Película fictícia baseada em fatos reais, retrata Francisco e Bento XVI como homens firmes e humanos em seus propósitos. O cenário da Santa Sé permanece inabalável, com seus luxos e riquezas.
Por Rosana Tonetti
Fui criada dentro dos preceitos do catolicismo, mas confesso, sem medo ou qualquer sentimento de culpa, que sempre mantive certa retaguarda com a Igreja Católica – aliás, com toda e qualquer religião que transforme a fé em negócio rendável, explorando a crença de fiéis sem dó nem piedade. No dia em que coloquei os pés no Vaticano, e lá se vão quase duas décadas, definitivamente abriu-se uma fenda entre o mínimo que restava da minha credulidade na “Casa de Deus’’. Aquela suntuosidade, o ouro espalhado por toda a parte, o luxo pensado em detalhes, a começar pela Guarda Suíça Pontifícia, com seu curioso uniforme – este, um memorável espetáculo à parte!
Fui criada dentro dos preceitos do catolicismo, mas confesso, sem medo ou qualquer sentimento de culpa, que sempre mantive certa retaguarda com a Igreja Católica – aliás, com toda e qualquer religião que transforme a fé em negócio rendável, explorando a crença de fiéis sem dó nem piedade. No dia em que coloquei os pés no Vaticano, e lá se vão quase duas décadas, definitivamente abriu-se uma fenda entre o mínimo que restava da minha credulidade na “Casa de Deus’’. Aquela suntuosidade, o ouro espalhado por toda a parte, o luxo pensado em detalhes, a começar pela Guarda Suíça Pontifícia, com seu curioso uniforme – este, um memorável espetáculo à parte!
Sabe aquele ditado comparativo que muitas pessoas empregam quando fazem algo interessante mas deixam de realizar o mais importante? “… é a mesma coisa do que ir a Roma e não ver o papa?” Pois bem, eu o cumpri à risca. Estive na capital da Itália e não fiz questão alguma de vê-lo. Nunca tive dúvidas de que a sede da Igreja Católica, por meio de suas instituições financeiras, possui enormes recursos e poder econômico. Nada disso, segundo meus valores, tende a ser minimamente cristão. A opulência do Vaticano me faz questionar, continuamente, o verdadeiro papel de padres e a igreja católica em todo o mundo.
Ao assistir ”Dois Papas”, dirigido por Fernando Meirelles e baseado na obra de Anthony McCarten, continuo a manter a mesma opinião sobre este pedaço cercado por Roma, possível de ser resumido em uma única palavra: ostentação. Entretanto, ao ver o atual pontífice, Francisco, pelo qual já nutria simpatia e admiração, magistralmente interpretado por Jonathan Pryce, meu conceito sobre Sua Santidade subiu muitos degraus. Quanto a Bento XVI, vivido pelo brilhante veterano Anthony Hopkins, o papa para o qual, vamos por assim dizer, eu nunca “estive nem aí” – assim como qualquer outro até então -, consegui enxergá-lo com outros olhos. Embora a obra do diretor brasileiro seja ficcional, ela é baseada em fatos reais. Os diálogos, as cenas, ora no presente ora no passado, por meio de flashbacks, nos remetem a dois homens, simples, apenas ”filhos de Deus”. Com seus erros e acertos, nada mais, nada menos, do que humanos e pecadores. E que atire a primeira pedra o papa que nunca pecou!
A humanidade de Bento XVI e Francisco é costurada em minúcias, bem elencadas na película, como a pizza, trazida do quiosque da esquina por um funcionário do Vaticano, para os dois partilharem à mesa; a paixão de Bergoglio pelo futebol conduzida por ele até à sala de TV junto com Ratzinger; a colhida de orégano na horta do Vaticano pelo até então cardeal argentino; as confissões que eles comungam.
Se por um lado a sede da Igreja Católica, localizada na Itália, continua a me incomodar com suas riquezas imensuráveis, esses dois papas, principalmente o sisudo Ratzinger, torna sua imagem, à medida que a trama se desenrola, mais suave e cativante. Já o carismático Bergoglio se eleva como, de fato, o que se espera de uma liderança religiosa. Humilde, com seu discurso adequado à realidade, preocupado com as desigualdades entre os povos e despido de preconceitos, o Bergoglio, na pele de Pryce, é um ser encantador.
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