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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Cruz Vermelha: Austeridade atira europeus para espiral da pobreza

Mediante a imposição de medidas de austeridade, não só há mais pessoas a cair na pobreza na Europa, como também os pobres estão a ficar mais pobres e a desigualdade está a crescer, adianta a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. O impacto da crise estende-se a países “relativamente bem sucedidos”, como a Alemanha.
Foto de Paulete Matos.
A Europa está mais pobre
A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho refere que se tem registado uma diminuição de pobreza a nível mundial, contudo a Europa é excepção. "A pobreza está disseminada pela Europa. Dos 52 países incluídos no estudo, 34 registam taxas de dois dígitos na proporção de pessoas pobres", salienta.
“Face a 2009, são mais milhões de pessoas a ter de enfrentar filas para obter comida, a não conseguir comprar medicamentos e aceder a cuidados médicos. Milhões estão desempregados e muitos daqueles que ainda têm trabalho enfrentam dificuldades para sustentar a sua família devido aos salários insuficientes e ao aumento desmesurado dos preços”, acrescenta a Federação, sublinhando que "não só há mais pessoas a cair na pobreza, mas os pobres estão a ficar mais pobres, e a sensação é de que a diferença entre ricos e pobres está a crescer".
“A quantidade de pessoas que dependem das distribuições de comida da Cruz Vermelha (CV) em 22 dos países analisados aumentou 75% entre 2009 e 2012”, avança ainda, apontando que a CV presta também assistência “legal, financeira, material ou psicológica" a centenas de milhares de pessoas.
No estudo intitulado Think differently: humanitarian impacts of the economic crisis in Europe, a Federação adianta que "existem agora mais de 18 milhões de pessoas a receber apoio alimentar financiado pela União Europeia, 43 milhões que não têm o suficiente para comer diariamente e 120 milhões de pessoas em risco de pobreza em países acompanhados pelo Eurostat".
Com o aprofundamento da crise económica, “milhões de europeus vivem em insegurança, sem certezas sobre o que o futuro lhes reserva. Este é um dos piores estados de espírito para um ser humano. Vemos o desespero silencioso a alastrar entre os europeus, que resulta em depressões, resignação e perda de esperança”, refere o documento.
Os novos pobres
Segundo a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, "muitos daqueles que pertenciam à classe média caíram na espiral da pobreza”.
"Há cinco anos seria inimaginável tantos milhões de Europeus em fila para conseguirem comida. Antigos cidadãos da classe média a viver em caravanas, tendas, estações de comboios ou abrigos para sem-abrigo e a hesitarem em recorrer à Cruz Vermelha e a outras organizações para pedir ajuda", retrata o relatório apresentado esta semana.
"Muitas sociedades nacionais nos Balcãs, mas também em França, Itália e Portugal, estão a relatar um ‘novo tipo' de pessoas a solicitar apoio - famílias trabalhadoras que não conseguem cobrir todos os seus custos básicos e que no final do mês enfrentam um dilema - comprar comida ou pagar a renda e as contas de electricidade e de água", avança.
O aumento do desemprego é um indicador do aprofundamento da crise
Conforme menciona o estudo, dos mais de 26 milhões de desempregados na UE, 11 milhões são desempregados de longa duração, quase o dobro do nível de há cinco anos atrás, quando a crise financeira internacional eclodiu em os EUA.
“A taxa alcançada pelo desemprego nos últimos dois anos por si só é um indicador do aprofundamento da crise, com severos custos pessoais como consequência, e possível instabilidade e extremismo como risco. Combinado com o aumento do custo de vida, esta é uma combinação perigosa”, alerta o relatório de 68 páginas.
Efeitos da crise estendem-se à Alemanha
O impacto da crise “não se confinou”, segundo a Federação, “aos países devastados pela crise, e sujeitos a uma intervenção externa, do Sul da Europa e Irlanda”, estendendo-se a países europeus “relativamente bem sucedidos”, como a Alemanha.
No país chefiado pela chanceler Angela Merkel, um quarto dos trabalhadores recebe atualmente baixos salários. Quase metade das novas contratações, registadas desde 2008, refere-se a trabalhos mal pagos, precários, com pouca, ou nenhuma, protecção social. Em agosto de 2012, quase 600.000 trabalhadores alemães “tiveram de pedir benefícios adicionais para pagar as suas contas”.
Já em França, entre 2008 e 2011, 350.000 pessoas passaram a estar abaixo do limiar da pobreza.
O estudo relata igualmente uma tendência crescente de migração intra-europeia, principalmente de leste para oeste, em busca de trabalho.
"A Europa enfrenta a sua pior crise humanitária das últimas seis décadas”
"A Europa enfrenta a sua pior crise humanitária das últimas seis décadas. As vidas das pessoas foram viradas do avesso e a degradação parece estar a aumentar, com milhões a sobreviverem dia a dia, sem poupanças ou algo que possa amortecer despesas imprevistas", adiantou o secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, Bekele Geleta.
"Apesar de compreendermos que os governos precisam de poupar dinheiro, alertamos vivamente contra a aplicação de cortes indiscriminados na saúde pública e na Segurança Social, porque podem custar ainda mais a longo prazo", alertou o responsável.

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