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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A carta em que Orwell explica “1984”

Ninguém compreendeu tão bem o século XX como George Orwell. Este mês foi publicado “George Orwell: A Life in Letters”. O livro contém uma carta fascinante onde Orwell explica a tese principal do livro “1984″, escrito dois anos depois. Artigo de Alberto Sicilia.
Capa de uma edição francesa de "1984", de George Orwell
[A versão completa da carta pode ser lida aqui]
«Receio que, desgraçadamente, o totalitarismo cresça no mundo.
Hitler desaparecerá em breve, mas só à custa do fortalecimento de: 1) Estaline, 2) milionários americanos e ingleses e 3) todo o tipo de pequenos “fuhrers” ao estilo de De Gaulle.
[…]
No futuro próximo, dois ou três superpoderes controlarão o mundo, 2+2 será igual a 5, se o “fuhrer” de turno assim o desejar.
[…]
A maior parte da elite intelectual inglesa opõe-se a Hitler, mas só em troca do apoio a Estaline. A maioria deles apoiam métodos ditatoriais, polícias secretas e a sistemática falsificação da Historia sempre que beneficie “os nossos”.
Mas se alguém proclama que “tudo é por uma boa causa” e não reconhece os sintomas sinistros, na realidade só ajuda a fortalecer o totalitarismo.
Desde que a guerra contra o totalitarismo começou, em 1936 [Orwell combateu com os republicanos durante a Guerra Civil], creio que a nossa causa é a melhor. Mas para que continue a ser a melhor, necessitamos duma autocrítica constante.»
Orwell escreveu esta carta na sua casa, situada no bairro londrino de Mortimer Crescent, em 18 de maio de 1944. Duas semanas depois, um míssil V-1 alemão destroçava Mortimer Crescent. Conto-vos isto porque sempre me fascinaram os dois primeiros parágrafos de “The Lion and the Unicorn: Socialism and the English Genius” que tinha escrito três anos antes. (Nessa obra Orwell propões uma revolução socialista e democrática na Inglaterra em oposição ao estalinismo soviético).
«Enquanto escrevo isto, seres humanos muito civilizados voam sobre a minha cabeça, tratando de matar-me.
Eles não sentem nenhuma inimizade para comigo enquanto indivíduo. Só estão "a fazer o seu trabalho", como diz o provérbio. A maioria deles, não tenho nenhuma dúvida, são boa gente e jamais cometeriam um assassinato na sua vida privada. Por outro lado, se algum me conseguir matar hoje também não terá nenhum pesadelo. "Estão a servir o seu país" e isso parece que os absolve de todo o mal.»

Artigo publicado no blogue Principia Marsupia

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