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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Pobreza extrema global estimada em menos de 10% em 2015


Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

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O estudo “Ending Extreme Poverty and Sharing Prosperity: Progress and Policies” divulgado pelo Banco Mundial, em outubro de 2015, estima que o número de pessoas vivendo na pobreza extrema deve cair para 9,6% da população global, pela primeira vez abaixo dos 10%. O estudo considera extremamente pobres as pessoas com renda inferior a US$ 1,90 por dia, em paridade de poder de compra (ppp). Há que considerar que o estudo não é posição oficial do Banco Mundial, mas foi divulgado como Texto de Discussão, mesmo porque ainda não existem dados definitivos para o ano de 2015.
Realmente, os dados apresentados no estudo, se forem de fato observados em 2015, são auspiciosos. O número de pobres no mundo em 1990 era de quase 2 bilhões (1,958 bi), representando uma taxa de pobreza de 37,1%, mas caiu para 987 milhões (14,2%) em 2011. Ou seja, a redução da pobreza extrema foi de mais de 50% entre 1990 e 2011, alcançando os objetivos de desenvolvimento do milênio (ODM).
Mas o estudo em questão é ainda mais otimista nas projeções para 2015, pois estima um número de pessoas extremamente pobres de 702 milhões e uma taxa de pobreza extrema de 9,6%. A previsão de uma taxa de pobreza extrema de somente um dígito e uma queda tão espetacular em 25 anos (de 37,1% para 9,6%), dá esperança de que a pobreza extrema pode ser erradicada até 2030, como propõe os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Porém, o próprio estudo considera que a queda da pobreza foi ajudada pela aceleração da economia internacional durante o ciclo do boom das commodities e pelo grande crescimento da China, mas será extraordinariamente difícil manter as conquistas em um período de crescimento global mais lento, mercados financeiros voláteis, alto desemprego entre jovens e o impacto do aquecimento global.
O estudo também mostra que o declínio da pobreza foi diferenciado por regiões. No Leste asiático e o Pacífico (que tem forte presença da China) a extrema pobreza caiu de 60,8% em 1990 para 7,2% em 2012, podendo cair ainda mais para 4,1% em 2015. Na América Latina e Caribe (ALC) a queda foi de 17,7% para 6,2% entre 1990 e 2012, podendo ficar em 5,6% em 2015. A região mais atrasada na redução da pobreza é a África Subsaariana que tinha 50,6% de pessoas na extrema pobreza em 1990, caiu para 42,6% em 2012 e pode ficar com 35,2% em 2015.

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No mundo em desenvolvimento a taxa de pobreza extrema caiu de 44,3% em 1990, caiu para 15% em 2012 e deve ficar em 11,9% em 2015. Para tanto ajudou a dinâmica demográfica, pois a taxa de fecundidade total (TFT) no mundo era de 3,5 filhos por mulher no quinquênio 1985-90 e caiu para 2,5 filho no quinquênio 2010-15, segundo a Divisão de População da ONU. A queda da fecundidade abre uma janela de oportunidade que auxilia na redução da pobreza. O caso da China é claro como uma rápida queda da fecundidade ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza. Já no caso da África Subsaariana a fecundidade caiu em ritmo muito lento e uma pirâmide com grande quantidade de crianças dificulta a saída da armadilha da pobreza.
O estudo divulgado pelo Banco Mundial é muito otimista e claramente visa injetar ânimo neste momento de passagem dos ODM para os ODS. Contudo, há outros estudos que mostram que a pobreza já voltou a crescer a partir de 2014, especialmente na ALC (como veremos em outro artigo). O desafio mundial para o próximo quindênio (2015-2030) vai ser reduzir a pobreza em um quadro de menor dinamismo do mercado de trabalho, sem aumentar a degradação ambiental e em um quadro de maiores dificuldades financeiras dos países ditos emergentes.


Referência:

CRUZ, Marcio, FOSTER, James, QUILLIN, Bryce, SCHELLEKENS, Philip. Ending Extreme Poverty and Sharing Prosperity: Progress and Policies, Policy Research Notes, PRN/15/03, oct 2015




José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 11/11/2015

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