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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Crise na Síria - Crise na Coreia - Onde anda Guterres?

No meio de tudo isto, uma voz tem faltado - a do novo secretário-geral da ONU. António Guterres falou de "crimes de guerra" e apelou à contenção, mas as suas intervenções têm passado despercebidas. (...) É certo que Guterres - cuja seriedade, dedicação e empenho não se questionam - não tem tido sorte nestes primeiros 100 dias no exercício do cargo.

por Carlos Fino

De um momento para o outro, a tensão político-militar no mundo agravou-se drasticamente - na Síria houve um ataque com armas químicas, os EUA bombardearam território sírio e uma esquadra americana vai a caminho da Coreia...que já advertiu que irá responder com armas atômicas se for atacada.
Como observou certa vez o senador norteamericano Hiram Johnson (1866-1945), "sempre que uma guerra se aproxima, a primeira vítima é a verdade".
Esta vez não é exceção.
Os EUA, sobre os quais ainda se projeta a pesada sombra da colossal mentira das armas de destruição em massa com que tentaram justificar a última guerra do Iraque, têm dito tudo e o seu contrário.
Há apenas uma semana atrás, pareciam conformados com a permanência de Assad no poder; agora, querem de novo afastá-lo, intimando a Rússia a deixar de o apoiar sob pena de mais isolamento.
Os russos, por seu turno, falam de provocação, mas não me consta que tenham pressionado Assad a facilitar o necessário trabalho de investigação das Nações Unidas.
Entretanto, quando o secretário de estado americano Rex Tillerson acusa Moscou de ser o garante pelas destruição do arsenal químico da Síria está a dizer uma meia verdade.
Moscou foi o garante político do acordo, mas o responsável por esse trabalho - em que participaram também os americanos - foi a OPCW - a Organização para a Proibição das Armas Químicas - distinguida em 2013 com o Prêmio Nobel da Paz.
Na confusão em que se tornou a Síria desde 2011, com dezenas de grupos armados apoiados financeira e militarmente por diferentes países - Rússia e Irã de um lado, EUA, Turquia, Arábia Saudita e Qatar do outro, com o Estado desfeito e sem controlo efetivo de boa parte do território, incluindo nas zonas de fronteira, quem pode garantir que não haja infiltração de arsenal químico para ser usado como provocação por qualquer das partes, incluindo Damasco?
No meio de tudo isto, uma voz tem faltado - a do novo secretário-geral da ONU.
António Guterres falou de "crimes de guerra" e apelou à contenção, mas as suas intervenções têm passado despercebidas.
Quando da crise de 2013, em que também esteve em causa a utilização de armas químicas na Síria, o antecessor de Guterres, Ban ki moon, foi mais veemente - interveio para lembrar que qualquer ação armada de um país contra outro sem autorização prévia do Conselho de Segurança constitui violação da Carta das Nações Unidas.
É certo que Guterres - cuja seriedade, dedicação e empenho não se questionam - não tem tido sorte nestes primeiros 100 dias no exercício do cargo. As crises - da fome em África e no Iêmen ao escalar das tensões na Síria e na Coreia, sucedem-se a um ritmo alucinante, mal lhe dando tempo para respirar.
Por outro lado, a administração Trump ameaçou reduzir as verbas para o financiamento da ONU e a embaixadora americana Nikki Haley já interveio mais de uma vez para liquidar iniciativas do novo secretário-geral.
Mas justamente por isso Guterres teria toda a vantagem em ser mais assertivo e assumir mais enfaticamente a defesa das Nações Unidas e dos seus princípios.
Até agora, apesar da sua inquestionável boa vontade, tem-lhe faltado "punch" para estar à altura dos perigos que corre a paz mundial.

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