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sexta-feira, 22 de junho de 2018

Inovação deve ser contínua, afirmam especialistas

Simpósio na Unicamp, com exemplos internacionais de ecossistemas que apoiam a inovação e o desenvolvimento econômico, destaca também a importância da colaboração em pesquisa (foto: divulgação)
Maria Fernanda Ziegler  |  Agência FAPESP – 
O termo armadilha da renda média foi cunhado na literatura econômica nos anos 2000 para designar aqueles países que, após superarem a renda baixa, apresentavam um crescimento econômico insuficiente para dar o próximo salto. Entre os dilemas para cair nessa armadilha estariam questões relacionadas à elevação do nível de educação e o seu consequente aumento de produtividade.
De acordo com o Banco Mundial, entre os países que superaram a renda baixa nas últimas décadas, apenas Japão, Coreia do Sul, Cingapura, Israel, Ilhas Maurício, Taiwan e Hong Kong (região administrativa da China) contornaram a armadilha, mas, atualmente, a continuidade desse crescimento econômico está relacionada com a inovação.
“Prefiro usar o termo midle inovation trap [‘armadilha da inovação média’] no lugar de middle income trap [‘armadilha da renda média’]. A segunda é apenas o resultado da primeira”, disse Jeong-Dong Lee, diretor do Programa de Gestão da Tecnologia, Economia e Política na Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul, durante a conferência internacional Innovation Systems, Strategies and Policy (InSySPo), realizada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nos dias 6 e 7 de junho.
O evento reuniu pesquisadores do Brasil, Américas, Europa e Ásia e foi coordenado por Nicholas Vonortas, professor de Economia e Assuntos Internacionais da George Washington University, no âmbito do projeto “Sistemas de inovação, estratégias e políticas”, conduzido na Unicamp com apoio da FAPESP por meio da modalidade São Paulo Excellence Chair (SPEC).
Jeong-Dong defendeu em sua apresentação a teoria dos saltos e armadilhas, em que até mesmo países que contornaram a armadilha da renda média correm o risco de estagnar e sofrer limitações se não desenvolverem capacidade de inovação que vá além do bom desempenho e da boa performance operacional.
Para outro participante do evento, Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial, o problema agora é outro.
“Esses países têm apresentado uma capacidade fantástica de adaptar processos produtivos e de serem criativos com produtividade e altíssimo nível de incorporação de conhecimento na produção. Porém, a capacidade de criar o novo produto, de criar novas indústrias, eles não têm”, disse o autor do livro Brasil e Coreia do Sul: os (des)caminhos da industrialização tardia.
Para Vonortas, é difícil comparar os dois países – por estarem em estágios econômicos distintos e serem de tamanhos muito diferentes –, mas o Brasil pode tirar lições importantes do que está ocorrendo com a Coreia do Sul.
“Tendemos a imaginar que eles resolveram o problema, pois superaram etapas importantes. Porém, eles olham para o outro lado do mar e ficam assustados em ver que correm o risco de ficar mais parecidos com o Japão, que está no mesmo patamar há 20 anos e parece não sair do lugar”, disse.
Para Vonortas, no Brasil a inovação está concentrada em algumas regiões. “Existem poucos lugares que subiram degraus, como o Estado de São Paulo. Mas ainda assim o Brasil está em um período interessante. Há uma economia dupla com boas empresas e boas universidades trabalhando juntas. E uma nova onda de pequenas empresas nascendo a partir das universidades”, disse. Segundo ele, é preciso ampliar a conexão entre as regiões onde a inovação está concentrada com o resto do país.
Fluxos transnacionais
Um estudo realizado por Eduardo Albuquerque, pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mapeou o crescimento das colaborações em patentes e artigos científicos.
O trabalho mostrou que o Brasil manteve colaboração científica com 171 nações no ano de 2015. A produção de artigos escritos em colaboração com autores de outros países mais do que dobrou, passando de 10% do total em 2000 para 21% em 2015.
“Isso configura um ativo para o Brasil. Existem evidências de um sistema internacional inovador em rede, que supera os limites de um país. Este novo contexto global significa desafios e oportunidades para economias emergentes. Para superar a armadilha da renda média, a entrada em novos setores pode ser o processo-chave, o que depende de novas empresas e da diversificação de empresas existentes”, disse Albuquerque.
Franco Malerba, professor de Economia Aplicada na Universidade Bocconi, em Milão (Itália), destacou que não existe uma única receita para se criar um ecossistema de alto impacto em inovação.
Catch up [‘alavancagem econômica’] é um deles, e não significa clonagem. É um processo dinâmico e que invariavelmente diverge daqueles usados por países que serviram como benchmarks. Cada economia emergente fez de modo diferente porque os países seguem diferentes trajetórias de avanços tecnológicos e de processos” disse.
Outra variável importante para a diversificação é identificar os pontos fortes de cada região e, em vez fortalecê-los ainda mais, buscar trabalhar outras áreas.
Para Ron Boschma, professor de Economia Regional nas universidades de Utrecht (Países Baixos) e Stavanger (Noruega), antes de desenhar qualquer modelo é preciso identificar os pontos fortes de cada economia para diversificá-la espacialmente por meio de parcerias.
Em um estudo recente realizado na Suécia, Boschma identificou que a ascensão e a queda de indústrias estão fortemente ligadas à relação da indústria no nível regional.
“Uma boa forma de entender os movimentos das regiões está nas conexões dos movimentos de capacidades que a região tem e como as possibilidades de diversificação dependem muito do aprendizado anterior”, disse. 

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