Pesquisa revela que experiência de famílias com a prematuridade é marcada por medo, preocupação constante e informações contraditórias - Blog A CRÍTICA

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." (Millôr Fernandes)

Últimas

Post Top Ad

sábado, 29 de novembro de 2025

Pesquisa revela que experiência de famílias com a prematuridade é marcada por medo, preocupação constante e informações contraditórias

A vacinação é descrita como uma experiência que gera estresse moderado a intenso para 65% das pessoas entrevistadas, com 75% relatando dificuldades - entre elas a falta de orientação



São Paulo, novembro de 2025 – A experiência das famílias com a prematuridade - condição em que o bebê nasce antes das 37 semanas de gestação, tem o seu período inicial marcado por medo, preocupação constante, insegurança com os cuidados e, ao mesmo tempo, sentimento de esperança. É o que revela a pesquisa “A Proteção aos Prematuros no Brasil”, realizada pelo Datafolha a pedido da Sanofi.

O estudo ouviu pais e mães de crianças entre 0 e 5 anos que nasceram prematuras, distribuídos por todas as regiões do país — majoritariamente mulheres, a maioria com filhos que passaram longos períodos em UTI neonatal.

Os resultados revelam um cenário em que a fragilidade do bebê, o trauma da internação e a falta de informações consistentes se combinam e impactam diretamente a adesão ao calendário vacinal, fundamental para esses bebês que têm o sistema imunológico ainda mais frágil.

De acordo com o levantamento, 65% dos pais consideram a vacinação uma experiência de estresse moderado a intenso. Quase metade relata medo de reações adversas, 24% sentem ansiedade ou nervosismo e 11% chegam a sentir culpa por acreditar que o bebê está sofrendo. Essa sensibilidade emocional está profundamente conectada à história da prematuridade: 92% dos bebês passaram por internações na UTI neonatal, muitos deles com peso muito baixo, dificuldades respiratórias ou de alimentação e, em alguns casos, risco de vida.

Para o infectologista pediátrico Dr. Daniel Jarovsky, esse impacto emocional precisa ser acolhido e compreendido. “Os pais de prematuros carregam uma memória de fragilidade intensa. Quando chega o momento da vacinação, muitos revivem aquele período crítico. Mas é justamente por terem maior risco de infecções graves que os prematuros precisam ser vacinados no tempo certo e com as recomendações específicas”, afirma.

A pesquisa também evidencia percepções equivocadas que atrasam a proteção. Um em cada quatro pais prefere adiar a vacina até que o bebê “fique mais forte”, embora as evidências científicas mostrem que a proteção precoce é fundamental.1 Além disso, 36% acreditam que prematuros seguem o calendário de bebês nascidos a termo, quando, na verdade, esses bebês têm um calendário vacinal com cuidados específicos, com recomendações relacionados à idade gestacional e peso.

Recomendado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), esse calendário inclui vacinas como a hexavalente acelular (disponível no SUS para bebês nascidos antes de 33 semanas ou com menos de 1,5kg, e para todos os bebês no mercado privado). Trata-se de uma vacina indicada para todos os bebês, mas que tem valor especial para os prematuros, uma vez que tem menos reações e protege contra seis doenças com uma só aplicação: difteria, tétano, coqueluche (pertussis), poliomielite, hepatite B e infecções causadas pelo Haemophilus influenzae tipo b (como meningite e pneumonia)2,3. Além de vacinas, inclui ainda outros imunobiológicos, como anticorpos monoclonais para a proteção contra o vírus sincicial respiratório (VSR), uma das principais causas de bronquiolite e pneumonia em bebês com menos de um ano.4

Os atrasos vacinais também são influenciados por barreiras práticas. O estudo mostra que 75% dos pais enfrentaram algum obstáculo para vacinar seus filhos, incluindo falta de vacinas, longas filas, horários incompatíveis e ausência de orientação adequada. Embora a maioria tenha conseguido manter o calendário em dia ou com pequenos atrasos, há casos em que dificuldades estruturais dos serviços de saúde ou inseguranças persistentes contribuíram para adiamentos mais significativos.

Desinformação ou falta de clareza sobre calendário vacinal

Sobre as orientações acerca da imunização fornecidas logo após o nascimento, 70% dizem ter recebido explicações claras sobre o calendário vacinal, mas 24% consideraram as informações confusas ou não receberam qualquer orientação.

A desinformação é outro elemento central explorado no questionário. 43% dos responsáveis ouviram informações contraditórias sobre vacinação de prematuros, originadas principalmente na família, redes sociais e, em alguns casos, de profissionais de saúde. Além disso, 28% relataram ter visto um profissional demonstrar insegurança diante da vacinação de um bebê prematuro, evidenciando a necessidade de qualificação permanente dos profissionais para a oferta de orientações adequadas.  

A baixa clareza sobre o calendário vacinal também se relaciona ao conhecimento limitado sobre os CRIEs (Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais), serviços do SUS que integram a RIE (Rede de Imunobiológicos para Pessoas com Situações Especiais) e são preparados para atender grupos vulneráveis, como prematuros, com imunobiológicos específicos e orientação qualificada.

Embora sejam fundamentais para garantir esquemas adequados a esses bebês, a pesquisa mostra que apenas 39% dos responsáveis conhecem os CRIEs, enquanto 31% apenas ouviram falar e 30% desconhecem totalmente o serviço. Entre aqueles que conhecem, porém, 85% relatam que seus filhos foram vacinados ou orientados no local, evidenciando o potencial desses centros para reduzir inseguranças, corrigir informações contraditórias e apoiar profissionais na comunicação com as famílias.

“Os bebês prematuros têm necessidades de saúde específicas e urgentes, e isso inclui a imunização no tempo correto e com as recomendações adequadas. Quando quase metade das famílias relata ter recebido orientações contraditórias, fica evidente a necessidade de protocolos unificados e qualificação permanente dos profissionais. É papel de toda a rede garantir que nenhum bebê tenha sua proteção atrasada por falta de informação”, reforça Denise Suguitani, diretora executiva da ONG Prematuridade.com.

Mesmo com esses desafios, o sentimento de segurança é significativo58% dos pais afirmam se sentir aliviados por entender que estão protegendo seus filhos ao vaciná-los. Denise destaca que fortalecer esse sentimento é essencial. “Informação clara, transmitida com empatia e consistência, transforma a vacinação em uma etapa de confiança, não de temor”, diz.


Referências 

  1. SADECK, L. D. S.; KFOURI, R. de A. Atualização sobre a vacinação em prematuros. Jornal de Pediatria (Rio de Janeiro), v. 99, supl. 1, p. S81–S86, 2023. Disponível em: https://www.jped.com.br/en-pdf-X2255553623035670. Acesso em: 21 nov. 2025.
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendários SBIm de vacinação: Bebês prematuros [Internet]. São Paulo: SBIm; [citado em: 21 nov. 2025]. Disponível em https://sbim.org.br/calendario-de-vacinacao/bebes-prematuros
  3. Bula Hexaxim
  4. Leader S, Kohlhase K. Recent trends in severe respiratory syncytial virus (RSV) among US infants, 1997 to 2000. J Pediatr. 2003;143(5 Suppl):S127-32.
  5. World Health Organization. Born too soon: decade of action on preterm birth [Internet]. Geneva: World Health Organization; 2023. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240073890

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Bottom Ad

Pages