Uma semana sombria em Caicó

Os crimes e as más vidas dão-nos a medida do fracasso de um Estado. Todos os crimes são, afinal, o crime de uma comunidade. (Wells , H. G.)

Ainda estamos na quinta-feira e a cidade de Caicó pode dizer que teve uma semana sombria, algo que se não despertar uma intensa reflexão enquanto sociedade restará demonstrado que já passamos da civilização à barbárie.

No momento em que um programa de rádio debatia a demolição de um prédio histórico da cidade, como se fosse uma palhoça sem qualquer significado e ao arrepio da legislação municipal, chega a notícia de um comerciante assassinado dentro do seu estabelecimento comercial como vingança por no dia anterior impedir que criminosos lhe roubassem.

O povo brasileiro sempre viveu na desgraça e sempre soube fazer troça disso. Na cidade de Macaíba, também no Rio Grande do Norte, existe um ponto turístico resultante da perfuração de uma pedreira denominado Poço do Eco, a cratera inundada pela água formou um belíssimo lago. Pois bem, uma vez uma macaibana que retornava à cidade perguntou a outra se ao visitar referido lugar já se podia levar o celular ou se se fizesse isso "os donos levavam". Os donos são os bandidos. Você tem a posse do celular mas a propriedade é do criminoso. Veja que situação miserável.

A lei é a civilização, fora dela chegamos à barbárie. Lei de preservação do patrimônio histórico. Lei natural de defesa da propriedade e a lei de punir o roubo. Nenhuma funcionou. O Brasil passa por uma precariedade do direito à propriedade, o que criou a civilização. Compra-se, por exemplo, um celular, mas tem-se apenas a posse, os donos são os criminosos. Veja-se que situação, mesmo sendo o imóvel demolido um bem privado: o Estado deve proteger a vida e a propriedade, não fez no caso do comerciante. O Estado deveria proteger o patrimônio histórico, também não fez. É um fracasso civilizatório.