O Brasil só terá esses 6 milhões de doses, talvez mais 2 milhões da Oxford indiana, porque o presidente e o Ministério da Saúde desdenharam as recomendações da OMS e não fizeram acordos para garantir grande volume das vacinas prontas da Índia, nem dos insumos da China para a fabricação do imunizante.
O Butantan tem capacidade de fabricar 1 milhão de doses diariamente, e a Fiocruz está pronta para um volume expressivo. Em conjunto dariam conta de imunizar a população toda em um ano, com duas doses. Mas essa capacidade instalada que custou tanto esforço e despesas vai ficar ociosa sem os insumos. O pesadelo da Covid vai continuar indefinidamente. Já começou nas clínicas particulares uma histeria de salve-se quem puder e a negociação para comprar 5 milhões de doses da Índia, desmoralizando o SUS, o grande orgulho da saúde pública no Brasil. O Governo Federal vai aceitar a acusação de negligência e omissão, para ocultar sua verdadeira intenção, que é criar mercado para negociatas.
O que vai acontecer quando essa necropolítica ficar patente? Quando a população ver frustrada sua esperança de sair deste pesadelo? É de se prever que haverá tumultos, quebra-quebra em postos de saúde e possivelmente multidões enfurecidas avançando contra o palácio da Alvorada para confrontar o presidente e sendo alvejada pelos batalhões militares. O Planalto terá o pretexto para decretar Estado de Defesa e botar os Urutus nas praças.
Por outro lado, também vai haver uma revoada de jatinhos para Londres e Berlim, com a missão de comprar vacina a peso de ouro e trazer 30 mil doses para vender por R$ 10 mil cada uma para quem puder pagar. Pilotos dos voos internacionais vão passar com grandes malas térmicas como se fossem só suas cuequinhas. O mercado negro vai fazer fortunas da noite para o dia. Vai ter também camelô vendendo vacina falsa do Paraguai e sessões de vacinação espiritual nos templos dos pastores espertalhões.
Sobre as vacinas que entrarem oficialmente a contagotas, vai haver pressão de todos os grupos de poder político, judicial e policial para reservar para si e seus entes queridos as preciosas doses que chegarem ao Brasil. Um movimento assim já foi detectado no Supremo e no Ministério Público. Se ainda houver imprensa, todo dia haverá uma denúncia da burguesia pagando propina para furar a fila dos idosos e dos prioritários. O Brasil, que sempre se orgulhou de sua competência para organizar campanhas universais de vacinação, vai passar mais essa vergonha mortal. Aí então os adversários do SUS vão aproveitar para divulgar fake news e intensificar seus ataques para ver se acabam de uma vez por todas com o Sistema Único de Saúde. Saúde de graça pra pobre? Isso é coisa de comunista!
Márcio Metzker, jornalista e escritor, vive em Belo Horizonte



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