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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

China: Um problema demográfico sem precedentes

A sociedade chinesa está em vésperas de uma transformação estrutural ainda mais profunda que o longo e penoso projeto de reequilíbrio económico, que o Partido Comunista da China (PCC) está ansiosamente a começar a impulsionar.
A população chinesa está a envelhecer mais depressa do que enriquece, gerando um forte desequilíbrio demográfico que terá importantes implicações nos esforços do PCC para transformar a economia chinesa e conservar o seu próprio poder na próxima décadas.

Duas reportagens publicadas na mídia chinesa destacam diferentes aspectos da crise demográfica que está a evidenciar-se neste país. O Ministério de Educação informou, a 21 de agosto, que, em 2012, tinham fechado mais de 13.600 escolas primárias em todo o país. O relatório alude à mudança pronunciada do perfil demográfico de Chinesa para justificar esses encerramentos, assinalando, que entre 2011 e 2012, o número de alunos nas escolas primárias e secundárias desceu de quase 150 milhões para 145 milhões. Também confirmou que, entre 2002 e 2012, o número de alunos matriculados na escola primária desceu quase 20%. O relatório ministerial surge um dia após um artigo publicado no Diário do Povo, o jornal do governo, ter advertido para a iminente crise da segurança social chinesa perante a expectativa de que o número de idosos aumentará de 194 milhões em 2012 para 300 milhões em 2025.
O PCC já está a propor medidas para contrariar, ou pelo menos limitar, o impacto no curto prazo das mudanças demográficas na sociedade chinesa. Por um lado, acaricia a ideia de relaxar a política do filho único numa tentativa de incrementar a taxa de fertilidade, mais recentemente com um potencial programa piloto em Shanghái que permitiria aos casais que têm um único filho ter um segundo. Por outro lado, o governo propôs aumentar a idade legal da reforma dos 55 para os 60 anos para as mulheres e dos 60 para os 65 anos para os homens. Se implementada, esta medida aproximaria a política de aposentação chinesa aos standards internacionais e adiaria algumas das pressões financeiras e sociais geradas pelo forte aumento de aposentados dependentes das pensões públicas e do cuidado dos seus filhos.
Mas, até uma mudança radical da política de filho único ou um ajuste drástico da idade legal de reforma apenas criariam amortecedores temporários e parciais face ao problema da mudança demográfica. Já não é claro que a política de filho único tenha algum efeito relevante no crescimento da população chinesa. A baixa taxa de fertilidade do país (1,4 filhos por mãe, comparada a uma média de 1,7 nos países desenvolvidos e de 2,0 nos EUA) é, pelo menos, tanto um reflexo da luta dos casais urbanos para fazer frente ao rápido aumento do custo da vida e da educação em muitas cidades chinesas, como da aplicação draconiana da política.
Do mesmo modo, o atraso de cinco anos da idade da reforma não fará mais que adiar parcialmente o inevitável, e, além disso, chocará com uma tenaz oposição de importantes sectores profissionais, entre eles numerosos funcionários públicos. Ao ajustar a idade da reforma, o governo também corre o risco de agravar a crise do emprego entre o número rapidamente crescente de licenciados universitários no desemprego, muitos dos quais esperam aceder ao mercado de trabalho à medida que os trabalhadores mais velhos abandonam o mercado de trabalho. Neste contexto, o PCC tem de ponderar cuidadosamente os ajustes da sua política, já que qualquer mudança que introduza num área gerará provavelmente novas tensões noutro sector da força de trabalho.
O cerne do desafio demográfico na China reside no facto de que, ao contrário do Japão, Coreia do Sul, EUA e dos países da Europa ocidental, a população chinesa envelhecerá antes de a maioria estar sequer perto de um nível de rendimento médio, e, muito menos, alto. Isto não tem antecedentes históricos, e as suas implicações tornam-se ainda mais imprevisíveis pela sua coincidência com a mudança forçada da economia chinesa, que se afasta do modelo baseado na exploração de uma mão de obra barata e inesgotável, aproximando-se de outro modelo em se que se espera que os jovens chineses sustentem a vida económica do país como trabalhadores e consumidores. Um adiamento temporário da crise demográfica será difícil, mas possível, com a reforma, mas a longo prazo a solução parece fora do alcance.

 

21 de Agosto de 2013
Tradução para espanhol: VIENTO SUR
Tradução para português: Mariana Carneiro - esquerda.net

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