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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Ataques a escolas no Brasil seguem padrão e têm vínculo com comunidades extremistas on-line

Segundo Marcela de Oliveira Nunes, uma parte considerável dos autores desses ataques está vinculada a comunidades digitais, incluindo o TikTok

O que ocorre muito são ataques direcionados a sujeitos aleatórios, desde que eles sejam do sexo feminino – Fotomontagem sobre cyberbullying com ícones Freepik – Arte: Jornal da USP


Jornal da USP - Estudo mostra que, entre 2001 e 2024, houve 49 ataques a instituições de ensino no Brasil. A pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência revela comunidades extremistas on-line – em que o ódio misógino, racista e antidemocrático é normalizado e incentivado – como agentes ativas dessas ações. Além disso, foi mapeado o padrão de comportamento: autores majoritariamente adolescentes e jovens, brancos, do sexo masculino, que planejam os ataques por semanas ou meses, inspirados por outros massacres, como o de Columbine, nos EUA. Quem explica é Marcela de Oliveira Nunes, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP e autora do artigo.


“Em parte considerável desses ataques teve o que a gente chama, na literatura especializada, de copycat crimes. Aqui, no Brasil, usam muito como referência o ataque de Columbine. Eles tentam replicar desde as roupas que fazem alusão aos autores até o uso de máscaras balaclava, símbolo neonazista, e as armas empregadas”, explica Marcela. A pesquisadora aponta que a ampla maioria são jovens do sexo masculino e que somente um caso no Brasil foi realizado por uma menina: 65% têm entre 12 e 17 anos e cerca de 30% entre 18 e 25. Grande parte havia frequentado a escola, eram ex-alunos ou tinham alguma relação com a instituição alvo: “Eles consomem conteúdo de extrema violência, que é chamada de cultura gore. É um padrão particularmente preocupante”.


Marcela explica, também, os padrões para escolha de alvos: “Quando o ataque ocorre, ele é direcionado a membros e colegas brevemente já estabelecidos. Ele tem um alvo específico, porque ele alega que sofreu bullying, ou por uma questão muito mais subjetiva. O que ocorre muito, também, são ataques direcionados a sujeitos aleatórios, desde que eles sejam do sexo feminino. O maior número de vítimas fatais e feridos nos ataques escolares aqui no Brasil são de meninas e professoras. E também há ataques que foram totalmente aleatórios, qualquer membro daquela comunidade escolar. Então, sim, é possível estabelecer alguns padrões ali”.


Comunidades digitais


Uma parte considerável dos autores, segundo a pesquisadora, estava vinculada a comunidades digitais: grupos no Discord, X, Telegram, TikTok, com as subcomunidades TCC (True Crime Community). “Ali estão glorificando autores de massacres escolares, supremacistas. Tem muito material de apologia ao nazismo, teoria conspiratória, conteúdo misógino, racista, homofóbico, além do que a gente observa do incentivo explícito a novos ataques”, comenta.


Para Marcela, o impacto vai além do dia do ataque: “Desde o momento em que a escola recebe uma ameaça, as atividades são paralisadas, a comunidade fica extremamente temorosa, os alunos não querem mais ir. É uma violência que vai se reproduzindo desde a ameaça até a execução”.


Ela lembra que, embora o governo federal tenha criado o SafeNet e reforçado o trabalho do CyberLab, ainda não há protocolos consolidados para lidar com o trauma coletivo. “Não temos como retornar à normalidade de imediato. É um trauma coletivo. O retorno passa pelo envolvimento de vários agentes, não só da escola, mas do poder público, responsabilizando as big techs e esses grupos para moderar o conteúdo. Hoje não preciso ir na deep web para assistir a esses conteúdos absurdos. Consigo ter acesso no TikTok.” Marcela reforça que “não é uma violência produzida unicamente no ambiente escolar, pelo contrário, eles estão em grupos oline, sendo fomentados em espaços que não são só da escola. E isso torna muito difícil para a comunidade escolar lidar sozinha com o problema”.

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