A CPI da Pandemia ainda dá os primeiros passos. A sua existência, graças a decisão nesse sentido do Supremo Tribunal Federal, tem por objetivo verificar o que o governo do presidente Bolsonaro fez e não fez para enfrentar a doença, que já vai a caminho do meio milhão de vítimas mortais. Será muito difícil o governo Bolsonaro apresentar e provar, nesta área, seja o que for de positivo.
por Helder Castro
Com ou sem CPI, um dado está adquirido: o presidente da República tem trabalhado incansavelmente para sabotar as medidas de prevenção recomendadas pela generalidade dos organismos internacionais e por personalidades e entidades públicas do país.
Enquanto médicos, epidemiologistas e outros especialistas recomendavam, alertavam e pediam aos brasileiros que usassem máscaras, que mantivessem o distanciamento físico, que não participassem de aglomerações, Sua Excelência o presidente passeava-se por Brasília, por quartéis, por escolas, por praias, a pé, de carro, montado em cavalo ou em moto aquática, desrespeitando as normas indicadas pela OMS e pelos cientistas brasileiros.
Para esta semana está prevista a ida ao Senado do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde e zeloso cumpridor das ordens de Bolsonaro. O general vai blindado por decisão do Supremo Tribunal Federal que lhe permite ficar em silêncio perante as perguntas mais ou menos incómodas dos senadores. Mas, não respondendo ou respondendo, dificilmente o general conseguirá explicar a inércia ou a obstrução à adoção de medidas que poderiam ter limitado as trágicas consequências da covid-19.
As mais recentes declarações do presidente do Brasil têm refletido a sua crescente fragilização política. As pesquisas de opinião vindas a público nos últimos dias, designadamente a pesquisa do Instituto DataFolha, mostram que Bolsonaro está a pagar caro as suas fanfarronices políticas e o descalabro da sua governação, em todas as áreas.
O desgaste do presidente e dos militares e civis que o acompanharam na aventura palaciana é visível e cada dia que passa torna-se mais evidente o seu crescente isolamento. O que ainda irá fazer Bolsonaro para tentar a reeleição em 2022 é uma incógnita. Um percurso que se antevê tumultuado e cheio de ameaças à democracia. Os “bolsonaristas” e, entre eles, os grandes patrões já dão sinais de impaciência. Dificilmente Bolsonaro conseguirá retirar qualquer capital político da CPI da pandemia. Mas, como sempre acontece, de uma CPI sabe-se como começa, mas dificilmente sabemos como termina.



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