Da Bahia ao Maranhão, projetos de fontes alternativas de energia elétrica ganham espaço e investimentos.
Centenas de operários trabalham em ritmo acelerado para colocar em
operação o primeiro complexo eólico do Maranhão. Localizado entre os
municípios de Barreirinhas e Paulino Neves, com investimento de 1,5
bilhão de reais da Ômega Energia, os 96 aerogeradores, com potência de
220 megawatts, deverão marcar o início de uma série de projetos do setor
no estado.
Outros dois complexos eólicos deverão ser erguidos em breve no Maranhão,
cujo governo busca atrair fornecedores de equipamentos, com destaque
para a montagem de painéis fotovoltaicos, de olho no interesse de
investidores em potencial.
Para aproveitar a linha de transmissão construída para escoar a
energia do parque eólico, em área de 100 hectares, várias empresas têm
estudado a instalação do primeiro parque solar do estado, que poderá
somar mais de 500 milhões de reais em investimentos, destaca o
secretário maranhense de Indústria, Comércio e Energia, Simplício
Araújo.
Em um momento de crise aguda,
o investimento pode responder por mais de mil empregos. Quem percorre
de carro o interior e o litoral dos estados nordestinos depara-se com
dezenas de parques eólicos e solares.
Juntos, eles vão representar mais de 30 bilhões de reais em
investimentos até o fim da década e posicionarão o Brasil entre os dez
maiores geradores eólicos do mundo. A força dos ventos e do sol tem
criado empregos, se convertido no maior vetor de investimentos da região
e ampliado a segurança no abastecimento energético, essencial em decorrência da seca prolongada.
Em julho, a produção eólica respondeu por 12,6% de toda a energia
demandada ao Sistema Interligado Nacional. No Nordeste, bateu-se um
recorde: 64,2% da energia consumida na região, no último dia 30 de
julho, foi proveniente dos ventos. Até 2008 e 2009, o suprimento
energético era feito pelas fontes hidrelétricas, oriundas de usinas
localizadas na Bacia do Rio São Francisco.
“O resultado tem sido excepcional, até porque a região é atingida por
ventos excepcionais e razoavelmente constantes, o que proporciona
capacidade de geração que se situa entre as melhores do mundo”, destaca Luiz Eduardo Barata, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema.
Com ventos contínuos e intensos, as usinas eólicas nordestinas chegam
a operar em boa parte do tempo com fator de capacidade superior a 60%, o
dobro da média mundial. Por várias décadas, o Ceará importava energia
do sistema interligado. Com a construção de usinas eólicas nos últimos
anos, o segmento passou a responder por um terço da matriz elétrica
estadual e possibilitou ao estado exportar energia. Mas não é um caso
isolado.
A capacidade instalada em energia eólica no Brasil alcança,
atualmente, 11,7 gigawatts, perto de 7,5% da matriz nacional. Pouco
mais de 80% dessa potência (9,6 gigas) está localizada em projetos no
Nordeste. O Rio Grande do Norte, a Bahia e o Ceará produzem 7 gigawatts
por meio de usinas instaladas. O volume só tende a crescer.
No momento, os parques em construção ou contratados no Brasil somam
6,31 gigas, e mais de 90% dessa carga sairá de projetos nordestinos, com
destaque para a Bahia, com 3,4 gigas de usinas a serem instaladas nos
próximos anos. Até 2020, o estado se tornará o mais produtor de energia
eólica do País.
Uma das maiores empresas do setor, a CPFL Renováveis tem 2,1
gigawatts de capacidade instalada em projetos de energia elétrica. Desse
total, 1,3 giga provém de usinas eólicas com mais de 85% instalados no
Ceará e Rio Grande do Norte. Em carteira são outros 2 gigas no Rio
Grande do Norte, em Pernambuco e na Bahia. Cerca de 600 megawatts em projetos solares na Bahia também estão em carteira.
