Publicado na edição 811 do Observatório de Imprensa
Não é segredo para ninguém no Brasil que, mesmo estando vedado pelo texto constitucional, políticos profissionais detêm concessões de emissoras afiliadas às grandes redes nacionais de televisão e abocanham as concessões de rádios pelos interiores do país. Em 2008, o Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom) divulgou uma estimativa onde dava conta de que naquele ano 271 políticos com mandatos detinham concessões.
A Constituição veda, mas surge o debate: se possuir uma emissora e não puder ser candidato não seria uma limitação de direitos políticos? Os críticos alegam que o detentor de uma concessão estaria em vantagem logo na largada; Ou, de qualquer maneira os empresários da comunicação terão seus apoios políticos-eleitorais e seus meios continuarão a intrometerem-se no processo? O que sabemos é que o poder midiático detém um poder de persuasão avassalador, por isso as controvérsias.
É difícil ou impossível afastar a mídia do controle eleitoral. Ela é um mecanismo moderno de persuasão; mesmo uma lei como a Ley de Medios argentina não consegue isentar – a ideia é apenas abrir a possibilidades de que mais grupos possam deter concessões, equilibrando assim as chances para não haver um domínio sem deixar espaços para outras vozes políticas, não no sentido eleitoral, mas no jogo das ideias, poderem criar conteúdo. A internet é um mecanismo, nesse ponto de vista, pelo menos aparentemente, bem mais “democrático”.
“Destruidor de hipocrisias”
Agora queria analisar um assunto midiático, atravessado nesse contexto, que no Brasil é chocante: noticiário policial. Por que as TVs ou rádios de quem tem o poder (cargo eletivo) exibe esse tipo midiático intercalando “críticas cidadãs” nesses programas, aos próprios donos, como aparenta ser? Nem tudo que reluz é ouro, o noticiário policial não abre o espaço para o surgimento de críticas efetivas, ele é reacionário, justamente por criar medo.
O sujeito perfeito para apresentar noticiário policial é aquele tido como um “destruidor impecável de hipocrisias”, quando na verdade é um grande fortalecedor de hipocrisias. Os berros, o dar ao povo o que o povo quer, não tem esse sentido de ser popular, o que nasce daí são pautas conservadoras.
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