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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Precisamos de jornalistas concursados na prefeitura



Ao longa da história, a cidade interiorana brasileira tem sido comandada sob a lógica do patrimonialismo, um resquício do velho coronelismo que ainda hoje confunde o público com o privado. Em vez de se firmar como expressão da cidadania e da transparência, a comunicação pública tem sido utilizada como instrumento de propaganda dos gestores de plantão.


Em Caicó, essa realidade se repete de forma preocupante. A assessoria de imprensa da prefeitura, que deveria funcionar como um serviço de interesse coletivo, a serviço da população, muitas vezes se transforma em uma extensão do marketing pessoal do prefeito. Em lugar de jornalistas concursados, compromissados com a ética pública e protegidos da pressão política, vemos blogueiros ou comunicadores contratados informalmente, cuja função se resume a reverberar falas oficiais e silenciar críticas.


Essa prática não é apenas ineficiente — é perigosa. Ela compromete o direito à informação de qualidade e fortalece o ciclo do clientelismo político. A comunicação institucional precisa ser transparente, técnica e democrática. Não pode ser conduzida por quem depende financeiramente ou politicamente do gestor de turno.


No Rio Grande do Norte, o histórico de controle da mídia por oligarquias familiares é bem conhecido. Os "coronéis" de ontem, donos de terras, tornaram-se também donos de jornais, rádios e televisões. Controlam narrativas, elegem aliados, e abafam denúncias. A ausência de concursos públicos para cargos estratégicos de comunicação perpetua esse modelo. O mesmo vale para as prefeituras, que deveriam ser vitrines da democracia, e não palanques de autopromoção.


A criação de cargos efetivos para jornalistas na estrutura administrativa do município é uma medida urgente. Isso não apenas valoriza a profissão, mas garante que a informação institucional circule com responsabilidade, sem depender da vontade ou do humor de quem ocupa o gabinete. Um jornalista concursado não é apenas um servidor; é um guardião da transparência, alguém que responde ao interesse público, e não ao interesse pessoal de um político.


É preciso romper com a lógica do improviso, do apadrinhamento e da desinformação. Um município que se leva a sério investe em comunicação pública profissional. A imprensa da prefeitura precisa estar a serviço da sociedade, não da reeleição.


Em tempos de fake news, polarização e ataque à imprensa, Caicó — e tantas outras cidades do interior do Brasil — têm a chance de apontar um novo caminho: o da comunicação pública independente, ética e republicana. Para isso, o primeiro passo é claro: precisamos de jornalistas concursados nas prefeituras.

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