A empresa aguarda os detalhes do leilão de energia solar para
analisar sua participação. Hoje, a concessionária tem um projeto piloto
de 1 megawatt instalado em São Paulo. “Há mais incertezas em energia
solar do que na eólica. Temos um fabricante de painéis fotovoltaicos no
Brasil, então precisamos estudar o financiamento, se é feito aqui ou no
exterior, e como reduzir a volatilidade cambial”, aponta Gustavo
Sousa, diretor-presidente da companhia.
O novo cenário de aperto fiscal e a nova política de financiamento do
BNDES deverão levar as empresas a buscar outras opções de crédito. Um
dos instrumentos podem ser as debêntures de infraestrutura. A CPFL Renováveis emitiu
250 milhões de reais em julho, pela primeira vez, com prazo de cinco
anos, voltadas para investidores qualificados. “O mercado de capitais
terá de ser mais acionado”, destaca Sousa.
A empresa também conversa com bancos sobre a emissão de debêntures
incentivadas no mercado solar, preparando-se para quando ingressar com
mais firmeza no segmento, mas ainda há pouco conhecimento sobre a
fonte.“Falta o histórico de desempenho, qual o fator de capacidade dos
projetos, pois a energia solar dá os primeiros passos, enquanto as
usinas eólicas têm conhecimento extenso entre os financiadores.”
A Casa dos Ventos cadastrou 214 projetos eólicos para os leilões de
energia nova “A-4” e “A-6”, com perto de 6,2 gigawatts em
empreendimentos situados nos estados da Bahia, Piauí, Ceará, Rio Grande
do Norte e Pernambuco, onde estão os recursos eólicos mais competitivos,
de acordo com a companhia.
A empresa atuará como desenvolvedora, por meio de parcerias com
investidores, para a maioria dos projetos cadastrados, bem como analisa a
sua participação isoladamente em um empreendimento. “Continuamos
fornecendo projetos competitivos para os principais players do mercado,
ao mesmo tempo que buscamos expandir a nossa base de ativos operacionais
por meio de investimentos proprietários”, afirma Lucas Araripe, diretor
de Novos Negócios.
O potencial ainda é grande. Até 2026, segundo projeções da Empresa de
Pesquisas Energéticas, órgão estatal de planejamento do setor elétrico,
essa matriz terá expansão de 41 gigawatts, com predomínio das usinas
eólicas e solares, que deverão responder por quase 19 gigas.
No início da década passada, um estudo apontou que o Brasil poderia
chegar à potência instalada de 143 gigawatts em energia eólica, dez
vezes mais do que a capacidade da usina de Itaipu,
uma das maiores do mundo. Mas a medição baseava-se no uso de
aerogeradores com altura inferior a 50 metros. Hoje são empregados
equipamentos com mais de 100 metros. Quanto maior a altura, maior a
velocidade dos ventos, o que amplia as possibilidades de exploração.
Novas tecnologias têm transformado o interior do Nordeste. Em
setembro de 2015, em Tacaratu, no sertão de Pernambuco, um projeto
pioneiro começou a gerar energia por meio da combinação de vários
fatores: um parque híbrido explora turbinas eólicas, que podem gerar 80
megawatts, e placas fotovoltaicas, com potência instalada de 11
megawatts, o maior em operação no País. Juntas, as usinas, que
consumiram mais de 600 milhões de reais, são capazes de gerar energia
suficiente para abastecer 250 mil residências.
O governo de Pernambuco, que firmou convênios com a concessionária local e o Banco do Nordeste,
pretende estimular a microgeração distribuída a pequenos negócios,
selecionando fornecedores de equipamentos para as empresas interessadas
em investir em painéis fotovoltaicos, que, por sua vez, poderão abater
sua própria geração da conta de luz emitida pela companhia elétrica
estadual. “Isso é uma garantia que reduz o risco de crédito e abre um
enorme potencial”, acredita Luiz Cardoso Ayres Filho,
secretário-executivo de Energia de Pernambuco.
