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quinta-feira, 14 de julho de 2016

O público, o privado e as eleições


Os mundos do empreendimento econômico e o da política formam no Brasil o elo central da corrupção, é o que nos revela didaticamente a operação Lava-Jato, no âmbito nacional; mas que ocorre, voltando para a eleição que se avizinha, nos municípios.

Já é argumento repetitivo dizer que a maioria dos que vão à política, assumem cargos e mandatos públicos, o vão para enriquecimento pessoal; logo no servir público, onde há uma renúncia, neste país se vai para conseguir boa fortuna. Pelo lado do privado, este se alia dos festores públicos, que na maioria das vezes detêm seus empreendimentos comerciais, para obter privilégios.

Em o Abolicionismo Joaquim Nabuco condenava na escravidão a orgiem do "desperdício de talento" no funcionalismo público, impedindo o empreendedorismo e formando a mentalidade onde se espera toda a providência advinda do Estado:

A estreita relação entre a escravidão e a epidemia de funcionalismo não pode ser mais contestada do que a relação entre ela e a superstição do Estado-providência. Assim como nesse regime tudo se espera do Estado, que, sendo a única associação ativa aspira e absorve todo o capital disponível pelo imposto e pelo empréstimo, e distribui-o entre os seus clientes pelo emprego público, sugando as economias do pobre pelo curso forçado, e torando precária a fortuna do rico; assim também, como consequência, o funcionalismo é a profissão nobre e a vocação de todos. Tomem-se ao acaso vinte ou trinta brasileiros em qualquer lugar onde se reúna a nossa sociedade a mais culta: todos eles ou foram, ou são, ou hão de ser empregados públicos, senão eles, seus filhos.
Na Lava-Jato mega empresários do ramo da construção civil conluiam entre si e se aliam com políticos eminentes para obterem a contratação de obras públicas com preços superfaturados; o dono da empresa e o político ele não se sente membro político da sociedade brasileira, dane-se, a coisa pública não recebe a mesma defesa de interesses daquela que um contratante privado pode usufruir: preço mais barato, qualidade do serviço, eficiência, etc.

É uma união público-privado para castigo do público; uma das maiores mazelas da sociedade brasileira: o mundo das empresas não quer andar sozinho, não separamos o homem econômico do homem público; em muitos casos o sujeito se torna empresário a partir de quando assume funções públicas; inúmeros empresários usam alianças com gestores amigos para fraudarem licitações.

No final das contas quem paga o preço é sempre a parte pública da sociedade; no ideário político liberal a soma dos interesses individuais gera maior satisfação da sociedade como um todo (ver a Fábula das Abelhas de Bernard de Mandeville). No caso brasileiro não existe a melhora no todo, a soma, ou a união dos interesses sempre faz o público sair saqueado.

As eleições se tornam uma convergência entre essa confluência danosa público-privada brasileira; os postulantes aos cargos eletivos querem atuar nessas funções como fosse empreendimento particular, são inúmeros os ganhos, as relações que daí pode vir a a interligação numa rede de troca de favores é grandiosa. Servir ao interesse público no Brasil é mera farsa, se serve do público para fins privados.

Joaquim Nabuco também ligava a escravidão á existência de uma heterogeneidade social no país; uma falta de coesão, uma corrupção social, fazendo o povo sentir "[...] um prazer cruel em escolher o pior, isto é, em rebaixar-se a si mesmo, por ter consciência de que é uma multidão heterogênea, sem disciplina a que se sujeite, sem fim que se proponha".

As eleições brasileiras historicamente sempre foram muito mais uma disputa entre torcidas do que disputa política e torcida é algo privado do indivíduo, o ganhar ou o perder, enquanto que política é uma defesa, defesa de formas de organização da sociedade, de sua manutenção, de seu progresso, etc. Essas disputas tradicionalmente levavam à violência física, seja entre multidões de rua ou lutas entre famílias; existe o jargão de dever favor a político; sempre são elementos que leva para um interesse patrimonial-privado.

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