Para não sofrer, trabalha. Sempre que puderes diminuir o teu tédio ou o teu sofrimento pelo trabalho, trabalha sem pensar. Parece simples à primeira vista. Eis um exemplo trivial: saí de casa e sinto que as roupas me incomodam, mas com a preguiça de voltar atrás e mudar de roupa continuo a caminhar. Existem contudo muitos outros exemplos. Se se aplicasse esta determinação tanto às coisas banais da existência como às coisas importantes, comunicar-se-ia à alma um fundo e um equilíbrio que constituem o estado mais propício para repelir o tédio.
Eugène Delacroix, in 'Diário'
Estamos aqui mais uma vez para vos levar um poema elaborado pela poetisa Constância Uchôa a partir de uma notícia. São tantas notícias. No mundo da internet a notícia flui incessante, instantânea e de rápida diluição.
Aparelho exclusivo para uso
Do pinguim solitário australiano,
E o roteiro adequado para idade
Com estudo do caos cotidiano.
Está preso o pinguim só por enquanto
E esse povo daqui sofrendo tanto,
Quem irá libertar do desengano?
(Constância Uchôa)
Saibam que na Austrália, destacou o Portal UOL, um Pinguim passa a quarentena a assistir desenho. A poetisa divaga sobre se nesta quarentena, em um país como o Brasil, profundamente marcado pela miséria, inclusive moral, as crianças tivessem direito a cuidados mínimos como proteção à sua integridade física e psíquica não diminuiriam as consequências deste período de liberdades individuais tolhidas.
***
Em variante francesa,
Pierre lá na Austrália
Faz parte da animália
Que no mundo está presa;
Pro zoológico resgatado,
Pois ele fora encontrado
Triste, sozinho e com ais
E o jornal inglês tem dito
Que o pinguim anda aflito
Vendo os outros animais.
É que através de canais
Em mundos tão divididos
Ele vê bichos a mais
Lá nos Estados Unidos,
Escócia também é vista,
Tem desenho em sua lista,
Animação com pinguins.
Tá doente em quarentena,
Oh processo que dá pena
Quando as penas estão ruins.
(Constância Uchôa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário