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domingo, 19 de outubro de 2014

A nova tempestade que paira sobre a economia mundial

Agora que começa a tornar-se evidente que a zona euro entrará na terceira recessão desde o ano 2008, confirma-se que as políticas aplicadas pelos principais bancos centrais do mundo criaram as condições ideais para um novo tsunami financeiro. 

Por Marco Antonio Moreno.









Os dados publicados, nesta semana, pelo Eurostat assinalam que a produção industrial da Alemanha caiu 4 por cento em agosto (e 1,8 por cento em toda a zona euro) e que esta tendência continuou em setembro, com a maior queda desde 2009. Anteriormente, o FMI tinha reduzido a sua previsão de crescimento para a Alemanha para este ano de 1,9 para 1,4 por cento.. e será forçado a voltar a baixar as suas previsões para este e para o próximo ano.
A economia mundial sofre uma estagnação generalizada, como o sugerem os magros valores do consumo do Japão aos Estados Unidos, passando evidentemente pela Europa, o atual epicentro da crise global, onde os planos de austeridade agravaram a crise e potenciaram os desequilíbrios econômicos. Merkel e Lagarde afundaram a Europa, ao forçarem a aplicação dos planos mais absurdos para enfrentar a crise que eclodiu, depois da falência do Lehman Brothers no ano 2008. A atual crise é produto da cegueira em que foi envolvido o mundo ao pensar que qualquer desequilíbrio era detectado e resolvido de imediato pelo mercado, o suposto grande regulador do sistema. Mas o mercado não autorregula nada e deixar tudo à sua mercê está a significar duas décadas perdidas para o mundo. Isto é, há crise para muito tempo. Isto é aquilo a que temos chamado estagnação secular, ou de longo prazo.
O mundo esqueceu-se da declaração precisa que o ex presidente da Reserva Federal, Paul Volcker, fez em princípios de 2009, que assinalou que a economia tinha falhado por completo na forma de examinar a realidade quando assegurou que entre as causas principais da crise financeira “estava a fé injustificada nas expectativas racionais e no livre mercado”… Volcker não hesitou em enfatizar que a profissão Econômica estava em apuros, dado que nos últimos anos se tinham perdido todas as abordagens e consensos sobre política econômica, ao dar rédea livre às abordagens estatísticas e matemáticas. Durante quatro décadas (quase em paralelo com a atribuição dos prêmios Nobel de Economia), os economistas esqueceram-se que a Economia não é uma ciência exata, dado que é um ramo das Ciências Sociais cuja riqueza depende justamente da pluralidade de abordagens. Desde o prêmio Nobel de Economia dado a Paul Samuelson em 1970, a Economia converteu-se num fetiche das matemáticas financeiras e dos oligopólios financeiros.











Tal como em 2008, o mundo encaminha-se para uma recessão mundial devido à crescente debilidade do consumo, um fato que derruba qualquer perspectiva suportada nas teorias da oferta. Num mundo com desequilíbrios persistentes e aumentos crescentes da desigualdade, não é a oferta a que cria a procura. Chegou-se ao nível crítico de que um punhado de produtores pode oferecer todos os bens requeridos, mas estes não estão disponíveis para toda a humanidade. Não é a oferta que cria a procura, mas pelo contrário é a procura que dá força à oferta. Nos Estados Unidos, a procura do consumo privado equivale a 70 por cento do PIB. Por isso a debilidade da procura tem efeitos significativos.
O câncer das bolhas especulativas
O desastroso estado da economia confirma que injetar dinheiro no sistema financeiro não tem impulsionado a economia real. Aliás as multimilionárias injeções de liquidez nem sequer conseguiram manter os níveis de investimento. A queda sistêmica do investimento desde setembro de 2008 tem sido justamente uma das razões do aprofundamento da crise. As multimilionárias injeções de liquidez na banca não estimularam o investimento, apesar das baixas taxas de juro existentes na Reserva Federal ou no Banco Central Europeu fazerem crer que o investimento é um negócio lucrativo. Tem sido um negócio só para os especuladores que jogam nos mercados bolsistas. As quedas do Ibex e do Dax (ver gráficos) refletem que esta fantasia também está em queda.











A realidade é muito mais forte e perante as atuais expectativas de declínio e de contração econômica, o investimento não tem qualquer perspectiva real positiva. E se com as taxas próximas do 0 por cento o mercado é deprimente, o que ocorrerá quando começar a subida das taxas de juro? Janet Yellen, da Reserva Federal, comprometeu-se a fazê-lo em 2015, dado que as baixas taxas de juro são um câncer para a economia mundial, ao permitirem a criação de bolhas especulativas como as que viveram os ativos bolsistas nos últimos anos. Por isso, a atual correção dos mercados pode acentuar-se ou fazer desaparecer do sistema vários milhares de milhões de euros em cada dia, o que poderia provocar um caos global. Algo para o qual os governos e as instituições como o FMI não teriam resposta, dado que já esgotaram todos os seus recursos... para nada. Outubro foi sempre um mês muito cruel para a economia, e este ano não será exceção.
Artigo de Marco Antonio Moreno, publicado em El Blog Salmón. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

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