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sexta-feira, 15 de maio de 2020

Novo Fundeb: o financiamento da educação básica pode perder R$ 52,4 bilhões pelo impacto da crise da pandemia



A versão mais recente do relatório do novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) apresenta uma “armadilha para estados e municípios” com o uso de receitas do salário-educação na complementação da União ao fundo. Esse uso pode impactar severamente programas essenciais, como de alimentação escolar.

Segundo Andressa Pellanda, coordenadora da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, nesse momento de pandemia de Covid-19, em que as desigualdades sociais e educacionais tendem a se aprofundar, a resposta daquelas e daqueles comprometidos de fato com o direito à educação deve ser “a aprovação de um Fundeb robusto, com a constitucionalização de parâmetros que garantam a qualidade e com investimento adequado para tal, sem para isso utilizar fontes de recursos que coloquem em risco outros programas essenciais, e sem permissibilidade com mecanismos de avaliação e distribuição de recursos que só pressionem por maiores disparidades socioeconômicas e educacionais.”

É nessa defesa que a Campanha Nacional pelo Direito à Educação publicou posicionamento público divulgado nesta terça-feira (12) sobre o novo Fundeb.
O Fundeb é o principal fundo da educação básica, que expira no fim de 2020 e tem sua reformulação em tramitação no Congresso Nacional. O fundo agrega parcelas de impostos e recebe uma complementação da União para estados e respectivos municípios que não atingem o valor mínimo a ser gasto por aluno definido a cada ano.

Uso do salário-educação

“Da forma como está a redação proposta no Substitutivo, há uma armadilha para estados e municípios: permite-se o uso da cota federal do salário-educação, mas assegura-se a permanência dos gastos nos programas. A conta não fecha: qualquer centavo utilizado da cota federal terá que ser extraído de programas já existentes destinados a estados e municípios. Será que prefeitos e governadores se aperceberam disso?”, diz o posicionamento.
Em 2019, a contribuição do salário-educação distribuiu para a educação básica um montante de R$ 21,4 bilhões, informa a nota de posicionamento, destinando R$ 12,9 bilhões (60%) pela cota estadual e municipal e R$ 8,5 bilhões (40%) sob a quota federal com gestão do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), por meio de programas suplementares.
Parte do montante federal do salário-educação mantém a existência de programas essenciais para milhões de estudantes da educação básica, caso do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que “nesse momento de pandemia”, diz o posicionamento, “se torna ainda mais relevante, tendo em vista que seguirá sendo essencial para enfrentar os efeitos da COVID-19 após a quarentena, especialmente nas famílias em maior situação de vulnerabilidade, que estão ainda mais expostas ao desemprego, à pobreza e à fome.” Saiba mais em nota técnica da Campanha divulgada em março.
Impedir qualquer possibilidade de uso do salário-educação no Fundeb é chave para que não falte receita a programas fundamentais e para que se busque diminuir desigualdades sociais. Mas também é por outro motivo.
Hoje, a complementação da União ao Fundeb é de 10%. No novo texto, o percentual vai para 20%. Com a possibilidade de uso do salário-educação, que está no relatório do novo Fundeb, de autoria da Deputada Federal Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), relatora da PEC 15/2015, abre-se margem para uma maquiagem dos 20% da complementação da União ao fundo. Em poucas palavras: mantido o texto, boa parte do aumento da complementação da União não somente não será oriunda de novas fontes, como também irá desestabilizar outros programas.
Como proposta, é defendida a necessidade de outras fontes para a complementação da União, como a taxação das grandes fortunas (tributo previsto na Constituição brasileira de 1988, ainda não regulamentado); recursos da União de royalties, participação especial e fundo social do pré-sal; a cobrança de imposto de renda de pessoa física de juros e dividendos; assim como a revisão do pagamento da dívida pública, considerando que em 2020 está previsto o pagamento pelo Governo Federal de R$ 248,6 bilhões (conforme, Plano Anual de Financiamento da Dívida Pública 2020), montante que se equipara a toda a despesa de R$ 250 bilhões em educação básica dos governos estaduais, municipais e federal (valores estimados a partir dos conforme dados do Siope/FNDE e Finbra/STN referente aos anos de 2017 e 2018).
Cenários de projeção diante da crise gerada pena pandemia
Em subsídio ao posicionamento, a Fineduca (Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação) e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação publicaram Nota Técnica com projeção de cenários de financiamento da educação, apontando as ameaças ao direito à educação pública de qualidade com o agravamento da crise econômica do contexto da pandemia de COVID-19.  
A Nota Técnica destaca prognóstico de queda das receitas de impostos e da contribuição do salário educação que impactam ações públicas da educação ligadas, sobretudo, à educação básica nas redes estaduais, distrital e municipais de ensino e, por consequência, as aplicações dependentes do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação).
No cenário mais otimista, a receita líquida de impostos encolheria em 7% (R$ 63,2 bilhões a menos), podendo chegar a 21% a menos no pior cenário (R$ 189,6 bilhões de perda). Para o financiamento da educação básica, ocorreria redução de recursos da ordem de R$ 17,2 bilhões. Já no mais pessimista, o encolhimento seria da ordem de R$ 52,4 bilhões.

Transferência de recursos por aferição de desempenho

Outro ponto preocupante ressaltado pelo posicionamento acerca do novo Fundeb é que “em vez de avançar na linha da verdadeira equidade, o relatório cede à pressão de parlamentares comprometidos com a reforma empresarial da educação e decide transferir recursos para redes públicas por meio da aferição de desempenho dos estudantes”, diz a nota. No mundo todo, isso resultou em maior desigualdade entre redes e escolas públicas. 
A proposta das dez organizações nacionais da educação signatárias do posicionamento é de que os 2,5 pontos percentuais da Complementação da União que estão propostos na PEC como condicionados àqueles municípios e estados que “alcançarem evolução significativa dos indicadores de atendimento e melhoria da qualidade com redução de desigualdades” devem ser referenciados em indicadores que explicitem a ampliação de cobertura e a inclusão no atendimento, considerando-se a inaceitável exclusão de milhões de crianças pequenas em creches e pré-escolas, crianças e adolescentes no Ensino Fundamental e Médio, e daqueles jovens e adultos que sequer completaram o Ensino Fundamental do acesso e permanência na escola. 
Ainda indica que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb), previsto no art. 11 do Plano Nacional de Educação, seja o parâmetro adotado para tais avaliações, garantindo as condições necessárias para a melhoria da qualidade na educação e  fortalecendo as instâncias de controle interno e externo dos poderes públicos e o controle social.
Leia o posicionamento da Campanha, na íntegra, e encontre outros pontos de ajuste ao texto que dá novo formato ao Fundeb – sempre em direção ao direito à educação.

Campanha Nacional pelo Direito à Educação

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