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segunda-feira, 16 de junho de 2014

Zygmunt Bauman: "A desconfiança paira sobre o sistema político como um todo"

O sociólogo e filósofopolonês Zygmunt Bauman, nascido em 1925, passou pelas revoluções do século XX  elaborando categorias de interpretação da realidade, que se tornaram um dos pilares da sociologia contemporânea, com um pensamento orgânico sobre a "modernidade líquida", que inclui sentimentos, consumo e relações de poder. Segundo Bauman, hoje estamos testemunhando o "divórcio entre o poder e a política."

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-Durante a campanha eleitoral vimos um esforço por parte das instituições europeias para  mobilizar 400 milhões de cidadãos. Mas a Europa não ficou animada. Qual é a origem desse sentimento de desapego?

-A desconfiança paira sobre o sistema político como um todo. As pessoas estão perdendo a fé na capacidade das instituições em cumprir suas promessas. As raízes desta tendência remontam ao último meio século, durante o qual os processos de desregulamentação promovido pelos governos que aderiram à revolução neoliberal gradualmente levou à separação entre o poder, entendido como a capacidade de fazer, e a política, ou a capacidade de decidir o que fazer.

- Então, a desconfiança na política nasce do enfraquecimento das prerrogativas nacionais que justamente o projeto europeu quer  diluir?

-Os poderes que antes se exerciam dentro dos limites dos Estados, e, especialmente, os poderes financeiros que determinam o bem-estar ou a miséria para milhões de pessoas, evaporaram-se e convergiram em um domínio extraterritorial, uma terra de ninguém, enquanto a política  continuou territorialmente foi determinada. O efeito colateral disso, como observou o economista americano Joseph Stiglitz, é a separação entre a criação de valores de mercado e criação de emprego. Os valores fundamentais que pensávamos salvaguardados pelos nossos  representantes eleitos-  igualdade de oportunidades, honestidade, o respeito pelas regras -foram violados. Agora, a sobrevivência do governo é percebida como uma ferramenta para agradar aos ricos que aumentam a sua riqueza.

-A União Europeia é considerada cúmplice dessa "traição" da política, perpetuando o velho sistema de privilégio e desigualdade.

- A isso se soma a transferência progressiva ao indivíduo a tarefa de combater os efeitos destrutivos do mercado, que persegue a ganância. Os dois recorridos paralelos - a contração e  realocação das funções do Estado e a exaltação da iniciativa individual levam ao colapso das credenciais da democracia representativa.

- O que pode a Europa fazer para reavaliar essas credenciais?

-A Europa é um coletor local de problemas globais, mas também um laboratório único, no qual são testadas as possíveis soluções. Só então é que a contribuição da UE pode ser significativa para o futuro do nosso planeta, que está se movendo em direção a uma transição radical: do nível dos Estados-nação para a maior dimensão de uma humanidade  enredada nas redes de interdependência global. Neste contexto conturbado, a UE deve atingir as raízes da incapacidade institucional para conciliar política e poder.

Artigo por Maria Serena em lanacion.com.ar

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