O maior projeto brasileiro de energia solar é tocado pela italiana
Enel, responsável por três parques solares na região. Em junho, o grupo
deu início à operação do parque solar Lapa, na Bahia, com dois meses de
antecipação em relação ao prazo estabelecido pela Agência Nacional de
Energia Elétrica. O empreendimento, que soma 158 megawatts de potência, é
o maior em operação. No leilão de energia de reserva de 2015, foram
contratados os projetos Horizonte (103 megas) e Nova Olinda (292 megas),
atualmente em fase final de construção.
“Apoiamos a transferência de tecnologia de parceiros europeus com
fabricantes nacionais para desenvolvermos alguns equipamentos que não
existiam aqui, impusionando a cadeia de suprimento, antes incipiente. No
médio prazo, com o mercado crescendo, esses fabricantes poderão vir
aqui e isso contribuirá para a queda dos preços dos equipamentos”,
explica Carlo Zorzoli, presidente da Enel.
A partir de 2020, prevê-se a instalação de mil megawatts-pico,
potência usada para a fonte, por ano. Em 2026, o País poderia deter 10
gigawatts-pico de centrais solares e 3,5 gigas de geração distribuída
solar, de acordo com estimativas do Plano Decenal, ainda em fase de
elaboração. “O Brasil tem um potencial muito grande em energia solar.
Mas países como Alemanha e China têm mais de 10 gigawatts instalados e
aqui não chega a 10% desse total”, observa Rodrigo Sauaia, presidente
da Associação Brasileira da Energia Solar.
No início de agosto, os empresários do setor receberam boa notícia de
Brasília. O governo estuda criar uma portaria para que as unidades a
serem lançadas no programa Minha Casa Minha Vida nos próximos anos
incorporem sistemas de energia solar. A expectativa é de que a portaria
seja divulgada em breve.
Com entrega prevista de 400 mil unidades por ano de imóveis para a
baixa renda, um mercado anual de 1,6 bilhão de reais poderá ser criado e
contribuir para o adensamento da cadeia do segmento. “O Brasil tem
capacidade para produzir inversores e módulos, mas microinversores ainda
são importados e estão centrados nos Estados Unidos, Ásia e Israel. Assim, esses investimentos poderão contribuir para a atração de investimentos”, afirma Sauaia.
O País, que hoje tem pouco mais de 10 mil ligações de microgeração em
residências e comércio, deverá ter mais de 800 mil daqui a uma década. O
crescimento está no radar da SolarGrid, que tem participado de
concorrências privadas de redes de educação e saúde interessadas em
investir na instalação de painéis fotovoltaicos para produzir sua
própria energia e reduzir a conta de luz.
No primeiro semestre de 2018, a empresa deve concluir 25 milhões de
reais em investimentos para construir três plantas solares no norte de
Minas Gerais, para abastecer cerca de 90 farmácias de uma rede de
drogarias.
“Há outras concorrências que começam a surgir, como a de agências
bancárias, e esse movimento deve se acelerar. Temos algumas
concorrências de empresas no Nordeste”, diz Diogo Zaverucha, sócio da
empresa. Se neste ano a movimentação do mercado corporativo ficar em 10
megawatts-hora-pico, em 2018 a capacidade pode ser dez vezes maior. O
avanço das fontes eólica e solar, intermitentes, coincide com a mudança
da matriz elétrica.
Enquanto isso, o governo sugere a privatização da Eletrobras,
com destaque para a Chesf, que atua no Nordeste. Entre 2013 e 2018, é
prevista a entrada de 20 mil megawatts de capacidade hídrica no sistema.
Desses, 99% serão produzidos em usinas sem reservatórios. Os benefícios
de investimentos do setor para outros segmentos, como navegação de
rios, a captação de água ou a irrigação em bacias, ficarão mais
restritos.
Fonte: SEERN
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