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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Brasil está enfrentando sua pior e mais longa recessão em 115 anos


Por Marco Antonio Moreno
A economia do Brasil está caminhando para a sua pior recessão em mais de cem anos à medida que a atividade econômica se enfraquece e os preços das commodities continuam a cair. A maior economia latino-americana entrou em recessão em 2015 e pode permanecer no vermelho até 2017. No ano passado, a economia brasileira teve uma contração de quase 4 por cento ao ano e em 2016 se espera uma queda de 3,5 por cento e de 1 por cento em 2017. De acordo com a pesquisa semanal do Banco Central brasileiro revisada pela Bloomberg, tudo vai mal para o Brasil e a atual recessão vai durar pelo menos 6 outros trimestres. Será a mais longa recessão no gigante latino-americano desde que há estatísticas econômicas, ou seja, desde 1901.
Os principais motores da crise brasileira tem sido a queda dos preços das matérias-primas, a desaceleração da demanda da China, o fortalecimento do dólar no mercado mundial, a desvalorização do yuan e, é claro, a crise política interna. Como resultado, a sétima maior economia enfrenta uma inflação de dois dígitos, o aumento do desemprego e uma queda na demanda doméstica golpeia todos os setores. Como o consumo foi responsável por 50 por cento do PIB nos últimos 10 anos, a inflação está corroendo o poder de compra e ampliando o declínio na atividade econômica. O Brasil enfrenta uma situação muito complexa, porque todos os seus trunfos despencaram.
Em seus quase 200 anos de história (tornou-se independente de Portugal em 1822), o Brasil passou por profundos ciclos de altos e baixos. Mas a transformação econômica foi realizada na década de 1940 com o processo de industrialização que marcou a decolagem brasileira. Em 1940 apenas 30 por cento dos 42 milhões de pessoas viviam em cidades. Em 1992, quase 80 por cento dos 150 milhões de pessoas vivem em áreas urbanas. Além disso, o setor primário em 1945 era responsável por um terço do PIB, e passou a representar 10 por cento em meados dos anos 90. No mesmo período: 1945-1995, a contribuição da indústria subiu de 17 por cento para 42 por cento. O setor industrial brasileiro se consolidou como o mais importante da América Latina, exportando máquinas e bens de capital. Sua indústria automobilística também foi destacada como uma das mais importantes na área, mas nunca, pela pesada herança colonial, conseguiu se destacar com modelos próprios. Nisto o Brasil perdeu terreno para a indústria asiática da Coréia, da Malásia e da Tailândia, excluindo a Índia e a China.
Do sonho à pesadelo
Brasil é o quinto maior país do mundo pela sua massa de terra e sua população. As suas reservas de petróleo no mar incluem as maiores descobertas desde 1976. Ele tem a segunda maior reserva de ferro do mundo; É o segundo maior produtor de soja do mundo e o terceiro maior produtor de milho. No entanto, a distribuição da riqueza continua a ser uma das mais desiguais do mundo. O boom econômico do início do século XXI e  o governo de Luis Inácio Lula da Silva gerou dinheiro para fortalecer os programas de bem-estar social. Enquanto o Brasil resistiu com êxito aos estragos da crise global de 2007/2008 pela demanda chinesa e pela alta dos preços das commodities, a desaceleração que desde 2014 e China vem sofrendo, e a queda que isso significou para os preços das commodities, têm convertido o sonho de Brasil em um pesadelo.
A queda imparável dos preços e do valor das exportações provocou uma desvalorização do real de 60 por cento. Isto forçou o banco central a elevar a taxa de juros para 14,25 por cento, para conter a inflação, que atingiu 2 dígitos no final do ano passado. Como de costume, as altas taxas de juros têm gerado retornos lucrativos para o setor financeiro, mas reduziu a renda dos brasileiros pelo alto custo do crédito. Esta tem sido a principal causa da diminuição do consumo interno que acelera o processo de contração econômica. Além disso, enquanto a dívida pública do Brasil chega a 66 por cento do PIB e é comparativamente muito longe da dívida pública da Grécia (180 por cento do PIB) e Japão (230 por cento do PIB), são as altas taxas de juros pagas pelo Brasil o que o mergulha em uma depressão escura.
O círculo virtuoso armadilha
A bonança do período dos preços elevados das matérias-primas produziram no Brasil níveis recordes de emprego que, como um círculo virtuoso, aumentaram a procura e dos salários. Nos últimos dez anos, os salários cresceram mais rapidamente do que o PIB, o que permitiu aos consumidores endividarem-se mais, o que incentivou mais gastos e impulsionou o processo virtuoso de mais emprego > maior consumo > maior salário. Agora, o círculo virtuoso tornou-se um círculo vicioso e os salários e o emprego irão se reverter enquanto os juros de dívidas continuam a crescer. Quanto mais se tensiona a  situação aumenta a taxa de desemprego, inadimplência e inadimplência. O círculo virtuoso que inclui uma armadilha mortal é detectado somente quando a contagem regressiva começa.

Círculos virtuosos também têm uma vida curta em comparação com a longevidade dos círculos viciosos. A economia do Brasil, que nas primeiras décadas deste século cresceu a taxas de 5 a 7 por cento, começou sua desaceleração em 2011 e não parou. Pelo contrário, cada vez se aprofundou mais. O Real perdeu 60 por cento de seu valor nos últimos quatro anos e os níveis de negócios e a confiança do consumidor estão nos níveis mais baixos da história. A Petrobras perdeu 70 por cento de seu valor de mercado desde 2007.
A forte desvalorização sofrida pelo real frente ao dólar vai significar mais inflação pelo encarecimento das importações. Esse efeito é acentuado pela desvalorização do yuan, o que retira valor das exportações brasileiras e aumenta o déficit da balança comercial. As exportações foram o principal motor do crescimento no Brasil e cinco países que disputam quase a metade da produção total brasileira: China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Alemanha. O abrandamento da procura global e, especialmente, a queda nos preços das matérias-primas colocam hoje o Brasil em sua pior crise em 115 anos.
A última vez que o Brasil tinha dois anos de recessão contínua foi entre 1930 e 1931. Mas ele nunca teve uma crise tão profunda como está sofrendo agora, que pode durar até 2017. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisa econômica, o IPEA,  esta seria a mais longa recessão desde 1901.

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