Acima você pode conferir o vídeo completo da reunião ministerial, mencionado por Sérgio Moro como prova das suas acusações de tentativa de interferência pelo presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, motivo alegado por Moro como causa de sua saída do governo. Se você assistir a parte que contém a fala do Presidente entenderá o motivo do pedido de demissão. A partir do minuto 28, Bolsonaro passa a cobrar dos ministros uma defesa do Governo, depreende-se da fala que todo o conteúdo é direcionado para o então ministro da justiça.
Não é apenas é… cuidar do seu ministério nessas questões que estamos tratando aqui, é tratar da questão política também. Tá certo? Então é… essa é a preocupação temos que ter, porque a luta pelo poder continua. A todo… a todo vapor. E, sem neurose da minha parte, tá? O campo fértil pra aparecer um… uns porcaria aí, né?
Bolsonaro via que Sérgio Moro seguia apenas a parte técnica do seu Ministério e ele queria um Moro bolsonarista convicto. O Presidente dá uma bronca indireta no então ministro, mesmo sem citar expressamente o nome do ex-juiz da Lava-Jato, o recado é percebido. Depois de Bolsonaro, Moro faz uma breve consideração, nitidamente incomodado, minuto 43.
Tem que falar, não é ficar quieto. E quem de direito aqui, e todos os ministros tem que falar isso aí, não é só a Justiça. Todos tem que falar. Não é ficar, deixa o… toca o barco não e… e vamos em frente. Tá? Então é isso que eu apelo a vocês, pô. Essa preocupação. Acordem para a política e se exponham, afinal de contas o governo é um só. E se eu cair, cai todo mundo. Agora vamo… se tiver que cair um dia, vamos cair lutando, uma bandeira justa. Não por uma babaquice de… de… de exame antivírus, pô. Pelo amor de Deus, pô. Tá?
Bolsonaro quer que seus ministros o sigam "politicamente" nos ditames do bolsonarismo, ou seja, confrontando os rivais e os poderes. Partindo pro ataque. O bolsonarismo é um movimento político de guerrilha pelo poder, como fala o próprio Bolsonaro ao dizer que a luta pelo poder continua. O Presidente não ver pessoas com as quais possa dialogar republicanamente, ele necessita do conflito.
Noutra indireta, certamente, Sérgio Moro se deu conta de que não teria mais a carta branca prometida por Bolsonaro:
E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma… uma extrapolação da minha parte. É uma verdade. Como eu falei, né? Dei os ministérios pros senhores. O poder de veto. Mudou agora. Tem que mudar, pô. E eu quero, é realmente, é governar o Brasil.
As medidas de enfrentamento da pandemia da Covid-19, por exemplo, são vistas pelo bolsonarismo, também, como motivo para disputa política. É uma forma, de acordo com a acefalia do presidente, de os opositores promoverem a instauração do comunismo. Então, o governo tem que brigar contra a quarentena. É um doido.
Seguindo as práticas que o mundo vem adotando, este governo estaria com uma popularidade muito alta. No Chile e no Paraguai, com patidos de Direita no poder, os governos destes países estão adotando medidas rígidas de enfrentamento à pandemia, anteontem (21/03), o Paraguai registrou apenas três casos de covid-19.
O motivo da Saída de Sérgio Moro, portanto, tem por fundamento o fato de o ministro não ter sido uma agitador bolsonarista, este não é um governo institucional. É um governo genuinamente fascista, o fascismo se alimenta do conflito panfletário:
Para o Ur-Fascismo não há luta pela vida, mas antes “vida para a luta”. Logo, o pacifismo é conluio com o inimigo; o pacifismo é mau porque a vida é uma guerra permanente. (Umberto Eco)
Nenhum comentário:
Postar um comentário