Crônica de um Império Bufão - Blog A CRÍTICA

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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Crônica de um Império Bufão



Logo entraremos, sem perceber, no segundo quartel do século que nos prometeram ser da razão. Século XXI, chamaram-no, como se os números tivessem virtude própria. Prometeram ciência, progresso, paz, harmonia universal – e eis que o mundo, crédulo, foi dar com um espetáculo digno de feira: um rei bufão, coroado não de ouro, mas de tarifas.


Chamo-o de rei, mas o título lhe cai estreito; prefere ser imperador, embora seu cetro seja uma tabela de impostos, e sua coroa, uma algazarra de discursos. O Império que o sustenta – a poderosa república do Norte – há mais de cem anos manda na Terra por meio da economia e da força. Tinha de tudo: riqueza, soldados, filmes, canções, e, sobretudo, aquela autoridade silenciosa que só os fortes possuem. Mas, como o destino gosta de rir, pôs-lhe na frente um personagem que acredita que grandeza se mede em alarde, e que ameaçar os vizinhos é prova de realeza.


Não deixa de ser curioso: outrora vimos pequenos reinos fabricarem imperadores que assombraram o mundo; agora vemos um império fabricar um imperador que só assombra a si mesmo. A ordem mundial, construída com suor e arrogância por sua própria nação, é hoje sacudida por seu próprio herdeiro, que, entre uma tarifa e outra, aponta o dedo aos outros e grita: “São eles os culpados!”


O mundo, atônito, assiste. Alguns riem, outros tremem, e há quem continue a acreditar no século da razão. Eu, da minha janela, vejo apenas a velha lição repetir-se: quando os homens se convencem de que dominam a história, a história lhes mostra que também gosta de comédias.

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