ZYGMUNT BAUMAN: “Nos tem imposto que somos mais felizes quanto mais consumirmos e mais competirmos” - Blog A CRÍTICA

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terça-feira, 15 de outubro de 2013

ZYGMUNT BAUMAN: “Nos tem imposto que somos mais felizes quanto mais consumirmos e mais competirmos”

Nesta entrevista o sociólogo polonês, Zigmunt Bauman de 87 anos, propõe aos jovens o desafio de organizarem-se e firmarem um compromisso com sua sociedade.



Zygmunt Bauman, durante la entrevista en el hotel Voramar de Benicàssim. | ana torregrosa
Baumam - Foto la província

Estão sexo e amor tornando-se uma hipoteca para a sociedade ocidental?

Somos todos feitos para amar e ser amados e não nos sentimos completos, a menos que tenhamos essa pessoa para amar e ser amados, e também em termos de amizades, relacionamentos. Quando falo desta hipoteca me refiro a que para poder amar são necessárias  certas obrigações, um compromisso de longo prazo que pode envolver sacrifícios para cuidar da outra pessoa e de alguma forma comprometer suas chances futuras, se põe como risco. E o que acontece em nossa sociedade é que as pessoas, especialmente os jovens estão sendo incentivados a evitar comprometimento de longo prazo. As pessoas se reúnem para ver se funciona, mas se você fizer isso, a menor discordância torna-se um grande problema. E isso reflete-se também nas amizades, relacionamentos, vizinhos... Também faz parte da crise.

Em que medida?

É extremamente importante para o futuro da humanidade. O verdadeiro problema é substituir as lições de como viver que foram impostas: primeiro, somos ensinados que para ser feliz temos que consumir mais, ter o mais recente iPad ou o último modelo de telefone ou camisa. Em segundo lugar nos é dito que devemos ser melhor que o outro, você tem que competir constantemente. E essas duas estradas são duas das causas da crise atual.

Que estradas seriam mais desejáveis?

Buscar um sentido definido  e objetivos comuns das pessoas, compartilhando e discutindo, discordando, o que também dá muita felicidade, mas estamos ocupados demais tentando competir. Vamos encontrar formas em conjunto, e não apenas ouvindo o que uma pessoa mais velha, como eu pode dizer. Mas posso dizer que uma das chaves é entender que o que traz felicidade não é consumir, mas produzir. Esse é o presente.

Na atual sociedade de internet continuamos sendo o que escrevemos?

Digo-lhe que uma pessoa viciada em Facebook pode fazer mais de 200 amigos em um dia. Em 87 anos eu não pude fazer mais de 500 amigos, e eu não estou me referindo a esse tipo de amigos que  podem preencher com a felicidade. Amigos da Internet são apenas rede de amigos, e você também pode perder em um dia e não estarão ali quando você precisar deles. A amizade e o amor não são uma questão de tecnologia, precisam de uma dedicação espiritual.

A Europa está afundado ? Vai ganhar a batalha econômica contra os valores e direitos ?

Eu não sou um profeta, mas eu posso olhar ao meu redor e vejo pouco sinal de que estamos no caminho para sair da crise. Esta crise de crédito tem sido a de acabar com a redistribuição da riqueza que tem dado mais a uns poucos ricos e fez com que os pobres se tornem mais pobres, especialmente os jovens. 52% dos jovens estão desempregados na Espanha, e isso é muito sério, não acontecia algo parecido desde a Segunda Guerra Mundial. E isso frustra-los, e isso retira a sua dignidade, fazendo-lhes sentir que nada lhes quer, que eles são inúteis. Está-se tomando a riqueza dos mais fracos e isso é muito perigoso, e os governos sentem a pressão de bancos, instituições . E nisto não há meio termo: ou você se rende ao que te pedem os bancos a economia  tornando a vida mais fácil para os bancos e penalizando os mais fracos ou, pelo contrário, defende os interesses de seu povo.

Por que viestes a um Fórum Social de um festival de reggae?

Eu acho que este tipo de pontos de encontro com interesses comuns são muito importantes, compartilhando não só música, mas também trocando e fazendo relacionamentos. Eu me sacrifiquei para vir aqui, porque eu acho que é importante, porque em Benicàssim é muito quente e eu sou uma pessoa que certamente vai mal com o calor, mas eu estou aqui porque eu acho que é importante.

Que mensagem vai passar os jovens que vão ouvir-te no fórum social e  que procuram respostas, guias para sair desta crise, para mudar as coisas ?

Você pode assar ou amassar o seu futuro. É apenas a sua escolha, e não há certeza, mas é apenas uma questão de compromisso com a sua sociedade. Você conhece um filósofo italiano que se chama  Gramsci? Gramsci disse que a única maneira de prever o futuro é a organização e fazer que o que você quer aconteça .

Entrevista publicada em Laprovincia.es por Nacho Martín

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