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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Joseph de Maistre, Caicó e o lixo


"Cada povo tem o governo que merece" esta frase foi dita pelo filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821), um inimigo incansável dos ideais da Revolução Francesa e, por isso, mesmo, em seu contexto histórico um reacionário. Maistre desacreditava do princípio democrático do voto, outra frase sua muito conhecida diz: "Sai vitorioso das urnas o candidato que fala o que o povo quer, e não o que precisa ouvir". Maistre, embora a lógica dessas suas frases salte aos olhos, foi "derrotado por um conterrâneo seu, o ilustre viajante-filósofo Alexis de Tocqueville, até hoje o maior teórico d´A Democracia na América, crendo que a humanidade tenderia para a liberdade descreveu a democracia coerentemente dosada pelo "aristocratismo" particular; era a República da União Americana, vacinada pela legalidade jurídica (constitucionalismo) contra o populismo e a demagogia.
O Brasil mesmo tendo adotado o modelo legal americano padeceu do mesmo mal ainda verificado por Tocqueville no México, as leis eram as mesmas dos Estados Unidos, mas os costumes eram outros. Ainda no Reinado de Pedro II o impecável Machado de Assis disse que o problema no Brasil não passava por uma mudança de regime, mas estava agarrado no oligarquismo absoluto. Outro magistral cronista do fim do império e início da República, o pernambucano Joaquim Nabuco, observou a dificuldade de se sair para a sociedade no Brasil pelas próprias pernas, tudo tente para a sombra do setor público, um setor público atrofiado. Do alemão Friedrich Nietzsche trazemos o mal do rebanho, o homem curvado pelo farisaísmo dos sacerdotes católicos e os mandões usando os mesmos "valores" para manterem um statu quo decadente.
A esta altura, século XXI, mesmo em um país atrasado como o Brasil as eleições precisam ocorrer por mais horrorosos que seja o voto, até porque pode ter a certeza de o que se ver muito ruim hoje já foi pior. As eleições no Brasil de certa maneira precedem as torcidas organizadas dos times de futebol, quando há eleições se corre, grita e provoca os adversários, quando passa o pleito, o jogo, se aproveita dos privilégios concedidos pelo chefe, no caso do setor público o empreguismo.
Se o princípio democrático venceu as aristocracias, outro fator vitorioso da modernidade fora a ciência. Antes da bacteriologia a Europa foi arrasada pela epidemia da peste bubônica (peste negra), espalhada pelo continente através dos ratos. Mais tarde, no século XIX, o industrial que se tornaria o mais rico do mundo morrera vítima de uma infecção causada depois de realizar uma pequena cirurgia, não se esterilizava os equipamentos cirúrgicos. A ciência moderna e a bacteriologia induziu a uma melhora gigante nos hábitos de higiene, as nações modernas passaram a cada vez mais cuidar do lixo adequadamente, embora seja um problema desta era em virtude da grande quantidade de resíduos.
No Brasil o atraso perdura, tivemos recentemente uma epidemia medieval de microcefalia, provavelmente causada pelo mosquito Aedes Aegypt, o mesmo que todos os anos preenche as estatísticas da dengue. A nação é sebosa e atrasada. Dos ricos aos pobres, todos jogamos lixo e não nos incomodamos em depositar entulho de poda de árvores em algum local afastado de cada uma de nossas residências. O fato é que não dá para jogar todo o lixo de uma cidade e os restos de poda de árvores embaixo de algum tapeta, para algum lugar ela vai.
A sociedade brasileira, na visão de Gilberto Freyre, divide-se entre a casa e a rua. A casa antro de moralidade, na rua pode-se tudo. A casa, segundo Gilberto, despreza a rua. Nas cidades brasileiras, e aqui em Caicó vejo a cada virada no olhar, calçadas com rampas na porta das casas, como se a calçada pública pertencesse à casa, churrasqueiras e assadores de frangos no passeio urbano e até calçada revestida com cerâmica. O poder público, logicamente, padece com os males da casa, usar o público como se fosse posse, visível na distribuição de empregos, cada secretário emprega na prefeitura seus parentes, os vereadores distribuem cargos, etc. Mas o público sofre ainda do mal da rua, ou seja, diferente da casa, onde os bens são privados e por isso egoisticamente zelados, a coisa pública além de ganhar o viés de posse é usado como se diz, "com as venta", desperdício de recursos e outras corrupções.
Na Rua Teresa Medeiros, Bairro Boa Passagem, uma rua sem infraestrutura alguma, de repente uma "coivara" gigantesca, um começa os outros seguem, assim funciona nas nossas cidades: se um fizer uma porcaria os demais justificam poder fazer pelo fato de que "todo mundo faz". Essa rua é um depósito incrível de entulho de poda de árvores, seguida pela colocação de sacolas de lixo, um instinto demoníaco, o mato induz ao ato de jogar lixo dentro e até animais mortos, tudo incentivando a proliferação de ratos e mosquitos, por que existe lixo plástico. A prefeitura não vem retirar tão fácil, se vier passa alguns dias e tudo recomeça. As micaretas das campanhas eleitorais, são também por óbvio, alguma forma de jogar lixo nas ruas...

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