O presidente do Brasil parece a antítese do homem dos sete ofícios. Procura tocar tudo, mas em tudo se mostra incompetente. O grande problema é que a incompetência presidencial não afeta exclusivamente o próprio, mas todo o país. Daí ao desespero e aos comportamentos erráticos vai um passo. O fã confesso de Trump, agora sem o conforto do grande amigo dos “States”, que, em boa verdade, nunca lhe deu grande confiança, está, a meio do mandato, mergulhado num poço de incertezas.
No meio a uma pandemia, agravada pela irresponsabilidade governamental e pela incontinência verbal do presidente da República – que desde há um ano se multiplica em declarações que minimizam os riscos da doença, recomendando ainda “mezinhas” contrárias ao conhecimento científico e às indicações dos organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) -, o Brasil sofre no dia-a-dia a delapidação das suas riquezas e caminha para crescente empobrecimento que poderá levar décadas a superar.
Nos últimos dias, face a uma nova onda da covid-19, que já atinge grande parte do país, Bolsonaro desdobra-se em anúncios que, ao mesmo tempo que procuram iludir a população com medidas populistas, como promessas inconsequentes de baixar os preços de combustíveis ou da eletricidade, mudando os manda-chuvas de empresas estatais que ele próprio nomeou, visam camuflar o descrédito do governo.
Sem condições para levar por diante um grosseiro plano econômico neoliberal, gizado pelo seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que passou de guru presidencial à desgraça palaciana, isolado internacionalmente, viúvo de Trump, Jair Bolsonaro denota, nas suas falas, não apenas falta de preparação para o cargo, o que é reconhecido por todos os quadrantes políticos, mas também falta de visão.
As suas mais recentes declarações, para anunciar a demissão do presidente da estatal Petrobras e a sua substituição por mais um general na reserva, deixam a nu o aumento de desespero do presidente face ao desgaste de um Executivo a braços com as suas próprias contradições. Um governo que gira em torno do grupo de generais que embarcou na aventura bolsonarista e que parece não saber como recuar.
Neste quadro, Bolsonaro vai proclamando medidas avulsas, erráticas, que, objetivamente, trazem ao país maior instabilidade política, social e econômica.
Os problemas do Brasil não se esgotam na pobreza e extrema pobreza que atingem pelo menos 65 milhões de pessoas (IBGE, 2020), na pandemia que já ceifou quase 250 mil vidas, no sucateamento da saúde pública e do ensino público, nos crimes ambientais, no desmatamento da Amazônia, na violência que se agiganta nas grandes metrópoles, no despreparo das forças de segurança pública, na corrupção. Os problemas não se esgotam no desemprego galopante, na habitual queda das bolsas sempre que Bolsonaro fala, na depreciação da moeda, nem na fuga de capitais e esvaziamento dos investimentos, apesar das promessas de reformas neoliberais, em geral tão do agrado de investidores e especuladores. Os problemas do país estão centrados no Palácio do Planalto, sem rumo e incapaz de governar.
Um cenário desastroso que Bolsonaro parece acreditar ser terreno propício ao reagrupar de seguidores que, como indicam recentes pesquisas de opinião, tem vindo a perder. Apesar de todas as suas fragilidades, frequentemente embrulhadas em discursos marcados pela fanfarronice, como quando se ufana da sua “coragem”, ao dizer esta semana que não lhe falta “coragem” para “fazer trocas de peças” em cargos governamentais, o presidente da República tem entendimento suficiente para prever que o seu futuro político é sombrio. Tendo disso ciência, parece apostar na instabilidade como o caminho que lhe resta para tentar a reeleição e, com ela, a possibilidade de blindagem face às responsabilidades que lhe serão imputadas, mais cedo ou mais tarde.



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