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domingo, 28 de dezembro de 2014

Guerra de preços: Arábia Saudita e o fracking

Por Alejandro Nadal

A guerra de preços desencadeada pela Arábia Saudita e outros dos mais poderosos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) vai continuar e pode incendiar-se. Os efeitos sobre a economia mundial vão ser múltiplos: há países vencedores e outros perdedores. Desequilíbrios internacionais farão parte de um processo de profunda reestruturação da economia global.

A recessão global tem sido acompanhada por uma tendência de queda nos preços das principais commodities. O petróleo não é exceção: o preço desmoronou de 137 a 35 dólares por barril, entre junho e dezembro de 2008. O preço em média US$ 61 por barril em 2009. O cartel de grandes produtores administrou a oferta com habilidade e a tendência de alta se recuperou, atingindo uma média de US$ 107 por barril entre 2011 e 2013, apesar de elevada volatilidade marcou o mercado global de petróleo. Como sucede em muitos mercados com estruturas de oligopólio, as perdas da queda inicial causada pela recessão e a volatilidade abriram as portas para uma guerra de preços.

Dois dias atrás, o ministro da Energia da Arábia Saudita declarou em Abu Dhabi que nem a OPEP nem o seu país iria reduzir os atuais níveis de produção de petróleo. Hoje a Opep está bombeando cerca de 30 milhões de barris de petróleo para o mercado mundial, o equivalente a um terço do consumo mundial de petróleo. O mercado está saturado e o preço do petróleo caiu de US$ 115/barril em junho deste ano, para US$ 62/barril. É claro que Riad embarcou em uma guerra de preços sem quartel.

Por que a Arábia Saudita insiste em manter altos níveis de produção e promover a queda dos preços do petróleo? Há muitas hipóteses sobre quem podem ser os inimigos a quem se dirige a ofensiva saudita, mas certamente o principal é a indústria dos EUA de extração de gás e petróleo com o método de fraturamento hidráulico e perfuração direcional. A Arábia Saudita procura manter os preços para baixo por tanto tempo quanto necessário para quebrar o backbone da jovem indústria de nos Estados Unidos.

Para conseguir isso, a Arábia Saudita deve manter os preços abaixo do nível de custo de produção nas áreas de fracking dos EUA para um tempo suficientemente longo (a produção já não é rentável quando os preços estão abaixo do custo de extração e comercialização). Para se ter uma ideia do nível de preços necessário para quebrar a indústria de fracking é importante ter dados sobre os custos unitários de produção nos campos mais representativos da indústria americana. Os dados revelam o seguinte: a um preço de US$ 70/barril, 90 por cento dos campos nos Estados Unidos poderiam continuar a operar de forma lucrativa. Mas as coisas mudam radicalmente quando os preços atingem US$ 60/barril: cerca de 40 por cento da produção por meio de fraturamento hidráulico, nos Estados Unidos, torna-se pouco competitiva (o custo de extração é mais elevado do que o preço de venda). Um dos três maiores produtores de fracking nos EUA é o estado de Dakota do Norte, onde o Bakken resort no ano passado produziu 300 mil barris, tornando-se a estrela do fracking americano. Mas os custos unitários de produção em Bakken ultrapassam US$ 60/barril. AArábia Saudita sabe disso e está determinada a retirar esses e outros produtores do jogo.

Até onde está determinada a ir a Arábia Saudita? Para vencer uma guerra de preços não só precisa ter estruturas de custos eficientes que permitem baixar os preços sem incorrer em prejuízos. Você também precisa ter profundas reservas que dão a capacidade de resistir a redução nos lucros. A Arábia Saudita tem ambos. O custo de produção de sua Arabian Light é significativamente menor do que ao de West Texas e Brent International, as duas referências mais importantes no mercado mundial e as suas reservas líquidas são mais elevados do que os 900 bilhões de dólares.

Face ao exposto, não admira que o prognóstico de muitos analistas e da própria OPEP de que em 2015 o preço médio do petróleo continuará a ser em torno de 60 ou US$ 55/barril. O objetivo é estourar a indústria de petróleo dos EUA a partir do fracking. Parece que a estratégia de Riad está no caminho certo, este ano o número de pedidos de abertura de novos poços caiu 40 por cento. Além disso, tem-se que considerar que muitos produtores norte-americanos têm se endividado para iniciar suas operações e os encargos financeiros agora começam a pesaram muito mais, especialmente com mudanças na política monetária anunciadas para o próximo ano. As coisas não estão boas para a indústria de petróleo de fracking. Quanto ao problema das alterações climáticas, já há quem nem se lembre da cúpula de Lima há duas semanas.

Publicado  em Sin Permisso

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