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sábado, 13 de junho de 2015

A crise brasileira em números

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“O desgaste do PT se agrava no Governo Dilma. O projeto desenvolvimentista começa
com o massacre dos povos indígenas, passa por Kátia Abreu e termina com
austeridade fiscal. Nós lembramos bem que a presidenta
prometeu que não haveria arrocho”.
Rosana Pinheiro-Machado

retrato do país

Não há notícias boas no campo da economia brasileira. Os números são todos desfavoráveis e tendem a se agravar, fazendo do Brasil o país que nunca alcança o seu futuro.
Segundo dados apresentados em artigo do principal ministro da ditadura militar e um dos principais assessores econômicos do ex-presidente Lula – Delfim Neto – a situação macroeconômica do país está ruim e piorando.
Depois de uma estagnação em 2014, o PIB deve cair no mínimo 1,5% em 2015, enquanto a economia internacional tem crescido acima de 3%. O setor mais atingido tem sido a indústria, fazendo do Brasil um triste exemplo de desindustrialização precoce. Mesmo com a desvalorização cambial o país continua apresentando déficit nas transações de produtos industrializados com o resto do mundo.
O déficit primário de 2014 e os investimentos subsidiados a setores escolhidos da economia (sem aumento das taxas de investimentos) fizeram aumentar a dívida bruta que, em percentagem do PIB, passou de 54,8% em 2012 para 63% em 2015.
A dívida externa também cresce e a conta do Balanço de Pagamento com o exterior se deteriora rapidamente. Em abril de 2015, o rombo nas contas externas superou as projeções do BC e somou 6,9 bilhões de dólares. Assim, a conta de transações correntes teve um déficit em 12 meses que foi de US$ 100,2 bilhões, ou 4,5% do PIB
Este número escandaloso contribui para o aumento das taxas de juros que por sua vez aumenta o déficit público nominal e contribui para jogar a economia na recessão. Um déficit público de 8% do PIB é um desastre, totalmente insustentável e requer ajustes fiscais permanentes e profundos.
Como disse o ministro Joaquim Levy: “o dinheiro acabou”. Mesmo depois do precário e confuso ajuste fiscal aprovado a trancos e barrancos no Congresso, a perspectiva futura continua sendo de mais cortes orçamentários, paralisia da máquina estatal, redução do gasto social, aumento da carga tributária e agravamento das condições sociais nas áreas de saúde, educação, habitação, segurança, emprego e renda. O sonho neodesenvolvimentista e neocorporativista está virando pesadelo.
O gráfico abaixo mostra a deterioração do emprego formal no Brasil. Em abril de 2010 foram gerados 305,1 mil empregos. No ano seguinte foram gerados 272,2 mil. Em abril de 2012 foram gerados 216,9 mil. Em abril de 2013 o número de empregos formais ficou abaixo de 200 mil e, com certeza, este baixo desempenho contribuiu para as manifestações de rua que ocorreu em junho de 2013.
Mas em vez de melhorar, a geração de emprego formal em abril de 2014 – ano de eleições gerais – ficou em 105,4 mil. Porém, o colapso aconteceu em abril de 2015 quando foram fechados 97,8 mil empregos formais no Brasil. As greves de professores e as manifestações do 29 de maio de 2015 foram somente o aperitivo de novas mobilizações que devem ocorrer na esteira do ajuste fiscal.

