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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

OIT: A irrefreável espiral de desemprego


Tal como previu no começo do ano passado a Organização Internacional do Trabalho (OIT) 2012 concluiu com uma taxa de desemprego mundial em cerca de 6,1 por cento, ou seja 202 milhões de desocupados, um aumento de seis milhões em relação ao ano passado.
Três anos de declives econômicos globais pioram os mercados trabalhistas em todo o mundo, e diante da perspectiva de uma maior deterioração se espera um atraso equivalente a 200 milhões de postos de trabalho, um incremento de 27 milhões desde o início da crise.

A leve recuperação que começou em 2009 foi efêmera e superficial, pelo que desde o terceiro trimestre de 2011 as penúrias de algumas economias avançadas pioraram, pois os investimentos e a criação de empregos no mundo se mantiveram baixas.

Tanto a OIT como outros organismos internacionais, inclusive os de corte neoliberal, coincidem em que a instabilidade do setor financeiro e os índices de risco em ascensão limitaram o acesso a créditos e derrubaram o ânimo dos empresários e os consumidores.

Daí que a economia mundial registrou um rápido recuo, pois a incerteza se estendeu para além das economias avançadas e, na conjuntura atual, é evidente inclusive uma queda em maior recessão.

A isso se somaram as políticas de austeridade para tranquilizar os mercados financeiros, que escureceram as perspectivas de trabalho pelo que 202 milhões de pessoas estão em desemprego neste ano, com tendências especialmente preocupantes na Europa, onde a taxa de desemprego aumentou em quase dois terços dos países desde 2010.

Para a organização com sede em Genebra, é pouco provável que a economia cresça a um ritmo suficiente nos dois próximos anos para satisfazer o atual déficit de empregos e ao mesmo tempo dar trabalho aos mais de 80 milhões de pessoas que chegarão ao mercado trabalhista no mesmo período.

Isso ratifica que durante o ano que termina a recuperação do mercado trabalhista se manteve em ponto morto, em países como Japão e Estados Unidos.

Tampouco em outras regiões do planeta, a oferta de trabalho esteve à altura das necessidades de uma população ativa cada vez mais abundante e qualificada, como na China, enquanto o déficit de emprego foi crítico na maior parte do mundo árabe e na África, segundo a OIT. Tal deterioração das ofertas de emprego traduziu-se em maiores riscos de problemas sociais, como o demonstraram os protestos na Grécia, Itália, Portugal e Espanha.

No entanto, observaram-se menores tensões na América Latina onde houve uma melhora do mercado trabalhista.

AUSTERIDADE VERSUS EMPREGO 

Para o diretor do Instituto Internacional de Estudos Sociais da OIT , Raymond Torres, a austeridade não produziu mais crescimento pois deu lugar a um débil desempenho econômico e destruiu empregos, sem nem sequer reduzir de forma considerável o déficit orçamental.

Em consequência, a OIT animou aos governos a reativar a demanda interna e felicitou a alguns países da América Latina, Índia, África do Sul e China, onde os salários subiram progressivamente.

De acordo com as situações mais críticas a nível global faz falta um enfoque equilibrado para promover um crescimento inclusivo, capaz de criar os 600 milhões de postos de trabalho que serão necessários nos próximos 10 anos.

Outra grande preocupação é o desemprego trabalhista entre os jovens, com níveis insustentáveis, pelo que é preciso priorizar a criação de empregos como parte das políticas macroeconômicas.

No entanto, sobretudo na Europa, adotam-se medidas de austeridade fiscal que dão pé a rápidos incrementos do desemprego entre os jovens e um crescimento econômico negativo em vários países.

A atual crise do emprego afetou 75 milhões de mulheres e homens jovens em todo mundo, quatro milhões mais que em 2007, pelo que se corre o risco de perder uma geração se não se encara com resolução essa grave situação.

Precisamente em meados deste ano a Conferência Internacional da OIT concluiu que "a não ser que se empreendam medidas imediatas e enérgicas, a comunidade mundial terá que enfrentar o sombrio legado de uma geração perdida", um enfático chamado a solucionar o desemprego juvenil.

Com essas cifras só cabe a ação de empregadores e trabalhadores para resolver o desajuste entre a oferta e a demanda de concorrências, melhorar os sistemas de emprego-formação e promover a capacidade empresarial dos jovens.

Por isso o chamado aos governos, ao sistema multilateral e a todas as organizações apropriadas a nível nacional, regional e internacional para enfrentar esse sério problema.

Dos 75 milhões de jovens sem trabalho, seis milhões deixaram de procurar emprego e, dos que trabalham, mais de 200 milhões ganham menos de dois dólares ao dia.

Com tais cifras, 2012 demonstrou que após três anos de uma suposta recuperação econômica atribuída aos Estados Unidos, a situação mundial em termos de emprego é um enorme desafio e as expectativas face ao futuro não são nada alentadoras.

A OIT põe como exemplo o Grupo dos 20 países avançados e emergentes no setor trabalhista: 84 milhões de pessoas sem trabalho, das quais 44 por cento -isto é 37 milhões- são mulheres e homens jovens.

Nesse bloco, cerca de 300 milhões de pessoas vivem em economias emergentes e têm empregos informais de baixa produtividade, fora do setor agrícola, enquanto na União Europeia mais de 24 milhões de pessoas não encontram ocupação.

A este respeito, o diretor geral da OIT, Guy Ryder, reconheceu que muitos governos, ao implementar medidas de austeridade, subestimaram seu impacto, e agora seus efeitos negativos são mais danosos.

Recordou que o desemprego mundial ainda se situa em 30 milhões de pessoas mais que antes de começar a crise em 2008, e cerca de 40 milhões de pessoas mais abandonaram o mercado trabalhista desde então.

Neste sentido, advertiu que segundo os cálculos da organização que dirige, só na Eurozona poderiam subir dos atuais 17,4 milhões a 22 milhões os desocupados nos próximos quatro anos, a não ser que ocorra uma mudança de medidas e políticas.

2013 SEM MUDANÃÇAS RADICAIS 

Há poucos dias, novos dados da OIT baseados em previsões de baixa do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o crescimento econômico mundial, indicaram que o desemprego subirá de 200 milhões a 207 milhões em 2013. As previsões anteriores localizavam o desemprego em 204 milhões de desempregados para o próximo ano.

Ryder disse que o último relatório do FMI sobre a economia mundial reconhecia o fato de que muitos governos simplificaram o efeito dos cortes e ajustes, e agora estão em uma espécie de beco sem saída.

"Os efeitos negativos das medidas de austeridade frente à crise são duas ou três vezes maiores que o que se esperava antes", aceitou.

Ante tais previsões, os economistas esperam uma redução gradual da crise, com uma combinação de baixas taxas de interesse e importantes efeitos multiplicadores para pôr à economia mundial no caminho da recuperação e o crescimento sustentável, mas já está provado: isso só se consegue com fortes investimentos no mercado trabalhista e vontade política.

As novas iniciativas, como recomendou a OIT, deveriam ser concentradas em apoiar os investimentos em infraestrutura, melhorar o acesso aos créditos bancários das pequenas e médias empresas, estender a cobertura da proteção social e investir em empregos para os jovens.

Daí que o diretor geral da OIT, Guy Ryder, afirmou que uma ação coordenada por parte das maiores economias mundiais possa e deva prevenir um deslizamento para o que descreveu como um pântano político e social.

*Jornalista da Redação de Economia da Prensa Latina 

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