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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Tecnologia à base de óleo de tomilho desenvolvida na Unicamp elimina larvas do mosquito da dengue

Licenciada para a Zöld, invenção da Faculdade de Engenharia de Alimentos é capaz de eliminar 100% das larvas do mosquito transmissor da dengue, zika e Chikungunya em até 48 horas.

 


Com mais de um milhão de casos prováveis de dengue registrados até maio de 2025, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil enfrenta uma das maiores epidemias da doença nos últimos anos. O cenário reforça a urgência por alternativas eficazes e sustentáveis no combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.
 

Diante desse contexto, uma partícula biodegradável, desenvolvida por pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), surge como uma aliada nesse enfrentamento. Capaz de eliminar 100% das larvas do mosquito em até 48 horas, a tecnologia é composta por uma matriz de amido que encapsula óleo essencial de tomilho, reconhecido por sua ação larvicida.
 

“O desenvolvimento partiu da premissa de criar um produto seguroescalonável e adequado para uso em ambientes domésticos, especialmente nos pequenos focos mais comuns, como vasos, garrafas e recipientes plásticos”, explica Ana Silvia Prata, docente da FEA e inventora responsável.
 

Além de Prata, participaram do desenvolvimento da tecnologia os pesquisadores Marcio Schmiele, doutor em Tecnologia de Alimentos pela Unicamp; Juliana Dias Maia, doutora em Engenharia de Alimentos pela Unicamp; e Johan Bernard Ubbink, da California Polytechnic State University (Cal Poly), nos Estados Unidos.

 

Liberação controlada e baixo impacto ambiental
 

O projeto exigiu estudo detalhado sobre o ciclo de vida e o comportamento da larva do Aedes e o diferencial da tecnologia está no sistema de liberação controlada: a matriz de amido atua como carreador do óleo de tomilho, reduzindo em até cinco vezes a concentração letal necessária do composto.

 

“Um único grão da partícula trata até 100 ml de água. Ao ser colocada no recipiente, ela absorve o líquido, aumenta de volume e libera o princípio ativo gradualmente, no momento em que as larvas estão mais vulneráveis”, destaca Prata.
 

A liberação ocorre por linchamento da matriz amilacea, que expulsa parcialmente o óleo, o qual se dispersa lentamente na água. A partícula afunda e se posiciona no fundo do recipiente, onde as larvas costumam se concentrar, maximizando a eficácia. O encapsulamento do óleo é feito por extrusão termoplástica, sem uso de solventes, o que torna o processo seguro e viável para produção em larga escala.
 

A eficácia do produto foi validada em testes de laboratório e em campo, realizados com a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e com a Prefeitura de Adamantina (SP).
 

“As partículas superaram o desempenho do agente biológico então utilizado pela prefeitura”, relata Prata. A ação da partícula também teve efeito educativo: sua presença nos recipientes incentivou a população a eliminar criadouros de forma proativa. Segundo a docente, a segurança do produto foi outro pilar da pesquisa.
 

“Consideramos inclusive o risco de ingestão acidental por crianças ou animais. A quantidade de óleo é muito pequena e, nas condições de uso, não oferece toxicidade”, explica a pesquisadora.
 

Outro ponto forte é a estabilidade da formulação, que resiste a ciclos de seca e chuva. A partícula pode ser reutilizada por até cinco vezes: ao evaporar a água, ela permanece no local, pronta para atuar novamente.

 

Regulamentação e próximos passos
 

A tecnologia foi protegida por pedido de patente e licenciada para a empresa Zöld, com intermediação da Agência de Inovação Inova Unicamp. “A Inova intermediou todo o contato, tornando possível que a tecnologia extrapole os muros da Universidade e chegue até à sociedade”, reforça Prata. Segundo César Xavier, diretor da Zöld, o processo regulatório está em andamento para viabilizar a chegada do produto ao mercado.
 

“Estamos atualizando uma monografia junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que óleos essenciais possam ser enquadrados como desinfestantes, e não apenas como saneantes. Isso permitirá o registro da partícula como inseticida”, explica Xavier.
 

A empresa já enviou os testes laboratoriais necessários à Anvisa e estima concluir essa etapa até o final de 2025. “A partir daí, teremos as condições necessárias para avançar na produção e comercialização da partícula”, completa Xavier.
 

Com formulação segurabaixo custo e potencial para integrar políticas públicas de saúde de controle do mosquito Aedes aegypti, a tecnologia da Unicamp reúne as condições técnicas para chegar à população em larga escala. “Ela já foi testada, é eficaz e, com os trâmites regulatórios concluídos, poderá ser aplicada em ações de saúde pública em todo o país”, conclui Prata.

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