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quarta-feira, 31 de julho de 2013

A CIA e o controle do clima

A CIA norte-americana está a financiar um estudo de geoengenharia (manipulação climática) que durará 21 meses, com um custo inicial de 630 mil dólares. Artigo de Silvia Ribeiro
O interesse da CIA pelo clima não é novo; porém, essa participação é significativa devido às implicações bélicas da possibilidade de manipular o clima
O estudo está a ser realizado pela Academia Nacional de Ciências, com participação da NASA e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (cf. revista Mother Jones, 17/7/2013).
O interesse da CIA pelo clima não é novo; porém, essa participação é significativa devido às implicações bélicas da possibilidade de manipular o clima e à pressão que está a ser exercida pelos proponentes de geoengenharia nesse país, para avançar na experimentação dessas técnicas, apesar de existir uma moratória nas Nações Unidas contra a sua aplicação.
O projeto analisará diferentes propostas de geoengenharia, como gestão da radiação solar e remoção de dióxido de carbono da atmosfera; também estudarão os efeitos da semeadura de nuvens e outras formas de manipular o tempo atmosférico para provocar chuva, secas ou controlar furacões. Segundo informação oficial, farão uma avaliação técnica dos impactos dessas tecnologias do ponto de vista ambiental, económico e de segurança nacional.
Estes últimos, são os aspetos que preocupam a CIA, que, em documentos anteriores, qualificou a mudança climática e o controle do clima como fatores de importância geopolítica estratégica e de segurança nacional. Apesar disso, os republicanos votaram pelo desaparecimento do departamento de mudança climática da CIA, o que, segundo a agência, a motivou a financiar esta iniciativa. As razões poderão ir muito para além, já que o controle do clima é um projeto militar de longa data nesse país, que realizou experiências desde a guerra do Vietname, provocando chuva durante meses seguidos, para prejudicar os culturas e caminhos dos vietnamitas. No mesmo sentido, em 1996, a Força Aérea Norte-Americana publicou um documento intitulado Weather as a Force Multiplier: Owning the Weather in 2025 (O tempo como multiplicador da Força: controlando o tempo em 2025), cujo título reflete claramente as suas intenções.
Estes interesses convergem com os de um grupo pequeno, porém, influente, de climatologistas e outros cientistas de países do Norte, que alegam que a geoengenharia é necessária porque não se pode reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito de estufa (como se os seus países não fossem os que têm que tomar as principais medidas para isso!). Ou, como declarou David Keith, um conhecido promotor da geoengenharia, porque é um plano barato e fácil. (MIT Technology Review, 8/2/2013).
Sim, barato e fácil para os que causaram a mudança climática com o seu sobreconsumo de recursos e a industrialização baseada no petróleo, porque em vez de reduzir realmente as suas emissões, poderiam continuar a aquecer o planeta e, além disso, fazer um negócio significativo com novas tecnologias que manipulem o clima de todos, para baixar ou subir a temperatura, segundo convenha aos interesses económicos e bélicos dos que a controlem.
Sob a expressão gestão da radiação solar, a meta é diminuir a quantidade de raios solares que chegam à terra. Por exemplo, através da construção de enormes nuvens vulcânicas artificiais, injetando-as com partículas de enxofre. Outras propostas incluem branquear as nuvens, colocar triliões de espelhos no espaço para refletir a luz do sol ou, a mais recente, do próprio David Keith, dispersar ácido sulfúrico, a partir de aviões, na linha equatorial para que se misture com as nuvens. Quanto à remoção de dióxido de carbono, incluem-se outras técnicas, como máquinas ou árvores artificiais que absorvam carbono da atmosfera (que, certamente, não sabem onde depositarão, para que lá permaneça para sempre). A mais conhecida é a fertilização oceânica: verter nanopartículas de ferro ou de ureia no mar para provocar florescimentos de plâncton, que absorvam dióxido de carbono e o levem para o fundo do mar.
As técnicas de geoengenharia são somente teóricas, salvo alguma, como a fertilização oceânica, da qual já são conhecidas experiências legais e ilegais, que mostraram que, além de não servir para o seu propósito -o carbono não permanece no fundo do mar- os impactos podem ser enormes, com quebra da cadeia alimentar marinha, anoxia (falta de oxigénio) nas camadas marinhas, criação de algas tóxicas etc.
A geoengenharia, para ter impacto no clima global, teria que ser aplicada em megaescala, rompendo um ecossistema global pouco conhecido, altamente dinâmico e em interação com toda a vida no planeta. Não existe, portanto, uma etapa experimental. O que se fizer em pequena escala não mostrará a ação sobre o clima global, ainda que possa ter impactos negativos graves na zonas ou na região. E, caso seja em grande escala, não é experimental; é irreversível.
Por exemplo, as nuvens vulcânicas artificiais não podem ser retiradas até que as partículas caiam na terra, o que é tóxico. Essa técnica aumentaria ainda mais o buraco na camada de ozone e a acidificação dos mares, dois problemas globais muito graves. Se realmente conseguissem diminuir a quantidade de luz solar que chega ao Norte, produziriam seca extrema em África e interrupção das monções na Ásia, colocando em perigo as fontes de alimentação de 2 mil milhões de pessoas.
Imaginem se a CIA pudesse decidir sobre o termostato global. A geoengenharia é tão arriscada, tanto pelos seus efeitos climáticos como pelo seu potencial uso hostil contra outros países, que a única coisa sensata a ser feita é proibir internacionalmente o seu uso.
Artigo de Silvia Ribeiro, investigadora do grupo ETC, publicado no jornal mexicano La Jornada. Tradução de Adital

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