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sexta-feira, 17 de julho de 2015

O crescimento demoeconômico da África, degradação do solo e insegurança alimentar

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
declínio da produtividade dos solos africanos

A África é o continente que apresenta as maiores taxas de pobreza e de pessoas passando fome no mundo. Mesmo apresentando crescimento econômico acima da média mundial nos últimos 15 anos, a produção per capita de alimentos ficou abaixo de outras regiões do mundo. O mais grave é que o futuro pode estar comprometido em decorrência da degradação ambiental, da perda de biodiversidade e dos danos às terras aráveis e à produção de comida.
A grave situação da África é retratada no relatório “No ordinary matter: conserving, restoring and enhancing Africa’s soils” (2014), que mostra que o continente sofre com uma tripla ameaça: a) degradação do solo; b) colheitas fracas e c) uma população crescendo em ritmo acelerado. A publicação do relatório ocorre em função do Ano Internacional dos Solos (2015), estabelecido pelas Nações Unidas (ONU).
O relatório diz que a estabilidade política, a qualidade ambiental, a fome, a pobreza têm a mesma raiz e, no longo prazo, uma solução fundamental, passa pela restauração do mais básico de todos os recursos, o solo. A recomendação básica é que os governos africanos e os doadores internacionais invistem na gestão da terra e do solo, criando incentivos sobre os direitos à terra seguras para incentivar o cuidado ea gestão adequada dos terrenos agrícolas. Além disso, o relatório recomenda aumentar o apoio financeiro para investimento na gestão sustentável da terra.
De acordo com dados da FAO, a pressão humana deixou um terço de todos os solos voltados à produção de alimentos, degradadas em todo o mundo. Sem novas abordagens para melhor gerir a saúde do solo, a quantidade de terra arável e produtivo disponível por pessoa em 2050 será um quarto do nível que era em 1960.
Os países pobres da África estão em uma armadilha, pois os pequenos agricultores geralmente não têm os recursos para investir na conservação do solo e da água. Antes de agricultores receberam treinamento sobre os métodos de manejo do solo, eles aplicaram fertilizantes, por exemplo, sem ter seus solos testados. O acesso limitado a recursos financeiros faz com que esses agricultores não utilizem as melhores práticas de gestão de solos, o que levaria a ganhos de longo prazo.
De acordo com o relatório, estima-se que 180 milhões de pessoas na África Subsariana são afetados pela degradação do solo, que custa cerca de 68 bilhões de dólares em perdas econômicas, como resultado de solos danificados. A saúde do solo é fundamental para aumentar a produtividade da agricultura da África, que é uma importante fonte de emprego e geração de renda.
Relatório da Divisão de população da ONU mostra que a África vai ser a região com o maior crescimento populacional no período 2015 a 2030. Enquanto o mundo deve passar de 7,3 bilhões de habitantes em 2015 para 8,4 bilhões em 2030 (crescimento de 15%) a África vai passar de 1,17 bilhão de habitantes para 1,6 bilhão no mesmo período (crescimento de 40%). Cerca da metade do acréscimo populacional mundial no próximo quindênio virá da África, enquanto haverá decrescimento na Europa. A população africana corresponde a 15,9% da população mundial em 2015 e vai passar para 19,4% em 2030.
Assim, enquanto cresce a população – especialmente onde a fecundidade é alta e existe grande número de gravidez indesejada – diminui a fertilidade do solo. Diversos dados mostram que o aquecimento global terá um impacto negativo sobre o solo e as terras férteis, com consequências devastadoras para a segurança alimentar. De acordo com o relatório “Mudanças Climáticas e Segurança em África”, o continente deve esperar um aumento da temperatura que será maior do que a média global. A precipitação anual deverá diminuir durante a maior parte da região, com a possível exceção da África oriental. Menos chuva vai ter sérias implicações para a agricultura subsaariana.

população por regiões

Desde 1991, uma área maior do que os Estados Unidos e Canadá foi perdida para a erosão do solo na África e não mostra sinais de reversão. Florestas nativas e vegetação silvestre estão sendo desmatadas e convertidas em terras agrícolas em uma taxa maior do que qualquer outro período da história. A vida selvagem sofre mais do que nunca. A pressão das atividades antrópicas sobre os ecossistemas não é apenas da África.
O relatório do PNUMA intitulado “Coerência das Políticas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Uma Perspectiva dos Recursos Naturais” (07/07/2015), mostra que até 2009 extraíam-se anualmente, em termos globais, 68 bilhões de toneladas de recursos comparados aos 7 bilhões em 1900. A extração anual de matéria em todo o mundo aumentou oito vezes durante o século XX. A pressão sobre o conjunto dos recursos bióticos também tem aumentado. Mais de 20% das terras cultivadas, 30% das florestas e 10% das pastagens estão sendo degradadas a uma taxa que debilita a capacidade de ecossistemas críticos se renovarem. Até 25% da produção mundial de alimentos pode ser perdida até 2050 devido às alterações climáticas, a degradação dos solos, escassez de água e outras questões e, mesmo assim, continuamos desperdiçando um terço dos alimentos produzidos a cada ano.
Continuar neste caminho de aumento das demandas antrópicas com redução da biocapacidade dos solos e dos ecossistemas é seguir o rumo da fome, da miséria e do colapso social e ambiental.
Referências:
No ordinary matter: conserving, restoring and enhancing Africa’s soils (2014)


Informe del Secretario General. Integración de las cuestiones de población en el desarrollo sostenible, incluso en la agenda para el desarrollo después de 2015, ONU, abril 2015http://www.un.org/en/development/desa/population/commission/pdf/48/sg_report/ECN920153_ES.pdf
PNUMA. Principal desafio das novas metas da ONU será tirar 1 bilhão de pessoas da extrema pobreza, 07/07/2015


UNEP, Policy Coherence of the Sustainable Development Goals: A Natural Resource Perspective, United Nations Environment Programme, July 2015



José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 17/07/2015

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