Projeção de crescimento de 1,3% para 2020 foi revista para uma contração de -1,8%; número de pobres pode subir de 185 milhões para 220 milhões; países como Brasil, cujo maior parceiro comercial é a China, devem sentir efeitos da redução da demanda.
ONU News - A pandemia de covid-19 terá efeitos arrasadores na economia global, que devem ser mais intensos do que a crise financeira global de 2008, e os países da América Latina e do Caribe não serão poupados.
O alerta é da secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, Cepal, Alicia Bárcena. A representante disse que a crise “entrará na história como uma das piores” que o mundo já passou.
Efeitos
Bárcena explicou que o vírus põe em perigo um bem público global essencial, a saúde humana, e afetará uma economia global que já estava enfraquecida. Os efeitos serão sentidos tanto no lado da oferta como da demanda.
As cadeias produtivas devem ser interrompidas, prejudicando gravemente o comércio global, e a renda das pessoas e empresas deve cair devido ao aumento do desemprego e dificuldades no pagamento de dívidas.
Em 2019, o Produtor Interno Bruto, PIB, da região já cresceu a uma taxa de apenas 0,1%. Para 2020, estava previsto um crescimento de 1,3%, mas agora é esperada uma contração de -1,8%.
O cenário de recessão pode aumentar o desemprego na região até 10 pontos percentuais. Com esse valor, o número de pobres pode subir de 185 para 220 milhões de pessoas, de uma população total de 620 milhões. A quantidade de pessoas que vivem em extrema pobreza também pode aumentar de 67,4 milhões para 90 milhões.
Canais
Alicia Bárcena explicou que o vírus afetará a região através de cinco canais
Primeiro, através da descida da atividade econômica em vários parceiros comerciais. A China, por exemplo, é o principal parceiro comercial do Brasil, Chile e Peru. Durante o ano, o valor das exportações para o país pode cair até 10,7%.
Um segundo canal é o turismo, que deve afetar mais fortemente os países do Caribe.
Em terceiro lugar, as cadeias globais de valor devem ser interrompidas. Isso afetaria principalmente o México e o Brasil, países que importam peças e bens intermediários da China para seus setores de manufatura.
Em quarto lugar, a queda nos preços das commodities deve prejudicar os países que exportam matérias-primas. Por fim, em quinto lugar, os investidores devem ter maior aversão ao risco.
Medidas
A secretária executiva também destacou as medidas que os governos da região já estão tomando. Além de esforços para reduzir e prevenir o contágio, estão adotando medidas econômicas, fiscais e monetárias.
Alguns países estão aumentando gastos sociais, reduzindo taxas de juros, intervindo nos mercados de câmbio, suspendendo taxas de crédito bancário, criando linhas de crédito, congelando coimas para famílias que não pagam contas de água e desenvolvendo ações para evitar o esgotamento dos estoques de bens básicos.
Alicia Bárcena referiu ainda a importância de proteger os grupos mais vulneráveis como idosos e pobres. Segundo ela, “quanto mais desigual for um país, mais grupos vulneráveis arcarão com o impacto econômico da pandemia e menos recursos terão para combater a pandemia.”
Por fim, a chefe da CEPAL apelou à coordenação e cooperação global. Ela disse que “nenhum país será capaz de combater essa pandemia sem cooperação global e regional.”
Para Bárcena, “a pandemia tem o potencial de remodelar a globalização geopolítica, mas também é uma oportunidade de recordar os benefícios da ação multilateral.”
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