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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Mar de sombrinhas no centro de Hong Kong

Manifestação vem provar que a luta pela democracia continua viva, apesar do impasse político a que chegaram as negociações entre o governo de Hong Kong e os estudantes.

Tomi Mori

Apesar da intransigência da ditadura de Pequim, a população mantém a luta pela democracia. Foto do South China Morning Star
Apesar da intransigência da ditadura de Pequim, a população mantém a luta pela democracia. Foto do South China Morning Star

Um mar de sombrinhas toma conta do centro de Hong Kong neste momento. São milhares de manifestantes que, mesmo sem estar a chover, estão reunidos a segurar as suas sombrinhas para demonstrar que, apesar da intransigência da ditadura de Pequim, a população mantém a luta pela democracia.
Esta noite faz exatamente um mês que a polícia atacou os manifestantes de Hong Kong com gás pimenta e, por esse motivo, manifestam-se para provar que a luta continua viva.
Na semana passada houve, devido à forte pressão do movimento, uma reunião entre representantes do governo de Hong Kong e líderes estudantis. O encontro terminou sem que o governo concordasse com as reivindicações apresentadas pelos dirigentes estudantis, como se era de esperar. Manteve-se assim o atual impasse político, que já se estende há mais de um mês, desde que começou a greve dos estudantes universitários, em 22 de setembro.
Impasse dos dois lados
O governo continua incapaz de acabar com a ocupação, que se mantém em três áreas da cidade: Admiralty, Causeway Bay e Mong Kok. A incapacidade de usar uma feroz repressão, que é a marca registada de Pequim, demonstra a impotência política que vive neste momento. O que é muito longe de ser tolerância democrática ou, mesmo, uma nova política de reformas na China.
Depois da reunião, tampouco as lideranças da Revolução das Sombrinhas apresentaram propostas claras de luta e continuidade do movimento. O facto é que as bases da ocupação sempre se mostraram mais resolutas que os seus dirigentes, o que explica a continuidade da luta apesar do impasse político existente.
E possível uma democracia em Hong Kong, sem uma democracia em toda a China?
A história dos últimos 65 anos, desde a vitória da Revolução Chinesa, em 1949, tem demonstrado que a democracia, uma verdadeira, onde as pessoas decidam sobre o seu próprio destino, se mantém inexistente em solo chinês. Os atuais líderes chineses, Xi Jinping e Li Keqiang, têm atuado com mão dura e reprimido qualquer dissidência. A luta de camarilhas, agora burguesas, mantém-se, como vemos, com a prisão de altos cargos chineses acusados de corrupção. A corrupção, como tem noticiado a imprensa, não é um atributo apenas dos acusados. A família de Xi Jiping, o homem forte da China, possui uma fortuna avaliada em 376 milhões de dólares, impossível de se acumular em condições normais.
Um dos motivos do atual impasse político em Hong Kong reside no facto de que uma parte das lideranças do movimento quer manter a luta nos marcos institucionais, sem procurar abertamente o derrube do regime ditatorial. Essa política, que não é nenhuma novidade histórica, baseia-se em utilizar o movimento apenas como uma arma de pressão mas, temendo que este tome o seu próprio curso histórico, que é o de derrotar a burguesia de Hong Kong e a nova burguesia surgida dentro da restauração capitalista vivida pela China desde a década de 80.
As décadas de colonização inglesa e a atual reintegração à China manteve a classe trabalhadora de Hong Kong sem organizações de massa independentes. Essa fragilidade é um dos elementos que impede uma radicalização da luta.
A luta democrática dos últimos anos, com o derrube de ditaduras como a de Mubarak, no Egito, Kadhafi, na Líbia, mostram claramente que, sem uma radicalização nos métodos de luta não se derruba nenhum governo ou regime.  

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