Aposentadoria do professor e obstáculos depois da reforma da Previdência - Blog A CRÍTICA

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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Aposentadoria do professor e obstáculos depois da reforma da Previdência



João Badari*

 

Neste dia 15 de outubro comemora-se o Dia dos Professores. Tenho esposa, irmã e sogra professoras e divido diariamente com elas as dificuldades e prazeres da profissão. E mesmo com a falta de reconhecimento salarial e de condições de trabalho, fazem da docência sua paixão, tendo como frutos a diária evolução daqueles que ensinam.

 

Em razão das especialidades do magistério, os professores possuem direito a uma aposentadoria diferenciada, não correspondendo a especial em si, porém diferente da normal.

 

Qual seria a diferenciação?

 

Antes da reforma não precisavam atingir a idade mínima e se aposentavam com cinco anos a menos que o normal. Após a reforma devem obedecer as regras de transição e permanente diferenciadas, que impõe idade mínima, porém com diferenciação em anos da aposentadoria comum. Esse ponto trazido pela EC 103 de 23 de novembro de 2019 foi extremamente prejudicial aos professores.

 

Antes de 13 de novembro de 2019 (Emenda Constitucional 103 – "Nova Previdência"), era necessário que o professor tivesse 25 anos de contribuição no magistério se mulher, e 30 anos se homem.

 

Importante destacar que estes requisitos ainda podem ser utilizados por aqueles que os tiverem preenchido antes da aprovação da reforma, mesmo que ainda não tenham solicitado o benefício.

 

Regras após a reforma

 

Primeiramente, vamos começar pelas três regras de transição, que podem ser utilizadas por quem já estava filiado no sistema, porém até 13/11/2019 não havia preenchido os seus requisitos:

 

1 – Pontos

 

Os requisitos dessa modalidade encontram-se previstos no artigo 15, da Emenda Constitucional 103/2019:

 

30 anos de contribuição como professor, se homem, e 25 anos, se mulher;

91 pontos, se homem, e 81 pontos, se mulher, sendo acrescidos 1 ponto a cada ano, a partir de 1º de janeiro de 2020, até atingir o limite de 100 pontos, se homem, e 92 pontos, se mulher.

 

Vale aqui observar o artigo 18 da portaria 450 do INSS, que disciplina que a somatória de tempo não precisa ser toda na atividade especial para aposentadorias especiais. Porém, o artigo 22 da mesma portaria estabelece que no caso de professores o tempo total deverá ser de magistério, não podendo computar período em outras atividades:

 

Artigo 18. Para obtenção da pontuação será considerado todo o tempo de contribuição, inclusive aquele não exercido em efetiva exposição a agentes nocivos.

 

Artigo 22. A aposentadoria por tempo de contribuição de professor com pontuação é devida quando atingidos 81 (oitenta e um) pontos para a mulher, e 91 (noventa e um) pontos para o homem, aferidos pelo somatório da idade do requerente com o tempo de contribuição de professor.

 

Em 2024 os homens precisam ter 96 pontos e as mulheres 86 pontos.

 

Entendemos isso como uma afronta a EC 103, que não impõe qualquer restrição para utilizar o tempo comum na contagem de pontos. Em breve acredito que o judiciário irá analisar essa questão.

 

2 – Idade mínima progressiva

 

Está no artigo 16, da EC, e se aplica apenas para professores da rede privada de ensino:

 

30 anos de contribuição como professor, se homem, e 25 anos, se mulher;

 

56 anos de idade, se homem, e 51 anos, se mulher, sendo acrescidos 6 meses a cada ano, a partir de 1º de janeiro de 2020, até atingir 60 anos, se homem, e 57 anos, se mulher.

 

Em 2024 os homens precisam ter 58 anos e 6 meses, e as mulheres 53 anos e 6 meses de idade mínima para essa regra.

 

3 – Pedágio de 100%

 

Os requisitos estão no artigo 20 da Emenda:

 

55 anos de idade, se homem, e 52 anos, se mulher;

 

30 anos de contribuição como professor, se homem, e 25 anos, se mulher; período adicional de contribuição correspondente ao tempo que, na data de entrada em vigor desta EC, faltaria para atingir o tempo mínimo de contribuição exigido.

 

Regra permanente

 

Para quem ainda não estava filiado junto ao INSS antes de 13 de novembro de 2019 as regras são:

 

25 anos de tempo de contribuição para ambos os sexos;

 

60 anos de idade, se homem, e 57 anos, se mulher.

 

Vale aqui trazer uma situação peculiar, pois se a regra permanente for mais vantajosa que a transitória, o segurado professor poderá escolher a mais vantajosa (que é a permanente). Isso acontece quando ele (homem) já tem 60 anos de idade e 25 de contribuição, pois todas as outras regras exigem 30.

 

O legislador ao criar a idade mínima na aposentadoria dos professores não se atentou a todas peculiaridades da profissão, onde cito principalmente toda carga de stress trazida pelo dia a dia nas salas de aula. A rotina dos professores é extenuante, onde muitos se encontram com sérios abalos psicológicos em razão do trabalho.

 

Hoje, em meu escritório, eu realizo mais pedidos de aposentadoria por invalidez (aposentadoria por incapacidade permanente) para professores, em razão de incapacidade psicológica trazida pelo trabalho, do que a aposentadoria por tempo de contribuição. O legislador desconhece tal realidade.

 

Professores universitários também contam com estas regras diferenciadas?

 

Não, apenas os que exercem a função do magistério, abaixo definida: "são consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico".

 

Importante ressaltar também que o benefício diferenciado não é válido apenas para os professores que exercem as atividades dentro de uma sala de aula, vale também para os profissionais que atuam, na coordenação, direção e assessoramento pedagógico.

 

Portanto, os professores possuem direito a uma aposentadoria diferenciada, mas suas regras estão longe de serem as ideais, ainda mais com o prejuízo trazido pela reforma com a criação de uma idade mínima.





 

*João Badari é advogado especialista em Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados.

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