Socialmente: A violência no Brasil - Blog A CRÍTICA

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." (Millôr Fernandes)

Últimas

Post Top Ad

segunda-feira, 24 de março de 2014

Socialmente: A violência no Brasil

No auge do determinismo biológico e do Darwinismo social se conceberam teses para descrever "cientificamente"  a figura do criminoso, se analisaram a variedade craniana, o italiano Cesare Lombroso concebeu o criminoso como um ser atávico, ou seja, com predestinação para o crime, ou com características biológicas determinantes.

Categorias assim não são aceitáveis na ciência contemporânea, valendo ressaltar, inclusive, que naquela época de determinismo biológico se criavam teorias concebidas como supostamente científicas para justificar o racismo. O francês Joseph Arthur de Gobineau descreveu a espécie humana dividida em grupos raciais (branca, amarela e negra), justificando a superioridade da "raça branca" e pregando sua justificativa de domínio.

Quando se esperava que a ciência poderia explicar e dar a palavra final a tudo, essa fase serviu para mostrar, como observa incansavelmente o filósofo francês Edgar Morin, que nem a ciência pode ser considerada absoluta; para Morin, através da ecologia da ação as teorizações podem ganhar um sentido oposto ao que pretendia, tudo precisa ser considerado levando em conta a Complexidade da sociedade e do ser humano.

No caso da realidade de violência social profunda no Brasil, fazendo com que cidades tenham taxas de homicídios superiores a 50 assassinatos anuais para cada grupo de 100 mil habitantes, claro não poderíamos classificar o criminoso como biologicamente determinado ou que haveriam caracteres do brasileiro que levariam à crueldade, se quiséssemos procurar uma caracterização de como se apresenta essa violência não seria em termos de determinismo biológico e sim, meramente, em sua forma de manifestação. O homem biológico entraria nessa análise como homo, ou seja, de forma geral, o homem como ser biológico e sua constituição naquilo que impulsiona para a agressividade, sem classificar. Do outro lado estariam as questões sociais, interferindo na manifestação das pulsões, por exemplo o desejo sexual é pulsão biológica do indivíduo e uma sexualidade apresentada de forma banalizada incorpora caracteres de uma sociedade degradada.

O delinquente tem uma forma de apresentação, vagabundo, bandido etc; há todo um contexto dentro da realidade brasileira em torno da violência, isso vai da existência dos programas policiais em toda a mídia; à preocupação com proteger da melhor maneira possível as residências; ao jeito de se expressar, linguisticamente estereotipada como fala de marginal; até os inúmeros mutilados pela violência que vivem com histórias de assassinatos nas suas famílias. Nesse momento talvez seja impossível para o grosso da população brasileira não ter que conviver todos os dias com este drama.

Este quadro é de violência "sem motivo", não que exista motivo, mas diferentemente do Banditismo social, onde os próprios agentes encontravam auto-justificativas para suas práticas, aqui matar é mera casuística de momento ou ato-poder. Gangues, torcidas organizadas, quadrilhas, é uma espécie de pejoração de uma sociedade cheia de bolsões de anomia.

No todo há uma ruptura violenta de interação, se se observar no trânsito das cidades qualquer falha gera uma discussão entre motoristas, ética é sempre exigência para os outros, e como diz Bauman temos sempre uma percepção muito forte de nós mesmos e não admitirmos o erro passando-o para o outro. As pessoas estão sempre armadas, prontas para agredir verbalmente.

Em 2011 Alagoas teve  2.268 homicídios, tava de 72,2 para cada 100 mil pessoas; o Pará teve 3.078, 40,0 para cada 100 mil; Goiás teve 2.214, taxa de 36,4/100 mil. No Brasil em 2010 foram 52.260 homicídios, quase 150 por dia, com uma taxa de 27,4 por 100 mil habitantes; no Paquistão essa taxa era de 7,6 homicídios por 100 mil habitantes; em 2006 Portugal foi considerado o país mais homicida da Europa Ocidental com uma taxa de 2,15 homicídios POR 100 mil. No Brasil  há um percentual humano a ser gasto incessantemente e de forma descontrolada. A maior parte das mortes são por arma de fogo, que é uma violência onde uma das partes fica completamente sem condições de defesa, então o agente ativo se sente em mofo de comando.

A violência brasileira tem uma cara, um jeito de se expressar, um "jeitinho", pois, se adianta até as estruturas do Estado, uma sociedade moderna com aspectos terríveis de ignorância. Aqui mesmo na América do Sul o Chile tem taxas baixíssimas de homicídios, no Brasil elas continuam crescendo. Em países da América Central estão os mais violentos países do Mundo, como Honduras e El Salvador, sendo campo de estudo o por que de países terem taxas baixas e outros altíssimas sem colocar determinismos biológicos e/ou condições físicas do ambiente. Na Europa no Geral as taxas são baixas, mas muitos países europeus já enfrentaram violência social, favelização, prostituição e alcoolismo no século XIX. Em algumas áreas daquele continente predominam até hoje ódios étnicos e agora com a crise cresce o número de suicídios, tudo isso serve para trazer alguns aspectos sociais que influenciam na violência. No Brasil a questão é muito mais de desequilíbrio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Bottom Ad

Pages