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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Doodle do Google homenageia o 117º aniversário de Drummond

Quem abriu o Google nesta quinta-feira (31) visualizou no Doodle do Google uma homenagem que o buscador presta ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Drummond nasceu em 31 de outubro de 1902 na cidade de Itabira em Minas Gerais. Considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira. Abaixo alguns poemas do poeta para que possas desfrutar:


Confidência do Itabirano

(Carlos Drummond de Andrade)

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!



Viver

Mas era apenas isso,
era isso, mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?


E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?



Isso, ou menos que isso
uma noção de porta,
o projecto de abri-la
sem haver outro lado?



O projecto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?



Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?



Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'




Poema da Necessidade

É preciso casar João,
é preciso suportar António,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbedo,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens,
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o FIM DO MUNDO.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Sentimento do Mundo'

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