O Domingo de Ramos e a Inutilidade da Idolatria das Massas - Blog A CRÍTICA

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domingo, 24 de março de 2024

O Domingo de Ramos e a Inutilidade da Idolatria das Massas

Jesus chega nos braços da multidão em Jerusalém, os mesmos que lhe veneram naquele momento pediriam sua morte poucos dias depois. Por que ser querido pelas multidões não significa nada mais do que uma falsa sensação de fama vulgar?

Entrada de Cristo em Jerusalém. Pietro Lorenzetti. 1320


Jesus não queria, logicamente, o respeito da multidão, ele veio para semear a guerra: — "Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada" (Mateus: 10: 34-39). A espada de Cristo não era de metal, era a espada do verbo, da palavra. 


A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde as multidões o aclamaram com fervor, oferece uma profunda reflexão sobre a natureza efêmera da popularidade e a verdadeira influência. Embora as massas tenham manifestado seu apoio fervoroso naquele momento, essa mesma multidão acabaria clamando por sua crucificação poucos dias depois. Esse episódio ilustra vividamente como a adulação das massas pode ser volúvel e superficial, desprovida de uma verdadeira compreensão ou comprometimento com os princípios que uma pessoa representa.


Jesus não buscava a popularidade superficial; sua mensagem transcendia a busca por aplausos momentâneos. Ele falava sobre verdades profundas e confrontava as injustiças, mesmo que isso levasse à divisão e ao conflito. Sua declaração de que não veio trazer paz, mas a espada, não se referia a um conflito físico, mas sim à divisão que sua mensagem traria entre aqueles que a aceitavam e aqueles que a rejeitavam.


A verdadeira influência de uma pessoa não pode ser medida apenas pela popularidade passageira, mas sim pela autenticidade de seus princípios e pela transformação que eles inspiram nas vidas das pessoas. Admirar alguém é uma coisa, mas seguir seus ensinamentos e princípios é outra completamente diferente. A busca pela verdadeira relevância não está na adulação das massas, mas sim na coerência com os princípios que se defende e no impacto duradouro que se tem sobre o mundo.


Argumentos sob Viés Filosófico: A Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém


A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, descrita nos quatro evangelhos canônicos, oferece uma rica oportunidade para reflexão filosófica sobre a natureza da popularidade, a influência autêntica e a busca pela verdade:


1. A Volubilidade da Popularidade:

  • Perspectiva Sociológica: A entrada de Jesus representa o ápice de sua popularidade, mas logo se transforma em clamor por sua crucificação. Essa volubilidade demonstra a natureza fugaz da opinião pública, facilmente influenciada por emoções e eventos momentâneos. (Durkheim, Le Bon)
  • Perspectiva Existencialista: A multidão busca em Jesus a solução para suas angústias, mas logo o abandona quando seus interesses individuais são ameaçados. Essa inconstância revela a fragilidade da identidade individual e a busca constante por significado externo. (Sartre, Camus)

2. A Busca pela Verdade versus Aclamação Popular:

  • Perspectiva Socrática: Jesus busca a verdade através do diálogo e da reflexão crítica, mesmo que isso o leve à impopularidade. Sua postura contrasta com a busca cega por aplausos e reconhecimento. (Sócrates, Platão)
  • Perspectiva Kantiana: Jesus age de acordo com o imperativo categórico, guiado por princípios universais de justiça e amor, mesmo que isso o coloque em conflito com as autoridades e a opinião pública. (Kant)

3. Influência Autêntica versus Adoração Superficial:

  • Perspectiva Nietszchiana: A verdadeira influência reside na capacidade de criar valores próprios e desafiar os valores herdados da massa. Jesus, ao questionar as normas sociais e religiosas de sua época, exemplifica essa postura. (Nietzsche)
  • Perspectiva Foucaultiana: Jesus subverte as relações de poder existentes ao desafiar a autoridade religiosa e política. Sua mensagem inspira a transformação individual e social, indo além da mera obediência. (Foucault)

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