Nunca confiei muito em prognósticos de feliz ano novo. Mas faz parte da realidade da vida e, quem sabe, faça bem fingir recomeços. O ano de 2020 foi especialmente aguardado pelo Brasil, 2019 havia sido marcado por tragédias e crise política.
2020 já cumpriu metade de seu tempo. Para sempre será marcado como o ano da Pandemia de Covid-19. Da quarentena. Das máscaras. Do isolamento. Um ano trágico. Conforme procurou resgatar Nietzsche o espírito da tragédia, nossa forma de enfrentar a tragédia sem criar culpados é a maneira de se fazer mais forte.
Em se tratando de Nordeste, 2020 tem sido um ano muito bom na solução dos estragos causados pela seca de 2012-17. Voltou-se a ter reservas hídricas em nível de segurança. Há poucos dias o presidente Jair Bolsonaro inaugurou mais um trecho da Transposição do Rio São Francisco, obra que a seca de 2012 demonstrou ser supérflua. Temos água de sobra no semi-árido. Só na bacia Piranhas-Açu entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte há uma capacidade fabulosa de armazenamento em barragens cujas capacidades superam a casa dos bilhões de m3.
2020 vinha com tudo normal, abertura da temporada de futebol. Carnaval. Atividades do Congresso Nacional operando como sempre. Escolas repletas de alunos. Da China o noticiário exibia imagens de hospitais sendo erguidos em prazos recordes. Eram notícias de uma peste distante.
Marília Mendonça cantava que ninguém ia sofrer sozinho e que todo mundo ia sofrer. Imaginava eu se seria a queda de um meteoro ou uma guerra nuclear. Mas também não imaginava que fosse coisa para 2020. O que é ruim se joga por futuro, que se espera nunca chegará, o bom ficou no passado, até o que era ruim quando foi, e o presente é só a realidade.
Mas eu vi que 2020 ia dar com os burros n'água quando Ronaldinho Gaúcho foi preso. O sujeito ser preso por falsificação no Paraguai era prenúncio de coisas aterradoras. Semana passada vi no jornal que uma praga de gafanhotos destruiu plantações lá na terra Guarani.
Daí em diante o futebol parou, o América não enfrentou o Juventude pela Copa do Brasil. O vasco nunca mais perdeu. Olimpiadas canceladas. As escolas ficaram sem alunos. Os deputados e senadores passaram a fazer conferências de internet. Sem esquerda e direita no plenário, agora fala o que tá no meio da tela. Vereadores que fingiam que trabalhavam nas Câmaras passaram a cheirar calcinha na webcam. O povo anda mascarado pelas ruas e a imprensa conta quem morreu e quem adoeceu.
Para 2021, que já se aguarda, conforme diria Ulisses Guimarães, como o vigia espera a aurora é melhor não se criar fantasias de felicidade. Nada nunca é tão ruim que não possa piorar. Finjamos que 2020 até teve coisas boas para não agourar 2021. Quem sabe assim o meteoro da Marília Mendonça não se desvia para Marte.



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