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quinta-feira, 2 de abril de 2015

A desigualdade no século XXI segundo Thomas Piketty

por José Eustáquio Diniz Alves e Miguel Antônio Pinho Bruno

“A Terra tem o suficiente para a necessidade de todos,
mas não para a ganância de uns poucos”
Mahatma Gandhi
“Está em xeque o modelo que traz muitos benefícios para poucos,
poucos benefícios para muitos e nenhum benefício para
a natureza e a biodiversidade” (ALVES, 2014)

distribuição de renda no mundo

A desigualdade entre ricos e pobres está atingindo uma proporção absurda. A riqueza combinada da parcela de 1% mais rico do mundo cresceu de 44% em 2009 para 48% em 2014 e deve chegar a mais de 50% em 2016, de acordo com um estudo divulgado pela ONG britânica Oxfam, durante o fórum anual World Economic em Davos, em janeiro de 2015, na Suíça.
A “explosão de desigualdade” é uma ducha de água fria no mito da “Curva de Kuznets” que previa uma melhor distribuição da riqueza com o aprofundamento do desenvolvimento econômico. Por conta da insatisfação geral com o panorama internacional, o livro “Capital in the Twenty-First Century” do professor da Escola de Economia de Paris, Thomas Piketty tornou-se um best seller e incentivou a discussão sobre o assunto.
Como mostram Alves e Bruno (2014), o livro de Piketty chamou a atenção, em especial, pela forma como descreve o aumento da desigualdade de renda e da riqueza nos países. De início, logo na introdução, Piketty realça a questão da desigualdade ao perguntar se a acumulação de capital (crescimento da economia no longo prazo), levaria à concentração do patrimônio em cada vez menos mãos, como acreditava Karl Marx, ou à redução das desigualdades e a uma maior harmonia entre as classes, como pensava Simon Kuznets. Como o próprio título do livro demonstra, o autor dá razão a Marx.
Mas as contribuições do livro cobrem um espectro mais amplo. Para a demografia, o livro é uma referência importante para a compreensão das tendências históricas do tema população e desenvolvimento e representa uma grande contribuição para a análise da dinâmica econômica, demográfica e o progresso dos padrões de vida humana, em suas diferentes escalas e dimensões.
Piketty comenta corretamente na Introdução do livro que é impossível entender as previsões exageradamente sombrias de Thomas Malthus sem reconhecer o medo das elites europeias em relação aos ideais progressistas da Revolução Francesa. O progresso não fazia parte do pensamento do Reverendo Malthus, pois em seu modelo, o crescimento populacional tendia sempre a superar o crescimento econômico, inviabilizando, portanto, o desenvolvimento de longo prazo. Mas antes de Malthus, o Marquês de Condorcet, matemático, iluminista e destacada liderança da Revolução Francesa, considerava que, prevalecendo o Estado de Direito e os ideais da tríade Igualdade, Liberdade e Fraternidade, poderia haver desenvolvimento econômico com maior igualdade de acesso à riqueza.
Piketty se abstém de prever o futuro do crescimento demoeconômico. Em vez disso, ele trabalha com diferentes cenários para a dinâmica da distribuição da riqueza, pois considera difícil prever o ritmo das inovações tecnológicas e os níveis prospectivos da fecundidade. Ele chama a atenção para o processo de convergência da renda entre os “países desenvolvidos” e os “países em desenvolvimento” (com destaque para a China), mas considera que os fatores de divergência podem voltar a prevalecer na medida em que não haja redução das desigualdades regionais de renda. Mas internamente, a desigualdade está crescendo na maioria dos países.
O livro “O Capital no Século XXI” é uma referência fundamental para o estudo da concentração de renda e riqueza. Após exame cuidadoso das séries históricas relativas à desigualdade, Piketty conclui pela revalidação necessária das ações públicas ou dos papéis dos estados nacionais. Como, por sua natureza e lógica interna, o mercado possui tanto forças convergentes (que podem favorecer a equidade e a redução das desigualdades) como divergentes (que a intensificam), a justiça distributiva, que implica acesso à renda e à riqueza, só pode ser viabilizada por meio de instituições adequadas que disciplinem mercados, impondo limites ao uso privado dos capitais que conflitem com os direitos sociais nas democracias atuais.
Para mais detalhes do livro “O Capital no Século XXI” ver a resenha na referência abaixo.
Referência:
ALVES, JED. BRUNO, MAP. Crescimento demoeconômico e desigualdade no século XXI, Rev. bras. estud. popul. vol.31 no.2 São Paulo July/Dec. 2014 http://dx.doi.org/10.1590/S0102-30982014000200014
Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE;
E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Miguel Antônio Pinho Bruno
Professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE
E-mail: miguel.bruno@ibge.gov.br

Os autores apresentam seus pontos de vista em caráter pessoal.

Publicado no Portal EcoDebate, 01/04/2015

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