parece ter havido alguma concessão dos EUA. Washington, ainda que a contragosto, e dizendo sempre que não haverá lugar para Assad no futuro da Síria, admite agora que primeiro haverá que derrotar o Estado Islâmico. Moscou, por seu turno, concede que "não dá um cheque em branco total a Assad" e poderá até, mais à frente, considerar o seu afastamento no contexto das futuras negociações com vista a pôr termo à guerra civil...

Outra diferença importante que permanece em aberto é a da suposta ingerência da Rússia nas eleições americanas.

O secretário de Estado Rex Tillerson (contrariando a própria narrativa de Trump, que até há pouco considerava isso "fake news"), insistiu que este "é um tema da maior seriedade" que, a confirmar-se, poderá dar origem a mais sanções contra Moscovo...

A Rússia responde que não lhe foram até agora apresentadas quaisquer provas dessa ingerência, reservando-se o direito de reagir quando e onde isso vier a acontecer.

Tudo somado, as relações permanecem tensas, mas houve pelo menos o reconhecimento mútuo de que as coisas não poderão continuar tal como estão, devendo portanto ser feitos alguns esforços de parte a parte para se obter alguma melhoria e evitar o perigo que decorre para cada um dos lados do facto de ambos serem potências nucleares.

Para já, resolveram retomar os contatos a nível militar para evitar choques não pretendidos no teatro de operações da Síria e enquanto isso, a esquadra punitiva que estava a caminho da Coreia - segundo Tillerson - interrompeu a manobra e navega agora pacificamente algures no Pacífico.

É pouco? Sim, mas ao ponto a que as coisas chegaram, já é alguma coisa. O mundo agradece e para já respira de alívio. Do mal, o menos...

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