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domingo, 3 de abril de 2011

Ruim, mas melhor





          À primeira vista, o sonho de um mundo livre da pobreza, doença e desespero pode parecer tão longínquo quanto sempre foi. Nos anos 1990, efetivamente, sessenta países empobreceram. A cada dia, 30 mil crianças morrem de doenças evitáveis. Com a difusão do HIV, a aids tornou-se mais mortífera da história humana. Mas um exame mais detalhado dos fatos revela que em algumas áreas do mundo em desenvolvimento vêm ocorrendo enormes progressos. No decorrer dos últimos 30 anos, a expectativa de vida aumentou em 10 anos. O analfabetismo adulto foi reduzido à metade. A mortalidade infantil caiu em 40%. Tais progressos foram possibilitados, em grande parte, por uma assistência internacional controlada.
          Agora a comunidade internacional está começando um novo ataque, coerente e eminentemente factível, contra a pobreza global. O foco desse esforço são as metas de desenvolvimento para o milênio (MDMs) - oito compromissos, tirados da declaração do milênio e endossados por todos os países membros da ONU em setembro de 2000. Desde diminuir à metade a pobreza extrema até paralisar a difusão do HIV e fornecer educação primária universal - tudo isso até 2015. Eles representam um conjunto de objetivos simples, mas poderosos, que todas as pessoas nas ruas de Nova York a Nairóbi, de Nairóbi a Nova Délhi, podem facilmente entender e apoiar.
           Por que as metas do milênio seriam diferentes de tantos compromissos ousados que viraram promessas quebradas nos últimos 50 anos?
                  Primeiro, as MDMs se concentram em pessoas, têm um prazo e são mensuráveis. Uma queixa clássica sobre os aauxílios ao desenvolvimento é que recursos não-coordenados e não-direcionados tendem a ser desperdiçados por corrupção e mau gerenciamento. Frequentemente, não há mecanismos para acompanhar os progressos e assegurar as responsabilidades. Mas, agora, temos um conjunto de indicadores claros, mensuráveis, focalizados nas necessidades humanas básicas, que podem fornecer índices claros de progresso - ou de falta dele - tanto globalmente quanto por país.
                  Em segundo lugar as MDMs, gozam de um apoio político inédito. Nunca metas conncretas como essas haviam sido formalmente endossadas por comunidades ricas ou pobres. Nunca as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e todos os principais braços do sistema internacional haviam se unido por trás do mesmo conjunto de objetivos de desenvolvimento.
                  Em terceiro, trata-se de metes possíveis. Tomem, por exemplo, a meta de diminuir a pobreza à metade. O número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia é de cerca de 1,2 bilhão - e pouco mudou desde o fim dos anos 1980. Mas esse número disfarça alguns enormes sucessos. O leste da Ásia via a proporção de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia despencar de 28 para 14% em uma década. Mesmo na África, onde cerca de 50% da população ainda vive em terrível pobreza, certo número de países sustentou taxas de crescimento de 7 a 8% ao ano - o suficiente para que atinjam a meta de diminuir a pobreza à metade até 2015.
                Não obstante, o progresso geral tem sido, na melhor das hipóteses, desigual. Não há nenhuma maré cheia na economia global que levante todos os barcos. Governos bons, democráticos, e estratégias sadias de desenvolvimento são essenciais. Mas devemos reconhecer que uma verdadeira parceria entre países desenvolvidos e em desenvolvimento é vital, se quisermos combater os círculos viciosos da pobreza, da fome e da degradação ambiental.

         (adaptado de: Kofi Annam. exame/the economist,25 dez.2002.)


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