A pandemia continua a ceifar milhares de vidas no Brasil. Centenas de famílias são atingidas diariamente pelo novo coronavírus. Neste momento, o país já vai a caminho das 30 mil mortes e do meio milhão de pessoas infetadas pela covid-19. É uma tragédia. O pior é que à pandemia junta-se um desastre político, econômico e social chamado Bolsonaro
por Alfredo Prado
Milhares de dramas que o presidente finge ignorar. Bolsonaro dedica-se à equitação, exibindo-se para chamar a atenção dos apoiadores que têm ido aos domingos, em romaria, à Praça dos Três Poderes, em Brasília.
A exibição equestre a que se dedicou domingo (31) foi pobre. Ficou visto que a arte de bem cavalgar não é propriamente um atributo de Bolsonaro. Assim como, já se viu, está longe de ter as qualidades necessárias a um chefe de Estado, tais como espírito de unidade nacional, capacidade de diálogo, prudência, contenção verbal, honestidade política, respeito intelectual e conhecimento. Tudo o que já se sabia não ter mas que ficou sobejamente comprovado na reunião ministerial de 22 de abril.
Ter passado mais de duas décadas a caminhar pelos corredores da Câmara dos Deputados, recebendo generosamente o dinheiro dos contribuintes sem que tenha dado ao país qualquer contributo significativo na área legislativa, não me parece que seja uma qualidade ou sequer atestado de qualquer tipo de competência. Mas, enfim, o povo é soberano e, por vezes, equivoca-se. Quando tal acontece, paga caro.
O facto é que, ao fim de todos esses anos, primeiro como tenente fracassado do Exército e depois como parlamentar, Bolsonaro tornou-se o primeiro mandatário do Brasil.
Ano e meio após ter sido eleito, o presidente tem-se destacado não pela liderança política, pela capacidade de apontar rumos ao país, ou por impulsionar o diálogo nacional, mas por intervenções geralmente provocatórias, objetivamente fraturantes, que parecem visar a instalação do caos institucional no país.
À tragédia da pandemia, instalada de norte a sul, com um Ministério da Saúde ineficiente e entregue a um general, que ignora recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), junta-se a tragédia de um país empurrado para o desastre econômico e social por um governo incapaz, que perdeu a autoridade moral e política, que, na realidade, nunca teve, face aos governos estaduais e municipais e face aos poderes legislativo e judiciário, que o presidente da República parece apostado em provocar diariamente.
Neste quadro de desestabilização, coloca-se a pergunta: o presidente da República conseguirá exercer o seu mandato até às eleições presidenciais em 2022, ou o povo e os seus representantes terão de o destituir, de acordo com as regras previstas constitucionalmente? O grupo de generais reservistas que embarcou na aventura bolsonarista procura dar cobertura e colocar panos quentes nas diatribes presidenciais. Talvez pensem que, afinal de contas, para própria defesa ou benefício, o que lhes resta fazer seja tentar manter Bolsonaro dentro dos limites estritos dos deveres constitucionais. A entrevista do vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, publicada hoje (01) pelo jornal Valor Econômico, deixa transparecer as dificuldades que Bolsonaro cria ao seu próprio governo.
A tentativa desesperada de Bolsonaro comprar apoios políticos no Congresso em troca de altos cargos em serviços e instituições da União pode dar algum alento, por algum tempo, ao presidente da República, mas dificilmente conseguirá manter tais alianças, assentes na venalidade. Outros já o tentaram e deram-se muito mal. O Brasil precisa de um governo capaz de unir e não de um governo que parece apostado no caos e na destruição das instituições democráticas.



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