comportamento do emprego formal

Segundo dados da Pnad Contínua, que entrevista pessoas em mais 3.500 municípios do país, a taxa de desemprego teve a maior alta da série (que começou em 2012), terminando trimestre até abril em 8%. A pesquisa do IBGE estima que o contingente de trabalhadores que procuravam e não encontraram um emprego chegou a 8 milhões de pessoas.
Estudo de Ricardo Paes de Barros et. al (2013), publicado pela SAE, mostra que a produtividade do trabalho no Brasil está estagnada, o que compromete o desempenho econômico. Pelo quinto ano seguido o Brasil perdeu posições no Ranking de Competitividade Global 2015, divulgado pelo International Institute For Management Development (IMD), caindo da 54ª para a 56ª posição em um grupo de 61 países, a pior colocação desde que a pesquisa foi lançada, em 1989. Assim, sem aumento da produtividade do trabalho e sem competitividade internacional o Brasil fica preso à “armadilha da renda média” e atolado na “estagnação secular”.
O momento requereria que os governantes atuassem como estadistas. Porém, A presidenta Dilma Rousseff está isolada no Planalto e com dificuldades de comunicação com a população. O ministro da Fazenda não consegue aprovar os cortes no tamanho necessário, pois os congressistas alteraram as propostas originais e até setores do PT são contra os planos da “Chefa” de governo. Os presidentes da Câmara e do Senado não se entendem entre si e os dois discordam do vice-presidente da República, Michel Temer. Ou seja, falta liderança política em uma situação de crise econômica. O maior partido da oposição, o PSDB, não tem proposta clara para mudar os atuais rumos do país. Nos demais partidos prevalece a confusão e a fragmentação.
No final de novembro do ano passado escrevi o artigo “O fim do crescimento econômico e a década perdida 2.0” (Ecodebate, 28/11/2014) em que já falava sobe a possibilidade de uma outra década perdida no Brasil, com a consequente regressão na situação social e política. Os primeiros meses do segundo governo Dilma só reforçam as expectativas pessimistas.Com o fim precoce do bônus demográfico, podemos não só ter uma nova década perdida, mas até mesmo o fim do desenvolvimento e a “estagnação secular” junto com a “armadilha da renda média”, deixando o Brasil sem futuro.
O economista e cientista político, César Benjamin – histórico militante de esquerda – também tem dito que o Brasil vive a sua maior crise econômica da história republicana. Ele fez uma análise detalhada da crise atual no evento “Diálogo Brasil: reflexões sobre a crise e os caminhos democráticos” na sede nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), organizado pelas Fundações de partidos políticos (PSB, PPS, PV e SD), ocorrido em 24 de março de 2015. Benjamin considera que as parcelas da população que estavam à margem do desenvolvimento foram incluídas na sociedade, nos últimos 12 anos, mas pelo lado do consumo e não da cidadania. Segundo Benjamin, o retrocesso do emprego e da renda devem provocar grandes mobilizações de protesto e o sistema político brasileiro pode naufragar. Em artigo na Revista Piauí, ele fala da crise econômica brasileira, a dissolução da esquerda e o legado conservador do lulismo.
A situação é grave. O Brasil vive um clima tempestuoso, próprio de uma tempestade perfeita, juntando as crises econômica, social, moral, política e ambiental. Mas como disse a música: “desesperar jamais”. Tomara que o temporal passe logo e a bonança chegue rápido. A esperança é a última que morre.
Referências:
ALVES, JED. O fim do crescimento econômico e a década perdida 2.0, Ecodebate, RJ, 28/11/2014

ALVES, JED. O pior quinquênio (2011-15) da economia brasileira em 115 anos? , Ecodebate, RJ, 17/04/2015 http://www.ecodebate.com.br/2015/04/17/o-pior-quinquenio-2011-15-da-economia-brasileira-em-115-anos-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Delfim Neto. O futuro é mais embaixo, jornal Valor, SP, 26/05/2015
Ricardo Paes de Barros. Determinantes da Produtividade Do Trabalho para a Estratégia sobre Sustentabilidade e Promoção da Classe Média, SAE, Brasília, setembro de 2013
Rosana Pinheiro-Machado. A falência do PT, a ascensão da direita e a esquerda órfã, Carta Capital, SP, 26/05/2015 http://www.ihu.unisinos.br/noticias/542946-a-falencia-do-pt-a-ascensao-da-direita-e-a-esquerda-orfa
César Benjamin. “O sistema político irá naufragar”, 24 de março de 2015

César Benjamin. É pau, é pedra, é o fim de um caminho, Revista Piaui, Edição 103, Abril de 2015


José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Publicado no Portal EcoDebate, 12/06/2015

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