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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Desenvolvimento de tecnologia na UFRN resulta na obtenção de sequências para antibióticos com atividade potencializada

Segundo os pesquisadores, o uso indiscriminado de antimicrobianos, a ação específica dos antibióticos usuais sobre proteínas intracelulares, aliada à elevada capacidade de mutação dos microrganismos, tem acarretado no desenvolvimento de “espécies” resistentes, restringindo as alternativas terapêuticas no tratamento de doenças infecciosas. Com as alterações na estrutura primária que geram esses peptídeos análogos, esse processo tende a diminuir


O desenvolvimento de novas sequências de biomoléculas que geram antibióticos com atividade potencializada é o resultado do primeiro depósito de pedido de patente da Universidade Federal do Rio Grande (UFRN) em 2020. O estudo é desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos (PpgDITM) e, para chegar a esse produto, focou no desenvolvimento de peptídeos análogos a um peptídeo nativo, o TsAP2, presente no escorpião amarelo, espécie que predomina no Nordeste do Brasil e cujo nome científico é Tityus Stigmurus.
Constituídos por aminoácidos, os mesmos blocos construtivos das proteínas, todos os organismos vivos produzem peptídeos biologicamente ativos. Considera-se peptídeo as sequências com até 50 aminoácidos; acima dessa quantidade, temos as proteínas. Segundo um dos autores da invenção, o cientista Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa, com a modificação, há a consequente potencialização da ação antimicrobiana estudada na literatura e que pode proporcionar uma maior atividade biológica, principalmente contra bactérias gram negativas e gram positivas. Ambas alteram o metabolismo normal das células ou dos tecidos do hospedeiro, danificando-os. A Staphylococcus aureus, que pode causar pneumonia, infecções da válvula cardíaca e infecções ósseas, e a Helicobacter pylori – H pylori, a qual provoca sintomas dispépticos, úlceras pépticas e linfoma gástrico de tecido linfático associado à mucosa (linfoma MALT), são exemplos, respectivamente, de bactérias gram negativas e gram positivas.
“Promovemos, para a produção desses análogos, mutações pontuais em aminoácidos específicos, visando à substituição por outros com características físico-químicas diferentes que possam gerar, com protótipos, atividade antibacteriana e antiproliferativa mais potente. A estrutura primária deste peptídeo nativo apresenta 17 aminoácidos, e através de estudos de bioinformática, desenvolvemos outros baseados nos nativos como protótipos”, explicou Matheus Pedrosa. Ao lado de Alessandra Daniele da Silva, Renata Mendonça Araújo e Norberto de Kassio Vieira Monteiro, ele é um dos autores do pedido de patente e deu outros detalhes em vídeo disponibilizado no endereço https://www.instagram.com/agirufrn/?hl=pt-br.
O grupo trabalha com o escorpião amarelo há aproximadamente 12 anos. Fruto das pesquisas, já são 72 novos peptídeos análogos candidatos, para a indústria farmacêutica, como novos antibióticos. Neste número há frutos de pesquisas realizadas com outro peptídeo nativo do escorpião, a Stigmurina, estudo cujo depósito de patente ocorreu em 2015. Os dois trabalhos se relacionam, ainda, com o primeiro depósito de pedido de patente do curso de Farmácia, em 2012, cujo nome era Sistemas Nanoparticulares de Quitosana aplicados como Imunoadjuvantes na Produção de Soros Contra Venenos de Animais Peçonhentos. “Já fizemos ensaios com os análogos de 2015, com dois artigos publicados, que realmente demonstrou uma potencialização da atividade quanto às bactérias e leveduras. Então mostra que é uma abordagem promissora para a obtenção de moléculas que tenham maior atividade e que tem potencial para uso como uma nova terapia”, afirma Alessandra Daniele da Silva, uma das autoras.
Para os inventores, a resistência a antibióticos convencionais consiste em um grave problema de saúde pública mundial, apresentando elevada morbidade, mortalidade e elevados custos de internação. O uso indiscriminado de antimicrobianos, a ação específica dos antibióticos usuais sobre proteínas intracelulares, aliada à elevada capacidade de mutação dos microrganismos, tem acarretado no desenvolvimento de “espécies” resistentes, restringindo as alternativas terapêuticas no tratamento de doenças infecciosas. Com as alterações na estrutura primária que geram esses peptídeos análogos, esse processo tende a diminuir.
Depósito de patente
Com o título “Sequência, obtenção e aplicação de análogos do peptídeo TsAP-2 ou fragmentos ativos em formulações farmacêuticas com atividade antimicrobiana e/ou antiproliferativa”, o estudo desenvolvido é o primeiro depósito de pedido de patente da UFRN em 2020 e foi realizado em cotitularidade com a Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo relatório da Agência de Inovação (AGIR) da UFRN referente ao ano passado, 2019 foi o ano com o maior número em termos de depósitos, com 31 pedidos de patente, igualando os números de 2017 e 2015.
De acordo com o diretor da Agência, Daniel de Lima Pontes, todo invento objeto de depósito passa por uma análise no que diz respeito a aspectos como novidade, capacidade inventiva, aplicação industrial e suficiência descritiva, necessários para a solicitação. As orientações e explicações a respeito dos aspectos para patentear uma determinada invenção são dadas na própria AGIR, unidade localizada no prédio da Reitoria, ou através do e-mail patente@agir.ufrn.br. Daniel Pontes frisou que o depósito já permite que a tecnologia esteja disponível para o setor produtivo aproveitá-la para melhorar seus processos e fluxos de trabalho. “Inclusive com a reestruturação da AGIR, temos um setor especificamente para facilitar a transferência das tecnologias, o qual realiza atividades de planejamento e promoção de ações para estimular o licenciamento de tecnologias da UFRN”, afirmou o diretor.
Docente do Departamento de Farmácia, unidade da Universidade que mais possui depósitos de pedido atualmente, Matheus Pedrosa pontuou que o caminho para que o produto chegue à produção farmacêutica passa pela realização de ensaios laboratoriais e ensaios pré-clínicos, para comprovar essas atividades, com testes de segurança, toxidade e eficiência. “Com a patente depositada, isso nos garante uma prioridade no mercado por um determinado período, proporcionando que possamos divulgar junto à indústria farmacêutica a eficiência do que estamos desenvolvendo”, afirmou o cientista.
Assessoria de Comunicação da Agência de Inovação da UFRN

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