O Clima e o Desenvolvimento - Blog A CRÍTICA

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domingo, 25 de maio de 2025

O Clima e o Desenvolvimento



No notável livro A Riqueza e a Pobreza das Nações, o historiador David S. Landes propõe uma provocação que há muito inquieta os estudiosos da economia: o clima quente, segundo ele, é um entrave ao desenvolvimento. Nenhum país de clima tórrido teria alcançado, por si só, os altos níveis de riqueza e bem-estar típicos das nações frias.


Mas eis que surge a exceção luminosa da Califórnia, o estado mais quente — e um dos mais ricos — dos Estados Unidos. Um contraponto que nos convida a refletir sobre os limites das generalizações. O clima, sim, pode pesar, mas nunca é destino absoluto.


No Brasil, o Nordeste encarna essa complexidade de forma exemplar. É a região historicamente mais quente e também a mais pobre. O semiárido, com sua paisagem esturricada e chuvas incertas, moldou não apenas a economia, mas a cultura, o imaginário e o modo de viver do seu povo.


Este maio de 2025 vinha se arrastando sob um calor implacável. A seca parecia querer se prolongar além do razoável. Mas, nos últimos dias, algo mudou. O ar rarefeito do sertão se suavizou. O calor ardente deu lugar a uma amenidade rara, como um gesto de trégua da natureza. E esse alívio climático, ainda que passageiro, ganha aqui um valor quase poético.


É nesse intervalo entre o ardor e a brisa que surgem as festas juninas — talvez a mais autêntica expressão da alma nordestina. São festas da colheita, da sobrevivência e do encontro com o ameno. Junho chega como um bálsamo. E traz consigo o canto, a dança, o milho e o calor que, por um momento, já não queima: apenas aquece.


Porque, num sertão de extremos, até o clima sabe ser poesia:


Junho, mês da poesia


No calor que outrora ardia,

sopra agora um vento brando.

E o sertão, que resistia,

vai aos poucos se encantando.


É tempo de milho e canção,

de forró no chão batido,

de fogueira, de coração

mais leve, mais comovido.


Se o sol castiga a paisagem,

também faz crescer o grão.

E a seca, por mais selvagem,

não apaga a devoção.


Junho é mês de esperança

nascida da terra quente —

é quando a vida balança

mas segue, forte, em frente.

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