Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O futuro será renovável, ou não haverá futuro”
A 23a Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas (COP23), em Bonn, começou no dia 06 de novembro e tem agenda de atividades até 17 de novembro de 2017. Ela ocorre depois do anúncio da saída dos EUA do Acordo climático global. A principal missão do evento é avançar no desenho das regras para implementar o Acordo de Paris. Embora aconteça na Alemanha, é a primeira COP presidida por uma nação insular do Pacífico, Fiji, que junto com outras nações insulares, estão ameaçadas de naufragar e desaparecer em função do aquecimento global que provoca o aumento do nível do mar.
Acontece que as promessas feitas em Paris (INDCs), visando restringir as emissões de gases de efeito estufa até 2030, só fornecerão um terço dos cortes necessários para colocar o mundo no caminho para manter o aquecimento abaixo dos prometidos 2º Celsius. A promessa de 1,5º é praticamente inviável, conforme mostra um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, divulgado antes da COP23.
O Brasil está na contramão do Acordo de Paris. O país emitiu no ano passado 2,278 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e), contra 2,091 bilhões em 2015. Trata-se de 3,4% do total mundial, o que mantém o Brasil como sétimo maior poluidor do planeta. O Brasil continua desmatando, investindo em combustíveis fósseis e fazendo pouco para avançar com a energia solar, que é a líder do avanço das energias renováveis.
Não existe segredo. Para manter o aquecimento global abaixo de 2º Celsius é preciso fazer uma transição energética global para uma rede elétrica 100% renovável. Esta tarefa que parecia um sonho distante, é totalmente viável como diz a pesquisa publicada pela Universidade de Tecnologia de Lappeenranta (LUT) e Energy Watch Group (EWG). O estudo apresentado no dia 08/11, durante a COP23, mostra que a eletricidade 100% renovável não é uma possibilidade utópica, mas um potencial atual e real.
As tecnologias já existem, de acordo com os autores do estudo que afirmam que o potencial de energia renovável existente e as tecnologias (incluindo o armazenamento) já podem gerar energia suficiente e segura para cobrir toda a demanda global de eletricidade até 2050. Atualmente, os combustíveis fósseis são responsáveis por mais de dois terços da oferta energética do setor elétrico. A transição para 100% renovável seria liderada pela energia solar fotovoltaica (PV) e armazenamento de bateria – representando 69% da matriz energética total em 2050, seguida de vento com 18%, hidrelétrica com 8% e bioenergia com 2% (conforme mostra o gráfico acima).
As principais resultados, conforme estabelecido no estudo, são os seguintes:
• O potencial e as tecnologias de energia renovável existentes, incluindo o armazenamento, podem gerar energia suficiente e segura para cobrir toda a demanda global de eletricidade até 2050. Estima-se que a população mundial cresça de 7,3 para 9,7 bilhões de habitantes. A demanda global de eletricidade para o setor de energia deve aumentar de 24.310 TWh em 2015 para cerca de 48.800 TWh até 2050.
• O custo total nivelado de eletricidade (LCOE) em uma média global de energia 100% renovável em 2050 é de € 52/MWh (incluindo redução, armazenamento e alguns custos de grade), em comparação com € 70/MWh em 2015.
• Devido à rápida queda dos custos, a energia solar (PV) e o armazenamento de baterias impulsionarão a maior parte do sistema elétrico.
• As baterias são a principal tecnologia de suporte para PV solar. A produção de armazenamento abrange 31% da demanda total em 2050, dos quais 95% são cobertos apenas por baterias. O armazenamento de bateria fornece principalmente armazenamento diurno, e o gás à base de energia renovável fornece armazenamento sazonal.
• As emissões globais de gases de efeito estufa reduziriam significativamente, de cerca de 11 GtCO2eq em 2015 para zero emissões em 2050 ou mais cedo.
• A transição da matriz energética global para um sistema de eletricidade 100% renovável tem o potencial de criar 36 milhões de empregos até 2050 em comparação com 19 milhões de empregos no sistema elétrico de 2015.
• As perdas totais em um sistema elétrico 100% renovável são cerca de 26% da demanda total de eletricidade, em comparação com o sistema atual em que cerca de 58% da entrada de energia primária é perdida.
Referência:
Global Energy System based on 100% Renewable Energy, Lappeenranta University of Technology (LUT) and the Energy Watch Group (EWG), November 2017
http://energywatchgroup.org/wp-content/uploads/2017/11/20171102_EWG-Study_Key-findings-compressed.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/11/2017
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