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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Plantas adaptadas ao semiárido potiguar podem impulsionar produção de biodiesel, aponta estudo da UFRN

Por Luciano Galvão Filho - Agecom UFRN

Duas espécies de plantas bem adaptadas ao semiárido podem incrementar a produção de biodiesel no estado, segundo pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Em estudo conduzido em Apodi, na região Oeste, as culturas do cártamo e da faveleira têm mostrado potencial tanto para serem matérias-primas da extração de óleo, quanto para tornarem-se alternativa de renda para agricultores potiguares.
A ideia é encontrar um cultivo viável para áreas onde a agricultura tradicional enfrenta dificuldades em se estabelecer, devido ao solo empobrecido e ao clima severo da região. Ao mesmo tempo, o projeto quer somar novas variedades de vegetais às matrizes de biocombustíveis brasileiras, com duas novidades: serem espécies apropriadas à lavra no semiárido e que não competem com a plantação de alimentos.


Juliana Espada Lichston, coordenadora do trabalho e professora do Departamento de Botânica e Zoologia da UFRN, explica que as análises avaliam, em detalhes, desde o cultivo das espécies até a capacidade das sementes em serem usadas na produção de biodiesel. Entre outros pormenores, as investigações preocupam-se com fatores como o tempo que as plantas levam para crescer e dar frutos, as características que as tornam mais resistentes às condições extremas, os métodos ideais para armazenar as sementes e a qualidade do óleo extraído.



“Nossa intenção é levar os resultados encontrados para cooperativas, a princípio em Apodi, onde o projeto começou, mas depois para todo o estado”, projeta Juliana Lichston. “Assim conseguiremos alcançar o maior número possível de agricultores familiares, pequenos produtores que hoje desenvolvem outras culturas, algumas delas problemáticas”, afirma.



A pesquisa conta com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Os recursos destinados ao projeto são de aproximadamente R$ 500 mil. No estudo, desenvolvido em parceria com o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFRN), o cártamo e a faveleira são cultivados em uma área de aproximadamente um hectare no município do Oeste Potiguar, onde encontram-se distribuídos em diferentes cenários: plantadas juntas ou separadamente, com ou sem irrigação.



Os dados coletados em campo são complementados com experimentos conduzidos em laboratórios da Universidade e comparados a relatos registrados na literatura científica especializada. Os primeiros resultados aferidos são considerados promissores pelos membros da pesquisa.

Juliana Lichston, coordenadora do trabalho, explica que análises avaliam capacidade das sementes em serem usadas na produção de biodiesel
“São duas espécies de grande potencial para o semiárido. A faveleira é nativa, é uma árvore, perene, que você cultiva, ela cresce e fica a vida toda. Já o cártamo, cultivado tradicionalmente no Sul do Brasil, responde às condições da região acelerando seu ciclo de vida, que passa a ser de dois meses e meio”, comenta Juliana Lichston. “Isso é excelente, porque o produtor consegue rapidamente ter as sementes para a venda ou para a produção de óleo”, avalia.


“Nosso objetivo é aliar as duas plantas, uma de ciclo rápido e uma perene, para ver o quanto elas podem render de fato para os produtores”, continua a coordenadora da iniciativa. “As duas espécies, tanto o cártamo quanto a faveleira, têm um teor altíssimo de óleo, e um óleo muito bom pra biodiesel”, analisa.



Atualmente a participação do cultivo de plantas voltadas à produção de biocombustível na economia do estado “é praticamente zero”, afirma Antônio Carlos Magalhães Alves, coordenador de Agropecuária da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Norte. Segundo o gestor, iniciativas em anos anteriores experimentaram as culturas da mamona e do girassol, mas fracassaram por fatores técnicos e econômicos.



Apesar do cenário pouco desenvolvido, Antônio Carlos acredita que há potencial para crescimento. “A demanda por oleaginosas é grande. Tanto que, hoje, a planta da Petrobras em Guamaré compra soja de outros estados para a extração de biodiesel”, relata.

Transdisciplinaridade


Além de preocupar-se com a aplicação dos estudos na agricultura familiar e na capacidade dos vegetais examinados transformarem-se em fonte de renda sólida para pequenos produtores, as análises desenvolvidas na UFRN também pretendem identificar as características das plantas que as tornam resistentes a condições rigorosas de solo e de clima, assim como entender de que forma elas conseguem produzir boas quantidades de óleo nessas ciscunstâncias.



João Paulo Matos Santos Lima, colaborador do projeto e professor do Departamento de Bioquímica da UFRN, explica que são verificadas sementes em fase inicial. Observam-se genes expressos que apresentem diferenças em relação às espécies atualmente exploradas comercialmente, como a soja e o milho, que possam significar maior resistência à seca, ao solo salino e à alta temperatura.



“A ideia é compreender o metabolismo”, diz João Paulo Lima. “Em etapas posteriores, bem posteriores mesmo, poderemos identificar o potencial desses genes serem inseridos em outras plantas e partir para outra estratégia, voltada à biotecnologia, como, por exemplo, produzir uma soja com melhor rendimento e menor necessidade de água. É um caminho muito longo, mas o pontapé inicial é esse que estamos dando”, comenta.



O pesquisador também avalia a longevidade das sementes em diferentes condições de armazenamento, aquelas normalmente utilizadas por pequenos agricultores. A análise verifica as consequências do envelhecimento das sementes no vigor para germinação e na quantidade de óleo disponível.



Marta Costa, professora do Instituto de Química da UFRN, participa do estudo e relaciona as caracetrísticas do plantio do cártamo e da faveleira com as características químicas do óleo extraído a partir de suas sementes. A quantidade de óleo presente nas plantas, o tempo de vida e a qualidade do combustível produzido são examinados pela cientista, que observou, no óleo retirado do cártamo, propriedades semelhantes às de outros vegetais. “O cártamo é adequado para comercialização, assim como a soja e o girassol, já consolidados no mercado para a produção de biodiesel. Ele é competitivo, com uma grande vantagem: é uma espécie que não concorre com a produção de alimentos”, pondera Marta Costa.

As análises da faveleira, por sua vez, encontram-se em fase inicial, com conclusão prevista para 2015. “Pela primeira vez, teremos resultados que correlacionem o cultivo na região com a qualidade do óleo, e isso é muito interessante”, afirma.
Outros benefícios


Além da viabilidade para cultivo em regiões quentes e secas, a faveleira também é capaz de recuperar nutrientes do solo de ambientes degradados, o que os torna, em parte, mais férteis. De acordo com Juliana Espada Lichston, esse foi um dos motivos que levaram à escolha da espécie para a pesquisa.

Pesquisa analisa a possibilidade do volume de gás carbônico capturado ser convertido em créditos de carbono, que podem agregar rentabilidade à produção


“O semiárido nordestino tem em torno de 60% a 65% de área em processo de desertificação. É uma questão ambiental delicada se pensarmos que há uma grande população que vive naquela região”, diz a cientista. “Plantas que melhorem esse processo, que consigam recuperar em parte esse solo, precisam ser estudadas”, analisa.



Outro aspecto investigado é a capacidade das culturas analisadas de remover gás carbônico da atmosfera, o que é conhecido como sequestro de carbono. A pesquisa liderada por Juliana Lichston avalia a possibilidade do volume de gás carbônico capturado ser convertido em créditos de carbono, que, se negociados no mercado internacional, podem agregar rentabilidade à produção.



“É uma tendência mundial os produtores rurais comercializarem créditos de carbono”, relata a coordenadora. “Existem alguns marcos regulatórios no país sobre como negociar os créditos e a nossa intenção é dar toda a orientação aos produtores”, planeja.

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