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quarta-feira, 3 de abril de 2019

A Austrália cresce há 30 anos e tem o 3º IDH, grande contraste com o Brasil

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A Austrália e o Brasil são dois países continentais, mas com grandes contrastes demográficos e econômicos. A Austrália tem um território de 7,7 milhões de km2 e apresentava uma população de 25 milhões de habitantes em 2018. O Brasil tem um território de 8,6 milhões de km2 e uma população de 208 milhões de habitantes em 2018. A densidade demográfica da Austrália é de apenas 3,2 hab/km2 e do Brasil de 25,2 hab/km2.
Em termos econômicos, a Austrália tem cerca de 30 anos de crescimento relativamente alto e contínuo do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o Brasil apresentou 5 anos de recessão e um crescimento baixo do PIB, entre 1990 e 2020, segundo dados do FMI. O gráfico abaixo mostra que a Austrália só vivenciou uma recessão (moderada) em 1991. Na média, a Austrália cresceu a 3,1% ao ano durante 30 anos, enquanto o Brasil cresceu em média apenas 2,3% ao ano, no mesmo período.

variação anual do PIB da Austrália e do Brasil

Em termos de renda per capita o contraste é ainda maior. O gráfico abaixo mostra que o Brasil é um país de renda per capita média e que apresentou um crescimento pequeno entre 1990 e 2010 e uma estagnação entre 2010 e 2020. Já a Austrália já era um país de renda alta em 1990 e manteve o crescimento nos 30 anos seguintes.
A renda per capita da Austrália era de US$ 29,1 mil (em poder de paridade de troca – ppp na sigla em inglês) em 1990 e passou para US$ 46,5 mil em 2018, devendo chegar a US$ 47,8 mil em 2020. No Brasil, a renda per capita era de US$ 10,5 mil em 1990, passou para US$ 14,4 mil em 2018 e deve chegar a US$ 14,9 mil em 2020. A Austrália tinha uma renda per capita 2,7 vezes a Brasileira em 1990 e deve acançar 3,2 vezes em 2020. O Brasil ficou mais pobre, relativamente, quando comparado com a Austrália no espaço de três décadas.

renda per capita da Austrália e do Brasil

A Austrália parece desmentir a máxima que diz que as recessões periódicas são inevitáveis, semelhante ao sol que nasce e se põe, ou como as marés num indo e vindo infinito. Em geral a economia se expande por cerca de uma década e depois se contrai. Mas no maior país da Oceania, a atual expansão do país está chegando próximo ao aniversário de 30 anos e tem sido a expansão mais longa da história moderna, levando alguns comentaristas a falar em “economia milagrosa”.
Na verdade a Austrália contou com estabilidade econômico-política, localização geográfica e com políticas públicas capazes de enfrentar os ciclos econômicos como a crise asiática do final da década de 1990 e a grande recessão mundial gerada a partir da quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.
A primeira característica é que a Austrália sempre teve inflação baixa e não passou por uma situação de endividamento das famílias e nem crise séria do setor imobiliário (suprime). Combateu corretamente as recessões com políticas fiscais e monetárias adequadas. Apesar de ter uma população pequena e taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição, o país se abriu à imigração e mais de um quarto dos australianos nasceram no exterior, o dobro da taxa nos Estados Unidos ou na França. A Austrália também se beneficiou de estar em uma região geográfica de rápido desenvolvimento, próximo ao Vietnã, Indonésia, Filipinas e especialmente da China. O comércio entre a China e a Austrália aumentou dez vezes nos anos 2000, além de contar com investimentos chineses de alto vulto. Por fim, a Austrália investiu muito em educação e saúde e possui o 3º maior IDH do mundo (0,939 em 2017).
Já o Brasil optou por enfrentar a crise de 2008/09 com políticas de estímulo fiscal expansionistas sem criar as bases de sustentação da dívida e sem garantir investimentos adequados em termos de custo/benefício. Tendo baixas taxas de poupança e investimento, o Brasil não conseguiu incrementar a produtividade dos fatores de produção e gerou um desequilíbrio fiscal que só se agravou com a mais profunda e longa recessão da história tupiniquim (2014-2016).
O Brasil vive a sua segunda década perdida e está preso na armadilha da renda média. Tudo indica que a distância entre a Austrália e o Brasil vai aumentar ainda mais nas próximas décadas.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 01/04/2019

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